A mentira e a política

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No mundo da política tudo leva a crer que a única verdade dos últimos séculos acabou se tornando a fonte de todas as mentiras. O célebre filósofo Nicolau Maquiavel, em pleno século XVI escreveu suas obras mais famosas: “O Príncipe” e a “Arte da Guerra”, que deveriam ser lidas por todas as pessoas e com base nelas, um pensamento ficou atribuído a ele que diz que “os fins justificam os meios”.
Ao dizer que “os fins justificam os meios” Maquiavel acabou despertando o sentimento, principalmente nos políticos (pois suas obras tinham um caráter político), de que pouco importa o que é feito para ganhar uma eleição, o importante e o que interessa é ganhar, custe o que custar. Pouco importa o quê e como vai ser feito; os meios por mais injustos, pragmáticos, mesquinhos, desumamos, antiéticos, justificam-se pela conquista do objetivo.
Assim, a mentira se torna uma arma letal e infalível. E ano após ano ela vem ganhando cada vez mais espaço no mundo político. Infelizmente ser político, entre outros adjetivos, também se tornou ser mentiroso, (sabemos que existem algumas poucas exceções). Um mentiroso por excelência, com perspicácia, que sabe como nunca ludibriar, enganar, sem nenhuma honradez.
No mundo político mentir virou hábito, costume, tornou-se a “regra” do jogo. Chegamos ao ponto de vivenciar, entre outras coisas, quem mente melhor, haja vista a importância dos marqueteiros nas campanhas. A mentira é tão bem dita que aparenta ser verdade, consegue ludibriar, tapear.
Até mesmo pensando em nós, os eleitores, será que votaríamos num candidato que fosse verdadeiro em suas propostas e convicções, que não enganasse, que não usasse máscaras?! Sou capaz de afirmar que um candidato com este perfil seria pouco votado e dificilmente conseguiria uma eleição.
Mas voltando ao cerne deste texto que é a mentira na política, passado praticamente um mês da posse dos novos administradores municipais mais uma vez ela parece reinar. A verdade dos fatos demonstra isto claramente, por exemplo, é só observar o conteúdo do discurso dos candidatos à reeleição que foram derrotados, como eles divulgavam a realidade do município por ele administrado; bem como as atitudes do candidato vencedor que começam a se distanciar das promessas de campanha. Confirmando mais uma vez a triste realidade da política brasileira, manifestada nos mais diversos municípios, com raríssimas exceções.
A ideia de que os “fins justificam os meios” parecem se enraizar com uma velocidade tremenda, e a mentira é o adubo deste enraizamento. E como todos nós sabemos quanto mais profundas as raízes mais difíceis de serem extirpadas. Por isso acredito, torna-se tão difícil de ser combatida, a mentira acaba sendo o ingrediente principal da busca pelo eleitor que está sedento por ser enganado ou que acaba caindo nas armadilhas do mentiroso.
Maquiavel dizia também que “um povo corrompido que atinge a liberdade tem maior dificuldade em mantê-la”. Lutamos pela democratização, conquistamos inúmeros direitos e a mentira embutida em todos estes discursos parece estar colocando tudo a perder. Pois corrompeu nossa consciência, nosso jeito de ser, nossa forma de querer conquistar as coisas. Nossa democracia está se mostrando um verdadeiro faz de contas, pois faz parte do contexto da mentira, e continua sendo alimentada pela mentira. Nossos ditos direitos nem se fala, temos tantos direitos que nem acreditamos neles mais, justamente porque não passam de uma grande mentira. Ou estou enganado? Temos de fato educação de qualidade, atendimento aos cuidados com a saúde, lazer, segurança pública e outras coisas mais que rezam a nossa dita democrática constituição?
Notamos então, que o caos da nossa política, que dá inveja a qualquer Pinóquio, também é fruto do caráter ou da falta dele, presente em cada discurso e ação da grande maioria daqueles que se dizem os representantes da vontade popular, portanto, dos políticos, os mestres da mentira, da arte de enganar.
Colaboração de Walber Gonçalves de Souza, professor e membro das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni.