Explosões em Doha marcam retaliação iraniana após bombardeios americanos a instalações nucleares
Na manhã desta segunda-feira, 23 de junho de 2025, o mundo acompanhou com apreensão a escalada do conflito no Oriente Médio após o Irã realizar ataques com mísseis balísticos contra uma base militar dos Estados Unidos em Doha, no Catar. Explosões foram reportadas na capital catari, e o espaço aéreo do país foi temporariamente fechado, segundo autoridades locais e postagens em redes sociais. A ofensiva é uma resposta direta aos bombardeios americanos contra três instalações nucleares iranianas no sábado, 21 de junho, que intensificaram as tensões na região.
Os ataques dos EUA, confirmados pelo presidente Donald Trump, atingiram os complexos nucleares de Fordow, Natanz e Isfahan, considerados centrais para o programa nuclear do Irã. Trump classificou a operação como uma “ação defensiva” para impedir o desenvolvimento de armas nucleares pelo regime iraniano, afirmando que as instalações sofreram “danos severos”. O Irã, por sua vez, nega que seu programa nuclear tenha fins militares e alega que conseguiu remover equipamentos estratégicos antes dos bombardeios.
No domingo, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, fez seu primeiro pronunciamento público desde os ataques americanos. Em uma postagem na rede social X, acompanhada de uma imagem de um crânio com a estrela de Davi sobre prédios em chamas, Khamenei declarou: “O inimigo sionista cometeu um grande erro, um grande crime; deve ser punido — e está sendo punido. Está sendo punido agora mesmo”. Embora não tenha mencionado os EUA diretamente, a referência a “inimigo sionista” é amplamente interpretada como uma crítica a Israel e seus aliados, incluindo Washington.
Contexto do conflito
O ataque iraniano à base americana no Catar, a Al Udeid, que abriga milhares de tropas dos EUA, marca uma nova fase no conflito que já envolve Irã, Israel e, agora, os Estados Unidos. A base é um ponto estratégico para operações militares americanas no Oriente Médio, utilizada desde os ataques de 11 de setembro de 2001 contra alvos no Afeganistão. Postagens no X relatam que o Irã também teria mirado bases americanas no Iraque, embora não haja confirmação oficial até o momento.
O conflito direto entre Irã e Israel teve início em 13 de junho, quando Israel lançou ataques contra instalações nucleares iranianas, incluindo Fordo, justificando a operação como uma medida para impedir o avanço de um suposto programa de armas nucleares. O Irã retaliou com mísseis balísticos contra cidades israelenses, como Tel Aviv, resultando em mais de 240 mortos e milhares de feridos nos dois países, segundo balanços oficiais. A entrada dos EUA na guerra, na semana passada, elevou o risco de uma crise regional de proporções globais.
Reações internacionais
A ofensiva iraniana no Catar gerou reações imediatas. O Ministério das Relações Exteriores do Catar alertou que as “tensões perigosas” podem levar a “repercussões desastrosas” na região e no mundo, pedindo moderação às partes envolvidas. O Egito e o Líbano também expressaram preocupação com o risco de uma escalada maior. Na ONU, o secretário-geral António Guterres classificou o bombardeio americano a instalações nucleares como uma “virada perigosa” e apelou por negociações diplomáticas.
O embaixador iraniano na ONU, Amir Saeid Iravani, chamou os ataques dos EUA de “violação flagrante” do direito internacional e afirmou que o Irã se reserva o direito de responder. O general Amir Hatami, comandante do Exército iraniano, reforçou que o país dará uma “resposta forte” aos ataques, citando histórico de confrontos com os EUA.
Enquanto isso, Israel intensificou seus bombardeios contra o Irã nesta segunda-feira, atingindo novamente a instalação nuclear de Fordo, segundo a agência iraniana Tasnim. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu elogiou a ação americana, afirmando que ela “mudará a história” ao enfraquecer o programa nuclear iraniano.
Impactos econômicos e estratégicos
O Parlamento iraniano aprovou no domingo o fechamento do Estreito de Ormuz, uma rota marítima crucial que conecta o Golfo Pérsico ao Mar Arábico e por onde passa cerca de 20% do petróleo mundial. A medida, que ainda depende da aprovação do Conselho Supremo de Segurança Nacional e de Khamenei, pode causar uma disparada nos preços do petróleo e agravar a crise energética global. Investidores já expressam preocupação com a possibilidade de retaliações iranianas, segundo o site InfoMoney.
A China condenou os ataques americanos, acusando os EUA de desrespeitar o direito internacional, e, junto com Rússia e Paquistão, propôs um cessar-fogo no Conselho de Segurança da ONU. No entanto, a iniciativa enfrenta resistência de membros permanentes, como os próprios EUA.
Análise e perspectivas
Especialistas apontam que a retaliação iraniana contra bases americanas pode ser apenas o início de uma série de ações. O Irã possui um arsenal de mísseis e drones, além de aliados regionais como os Houthis no Iêmen, que ameaçam atacar navios americanos no Mar Vermelho. A rede de grupos militantes conhecida como “Eixo de Resistência” do Irã, embora enfraquecida por conflitos recentes, ainda representa uma ameaça.
Priscila Caneparo, doutora em Direito Internacional, destaca que os EUA têm capacidade militar para neutralizar o programa nuclear iraniano, mas o custo político e econômico de um conflito prolongado pode ser elevado. “A entrada dos EUA expõe as fragilidades internas do Irã, mas também aumenta o risco de instabilidade regional”, afirmou ao G1.
O diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, alertou que os ataques a instalações nucleares violam o Tratado de Não Proliferação Nuclear e podem ter consequências ambientais graves. Ele pediu diálogo urgente para evitar uma catástrofe.
O ataque iraniano à base americana no Catar e as explosões em Doha sinalizam que o Oriente Médio está à beira de um conflito de maior escala. As ações militares dos EUA e de Israel contra o Irã, somadas às ameaças de retaliação de Teerã, criam um cenário de incerteza global. A comunidade internacional enfrenta o desafio de buscar uma solução diplomática em meio a tensões que podem impactar a economia, a segurança e a estabilidade mundial. Por Alan.Alex / Painel Político