Involução cultural

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Acabei de postar em Artigos de Convidados um texto do Olavo de Carvalho com o título “Em busca da cultura”. Recomendo-o enfaticamente. Nesse texto, o Olavo explicita muito bem um dos problemas fundamentais de nosso país. Nenhuma nação progride harmonicamente com uma elite do tipo que temos por aqui, fazendo a cabeça de nossos jovens em universidades que se arrastam nos patamares mais baixos do ranking mundial. A literatura técnica produzida pela nossa academia beira à indigência. É motivada pelo dever de cumprir metas mínimas e não por um mínimo cumprimento responsável do dever acadêmico. Uma universidade que coloca nas posições de liderança do país graduados que não têm gosto pela leitura produz acadêmicos que falam muito. E leem muito pouco. Portanto, sabem menos do que os mestres de seus mestres, jogam o conhecimento para trás e discorrem sobre o que mal entendem. Foi também assim que chegamos ao BBB.
Certa feita, um amigo questionou seu professor – padre católico – sobre os motivos de sua permanente recorrência ao pensamento marxista como chave interpretação para quaisquer fatos. O dito professor, surpreso, retornou com outra pergunta: “E a quem mais, haveria de recorrer, meu rapaz?”. Esse amigo, leigo fiel, não deixou por menos: “O senhor percebe, padre, que acabou de aplicar a Marx as palavras de Pedro a Jesus, quando os apóstolos foram perguntados, por este, se também O queriam abandonar – ‘Mestre, a quem iríamos nós?’”.
Nelson Rodrigues, recém-saído de grave enfermidade, consultado sobre a frase que selecionaria para seu epitáfio, afirmou: “Esse Marx foi uma besta”. E é essa besta que, com o discípulo italiano Antonio Gramsci, continua, através das décadas, fazendo a cabeça da suposta intelectualidade nacional.
Louvado seja, portanto, o trabalho desenvolvido por Olavo de Carvalho desde seu retiro na Virgínia. Assim, à distância, com seus cursos, acolhendo milhares de alunos, está fazendo muito mais que o conjunto de nossas universidades pela cultura brasileira e para a formação de uma elite digna desse nome.
Falou-me recentemente outro amigo diante das invectivas de Lula, por razões erradas, às “zelite” brasileiras: “Que mal existe, Percival, na existência de uma elite? Que mal há na atividade dessa elite a que o Lula dedica palavras tão ásperas? Esse mesmo senhor quer ver seu Coríntians na elite do futebol brasileiro. Doente, procura a elite médica do país. Com o prestígio em declínio, procura a elite dos publicitários. Aduzi eu: e para negócios, procura a elite dos vigaristas nacionais.
*Percival Puggina (70) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+ e membro da Academia Rio-Grandense de Letras.