De acordo com o Ministério da Saúde, até 21 de novembro, 739 casos suspeitos de microcefalia foram notificados em todo o Brasil. Concentrado especificamente na região Nordeste, já atingiu 160 cidades de nove estados, sendo Pernambuco o detentor do maior número – 487. Em uma semana, o Ministério da Saúde apontou para o aumento de 85% dos registros de microcefalia, também em mais regiões, subindo de 55 para 160 cidades e chegando ao centro-oeste do país.
A maior suspeita da doença está relacionada ao Zika vírus, cuja identificação em território nacional é datada desde abril. Transmitido pelo Aedes aegypti, vetor comum da dengue e da febre chikungunya, sua circulação foi comprovada nos 18 estados brasileiros nos quais já foram notificados caso autóctones nos últimos meses.
Além da identificação de evidências de que o vírus Zika teria a capacidade de atravessar a barreira placentária e, portanto, ter potencial de causar infecção intraútero do feto, há uma nítida associação temporal e geográfica entre a detecção da circulação epidêmica do Zika vírus nos estados do Nordeste e o significativo aumento da incidência de casos de microcefalia. Outra evidência que aponta para uma possível relação causal do Zika vírus com o risco de microcefalia é o fato de que uma significativa proporção de mães cujos filhos vieram a nascer com microcefalia relatou quadro clínico de febre exantema – sintomas descritos e esperados na doença causada pela vírus Zika – em algum momento da gestação.
Érico Arruda, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirma que ainda não se sabe como o vírus exerce seu efeito patogênico para chegar à microcefalia. “É possível que exista algum efeito direto sobre o cérebro, causando danos sobre o desenvolvimento, tornando-o menor e com falhas em sua estrutura tecidual”.
Aedes aegypti e gestação
O infectologista Rodrigo Angerami, coordenador do Comitê Científico de Doenças Emergentes da SBI, informa que não é a primeira vez que o mosquito transmissor é relacionado a complicações na gestação. No caso da dengue, há complicações descritas em infecção durante a gestação, dentre as quais se incluem o risco de hemorragias intrauterinas, trabalho de parto prematuro e, em algumas situações, óbito fetal. Em relação ao vírus Chikungunya há a descrição de casos de retardo do desenvolvimento neuropsicomotor em crianças nascidas de mães infectadas por esse vírus durante a gravidez.
Sobre o Zika vírus
O vírus Zika (genoma RNA) é da família Flaviviridae e do gênero Flavivirus; em humanos, causa a doença conhecida como Febre Zika. Encontrado nos macacos em 1947, habitantes da Floresta Zika, em Uganda, contaminou os primeiros seres humanos em 1952, no leste africano. Chegando à Ilha de Yap e outras ilhas próximas da Micronésia, em 2007, e na Polinésia Francesa, em 2013, teve surto no Brasil a partir de abril de 2015, atingindo principalmente a Bahia, onde foram registrados 62.635 casos.
É caracterizado por uma doença febril aguda, autolimitada, que, geralmente, não se associa a manifestações mais graves. Quando sintomática, causa febre baixa, exantema maculopapular, artralgia, mialgia, cefaleia, hiperemia conjuntival e, menos frequentemente, edema, odinofagia, tosse seca e alterações gastrointestinais, principalmente vômitos.
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