Chefe da AGU é visto por ministros do Supremo como favorito para a vaga deixada por Barroso, enquanto Rodrigo Pacheco tenta ampliar apoio político

247 – A disputa pela nova vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), aberta com a aposentadoria de Luís Roberto Barroso, movimenta o meio jurídico e político em Brasília. Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, ministros da Corte avaliam que o chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, desponta como o nome mais cotado para ser indicado pelo presidente Lula (PT), sobretudo pela relação de proximidade e confiança construída entre ambos ao longo dos anos.
Nas duas indicações anteriores de Lula ao Supremo — Cristiano Zanin e Flávio Dino —, a escolha recaiu sobre nomes com forte vínculo pessoal com o presidente. Zanin foi o advogado que defendeu Lula durante o período de perseguição judicial que resultou no golpe de Estado contra Dilma Rousseff, e Dino, seu ex-ministro da Justiça, é um dos principais aliados políticos do governo. Essa trajetória reforça a percepção, dentro e fora do Judiciário, de que a lealdade continua sendo o critério central nas decisões do presidente sobre o STF.
Messias, o candidato da confiança e da discrição
De acordo com um ministro do STF ouvido pela Folha, Lula já teria dado sinais de que Messias seria o próximo nome na fila para o Supremo, ainda durante o processo de nomeação de Dino. Discreto, o advogado-geral da União evita declarações públicas e mantém postura institucional enquanto o presidente avalia os cenários políticos.
Formado e doutor pela Universidade de Brasília (UnB), Messias defendeu recentemente uma tese sobre o papel da AGU no desenvolvimento nacional em um contexto de risco global. No mestrado, também na UnB, dedicou-se ao tema das compras públicas como instrumento de inovação, refletindo seu perfil técnico e sua preocupação com políticas de desenvolvimento.
Messias é visto como competente e leal, com bom trânsito entre magistrados e apoio de advogados próximos ao PT. O principal trunfo, no entanto, continua sendo a confiança pessoal do presidente Lula — um fator decisivo nas escolhas anteriores para o Supremo.
Pacheco aposta no diálogo com o Judiciário
Caso Lula opte por uma escolha mais política, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) surge como alternativa. Ele conta com apoio expressivo no Senado e o aval de ministros influentes como Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes. Desde que presidiu o Senado, Pacheco cultivou laços estreitos com o STF, aproximando-se de ministros e defendendo a harmonia entre os Poderes.
O senador também bloqueou tentativas de impeachment de magistrados e manteve presença ativa em eventos da Corte. No jantar de despedida de Barroso, em 24 de setembro, foi o único congressista convidado, além dos presidentes da Câmara e do Senado. Pacheco reforça seu perfil institucional à frente da comissão de atualização do Código Civil, projeto que mobiliza juristas e técnicos e é visto como um gesto de respeito ao meio jurídico.
Apesar disso, aliados de Lula lembram que o presidente planejava lançá-lo como candidato ao governo de Minas Gerais em 2026, o que pode pesar na decisão final.
Dantas e a pressão por uma ministra mulher
Entre os outros nomes citados está o do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, que também foi cotado na última vaga, ocupada por Flávio Dino. Dantas mantém boa interlocução com o Senado e o Supremo, mas é considerado menos provável neste momento.
Há ainda uma pressão crescente por maior representatividade feminina no STF. Desde a aposentadoria de Rosa Weber, Cármen Lúcia é a única mulher na Corte. Barroso é um dos que defendem publicamente que o próximo nome seja feminino, mas, segundo fontes próximas ao Planalto, Lula deve manter o foco na confiança pessoal — especialmente após ter nomeado mulheres para o STJ e o STM recentemente.
Decisão será tomada após retorno de Lula da Itália
De acordo com a Folha de S.Paulo, a definição deve ocorrer logo após o retorno de Lula da Itália, onde o presidente cumpre compromissos oficiais. Antes de anunciar o nome, ele pretende conversar pessoalmente com Barroso. No Planalto, há a avaliação de que o tema não deve se arrastar, para evitar pressões políticas e corporativas.
Enquanto o presidente não bate o martelo, Messias e Pacheco mantêm silêncio absoluto. Ambos evitaram manifestações públicas sobre a aposentadoria de Barroso e limitaram-se a enviar felicitações reservadas ao ministro.
Tudo indica que a decisão final refletirá o mesmo padrão das escolhas anteriores: Lula deve optar por quem ele confia plenamente, mantendo no Supremo um aliado de sua linha política e institucional.