Maiores cidades de Portugal enfrentam casos de violência e ligam alerta

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Arredores do Jardim da Cordoaria, onde um brasileiro foi esfaqueado no Porto / Gian Amato/Portugal Giro

Por Gian Amato

As duas maiores cidades de Portugal enfrentam casos da violência este mês. Confrontos, assassinatos, esfaqueamentos, inclusive de um brasileiro, roubos e tumultos nas ruas de Porto e Lisboa, onde milhares se reúnem à noite, fizeram as autoridades policiais, políticos e empresários ligarem o alerta e tomarem medidas. Um bairro da capital decidiu fechar bares e restaurantes às 23h, de ontem até domingo.

A escalada de crimes teve início após o relaxamento das medidas restritivas para o combate à Covid-19. Ainda que a proibição do consumo de álcool na ruas esteja em vigor até 1º de outubro, milhares de pessoas bebem sem repressão em aéreas boêmias dos centros. Importado da Espanha, o fenômeno é conhecido como “botellón”.

Em uma destas zonas, no Jardim da Cordoaria, no Porto, região bem servida de bares em seu entorno, um brasileiro foi esfaqueado três vezes no peito na madrugada do último domingo. A imprensa portuguesa tem noticiado o caso como uma disputa entre grupos rivais. O brasileiro foi levado para o Hospital de Santo António. Moradores dizem que os tumultos são recorrentes, começam na área e podem se multiplicar pelo centro histórico.

Prefeito do Porto e candidato independente à reeleição no próximo domingo, Rui Moreira disse esta semana, durante a campanha, ter alertado o Ministério da Administração Interna (MAI) e cobrado mais policiamento.

– A Direção Geral da Saúde (DGS) tem que articular com o Ministério da Administração Interna e com o comando da polícia. Estamos tendo um botellón como nunca tivemos na cidade do Porto – disse Moreira, que descartou voltar a cercar com grades áreas públicas da cidade, como o Jardim das Virtudes, um mirante com vista para o Rio Douro.

Em Lisboa, desde ontem, os empresários dos bares de Santos fecham suas portas às 23h (três horas mais cedo) para evitar violência e aglomerações em uma região que reúne cerca de três mil pessoas nas madrugadas dos finais de semana.

Querem evitar o que aconteceu dias atrás. Era o começo da manhã do último domingo quando um homem foi esfaqueado na estação ferroviária de Santos após um desentendimento durante a madrugada. A Polícia Judiciária (PJ) está investigando.

O objetivo desta medida experimental, que vai até domingo, é facilitar o trabalho das forças de segurança da Polícia de Segurança Pública (PSP) na madrugada. Não somente na região, mas em pontos problemáticos do Bairro Alto e Cais do Sodré, onde um homem foi assassinado com dois tiros na madrugada do dia 12.

Uma reportagem publicada no diário “Nascer do Sol” informou ter ouvido de fonte policial que existe uma disputa entre grupos rivais brasileiros e africanos pelo controle do tráfico de drogas, armas e prostituição em Lisboa. O jornal publicou que, além do assassinado no Cais do Sodré, outro homem foi morto a facadas no Bairro Alto e seis ficaram feridos.

A PSP e a PJ foram procuradas, mas não responderam. As autoridades, de maneira geral, dizem que não há aumento dos índices de criminalidade. O Portugal Giro também consultou o MAI, mas uma fonte do órgão disse desconhecer a informação de guerra de traficantes brasileiros e africanos por território.

No entanto, uma possível rota de tráfico entre Brasil e Portugal está sob vigilância. A PJ instalou estea ano uma equipe permanente no aeródromo de Tires, em Cascais, zona metropolitana de Lisboa. É por ali que chegam os os jatos particulares. Um deles tinha Tires como escala na rota para Bruxelas, na Bélgica, e carregava 24 malas com 1,3 mil quilos de cocaína, quantidade avaliada em € 60 milhões. Foi interceptado em agosto no aeroporto de Fortaleza pela Polícia Federal (PF).

Outro caso este ano foi a apreensão pela PF, em fevereiro, em Salvador, do jato de uma empresa portuguesa que carregava 587 quilos de cocaína. Já em Tires, funcionários do aeródromo português ainda encontraram mais droga escondida na aeronave.

Portugal visto de dentro por um jornalista carioca: notícias e dicas de oportunidades no país cobiçado pelos brasileiros.

Quem escreve

Gian Amato

GIAN AMATO

Jornalista há mais de 20 anos, fez diversas coberturas internacionais por O Globo. Escreve de Portugal desde 2017 para o jornal e outros veículos brasileiros e portugueses. Sempre como repórter. O Globo