
Ela pintava um quadro sombrio da falta de perspectivas e de um futuro promissor para as novas gerações no Brasil.O que ninguém poderia imaginar na virada do milênio era que, décadas depois, a mesma mensagem continuaria ecoando com uma assustadora precisão, comprovando a natureza cíclica e não resolvida dos problemas sociais do país.
Diante dessa atualidade involuntária, nasceu um projeto inovador para resgatar e recontextualizar a canção. Sob a batuta do produtor Patrick Lira de Brito, “Jovens” ganhou uma nova roupagem. A estrutura harmônica e melódica original foi preservada, mas recebeu uma nova instrumentalização, moderna e atmosférica. O elemento mais precioso da gravação de 1999, no entanto, foi mantido: a voz crua e autêntica do cantor Karika, servindo como um elo temporal entre o passado e o presente.
A verdadeira revolução, porém, aconteceu na concepção do videoclipe. Patrick Brito, que também assumiu a produção e edição das imagens, optou por utilizar inteligência artificial como ferramenta principal. O roteiro, idealizado em parceria com o músico e proponente do projeto, Vilsione Alves Serra, ganhou vida através dos rostos de pessoas reais. O videoclipe conta com a presença marcante dos músicos que trouxeram a nova versão à vida. No palco virtual, aparecem Marlon Rebouças na guitarra, Diego Real na bateria, Vilsione Serra no contrabaixo, Vincent Serra na guitarra e o icônico Karika nos vocais, cuja performance vocal original é o coração do projeto. Completando o elenco, Lorena Almeida assume um papel simbólico duplo, interpretando as figuras mitológicas de Têmis, a deusa da justiça, e uma Feiticeira, acrescentando camadas de significado à narrativa visual sobre justiça social e ilusão.
O projeto, viabilizado com recursos do Plano Nacional Aldir Blanc e com o apoio da Prefeitura Municipal de Medeiros Neto, vai além de um simples relançamento. É um documento histórico e artístico que funde o passado e o presente, utilizando a tecnologia de ponta para criticar a estagnação social. A voz de 1999 dialoga com as imagens geradas no hoje, criando um potente paradoxo sobre o tempo que passou, mas não passou.
Em entrevista ao Liberdade Notícias, Vilsione Serra, a mente por trás da iniciativa, revelou que este projeto é apenas o primeiro passo de um plano maior. Ele declarou sua intenção de relançar a banda Alcatraz em uma nova versão futuramente, sugerindo que o resgate de “Jovens” é o reacender de uma chama. Isso indica que a crítica social iniciada nos anos 90 está longe de ser arquivada e pretende continuar ecoando. Dessa forma, o videoclipe de “Jovens” se torna mais do que um produto cultural; é um símbolo de resistência. Ele prova que algumas lutas não envelhecem, e que a arte, quando aliada à inovação, encontra novas maneiras de perturbar consciências e questionar realidades. A música que nasceu para falar da falta de futuro no passado, renasce agora para questionar: por que ainda estamos aqui?