Antônio Martins dos Santos Filho, de 41 anos, tem duas passagens pela polícia e confessou ter participado do ataque em assentamento do MST
Ele é apontado pela investigação como o mentor do crime. Além de dois militantes do movimento mortos, outras seis pessoas ficaram feridas. Segundo a polícia, Nero confessou ter participado do ataque e repassou informações para ajudar na localização de outros envolvidos.
“Ele está indicando onde podem ser encontradas as demais pessoas. Além de ter confessado, ele foi reconhecido por algumas vítimas e testemunhas”, afirmou o delegado Marcos Ricardo Parra, da Delegacia Seccional de Taubaté.
Nero do Piseiro, 41 anos, nasceu em Petrolina (PE) em 4 de maio de 1983. Antes de ser preso, ele registrava duas passagens pela polícia.
A Polícia Civil trabalha com a hipótese de que o crime decorreu de uma briga interna relacionada à venda de um lote dentro do assentamento. Segundo Parra, o ataque não teria o MST em si como alvo.
“Se desentenderam com uma questão local, nada relacionado com o movimento ou com invasão e de defesa de terra. A intenção do grupo não era tomar posse. Era uma cobrança no sentido de que [alguma] pessoa não estava aceitando a negociação. Foi uma desinteligência totalmente fora de controle por motivos internos da organização do assentamento”, afirmou o delegado em coletiva de imprensa neste sábado.
A investigação ainda busca entender se o próprio Nero seria se interessado na compra do lote ou se seria um intermediário.
Segundo a polícia, enquanto o grupo do suspeito chegou no local carregado de armas de fogo, integrantes do movimento que foram “proteger” o terreno estavam equipados apenas com armas brancas e equipamentos agrícolas.
“Como assentamento fechado que é, eles têm um entendimento de existir concordância para a admissão de pessoas novas no local. Essa concordância não teria acontecido na comercialização do terreno. O Nero e seu grupo estavam lá, num primeiro momento, para intimidar. Como houve uma repulsa da presença deles, houve o confronto”, disse o delegado.
Neste sábado, o dirigente nacional do MST, Gilmar Mauro, afirmou que o ataque foi feito por uma “milícia com arsenal armamentista muito forte”.
“As famílias estavam lá para impedir a entrada dessa milicia, mas foram abordadas com um arsenal armamentista muito grande, por sorte não morreu mais gente”, afirmou Mauro em vídeo postado nas redes sociais do MST.
O dirigente disse ainda que a região é alvo de interesse do mercado imobiliário local “com objetivo de transformar os assentamentos em áreas de condomínios e de especulação imobiliária”. “Obviamente, há utilização de forças das milícias para fazer a execução e o massacre que fizeram ontem no assentamento”, disse Mauro.
O que aconteceu:
- Segundo o MST, homens armados teriam invadido o assentamento Olga Benário por volta das 23h dessa sexta-feira (10/1).
- No momento do ataque, 10 pessoas, entre crianças e idosos, estavam no local. Duas morreram e seis ficaram feridas.
- Os mortos foram identificados como Valdir do Nascimento, conhecido como “Valdirzão”, 52 anos, e Gleison Barbosa de Carvalho, 28.
- Outros dois feridos foram internados em estado grave. Ministros do governo Lula (PT) lamentaram o episódio e cobraram punição aos envolvidos.
- Em ligação, Lula expressou solidariedade às vítimas e prometeu uma visita à região.
- O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) enviou um ofício à Polícia Federal (PF), neste sábado (11/1), determinando a abertura de um inquérito para apurar o ataque.
- De acordo com o MJSP, uma equipe da PF, composta por agentes, perito e papiloscopista, se deslocou ao local do ataque para investigar a ação. Por Vinícius Passarelli e Renan Porto / Metrópoles.