Fundador da Prevent Senior: estudo não comprova eficácia da cloroquina

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Empresa é suspeita de ter ocultado, em pesquisa sobre a cloroquina, o número de mortes de pessoas em tratamento contra a Covid-19

Reprodução/YouTube Prevent Senior
O fundador da operadora de saúde Prevent Senior, Fernando Parrillo, afirmou que o estudo conduzido pela empresa não prova a eficácia do medicamento hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19.

A afirmação foi dita em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, veiculada nesta quinta-feira (23/9), um dia após o diretor-executivo da empresa, Pedro Benedito Batista Júnior, prestar depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado Federal.

empresa é suspeita de ter ocultado, em estudo sobre a cloroquina, o número de mortes de pessoas em tratamento contra a Covid-19.

A instituição, conforme revelou o Metrópoles, adotou o protocolo de administrar medicamentos – como cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina – sem comprovação de eficácia para o tratamento da Covid-19 com o acompanhamento do governo federal.

O protocolo foi desenvolvido com a ajuda de pelo menos um membro do “gabinete paralelo”, que aconselhou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na condução da pandemia.

Além disso, a operadora de saúde é acusada de ter coagido médicos para que adotassem o protocolo de aplicar as drogas em pacientes sem o conhecimento deles ou dos familiares.

“Não foi usado placebo nem duplo cego, não foi randomizado, como se deve fazer em trabalhos desse tipo. Não faria sentido fazer uma pesquisa no meio da pandemia. Somos uma empresa privada, paga para salvar vidas”, defendeu.
O empresário afirmou que não houve comprovação de que os medicamentos utilizados na pesquisa têm eficácia contra a Covid. Além da hidroxicloroquina, foram testadas substâncias como azitromicina, suplemento de zinco, potássio e vitamina D.
“O nosso artigo não prova que essas drogas funcionam porque, para isso, precisaria de pesquisa científica”, afirmou.
Adulteração de resultados
Questionado se houve adulteração dos resultados do estudo, Parrillo negou. O empresário afirmou que um médico demitido da organização entrou em uma planilha do sistema e alterou os dados.
Além disso, Fernando afirmou que não houve ocultação do número de mortes, diferentemente do que diz a CPI. De acordo com o estudo da Prevent Senior, ocorreram apenas dois óbitos. No entanto, dados obtidos pela comissão mostram que nove pessoas faleceram.

“Essas sete mortes ocorreram depois que o estudo estava fechado. O prazo de observação dos pacientes era de 26 de março a 4 de abril de 2020. Nesse período, dois pacientes faleceram, um de problemas cardíacos e outro de câncer”, justificou.

Outra acusação levantada pela CPI é de que a empresa teria alterado o Código Internacional de Doenças (CID) dos pacientes que faleceram de Covid. Nas certidões de óbitos, a causa da morte está relacionada a outras doenças, mas o prontuário das vítimas mostra que elas estavam acometidas pelo coronavírus.
Segundo Parrillo, a alteração foi realizada para que os pacientes pudessem deixar o isolamento. “Mudávamos o CID para a pessoa sair do isolamento. Depois desse período de 14 a 21 dias, é muito difícil que ela contamine alguém, sendo desnecessário ficar isolada”, disse.
Gabinete paralelo e tratamentos atuais

Apesar de vídeos e publicações nas redes sociais comprovarem que o governo federal recebia informações da Prevent Senior por meio do chamado gabinete paralelo, Parrillo negou qualquer relação com o presidente Bolsonaro.

“Eu nunca encontrei o presidente nem falei ao telefone com ele. Não me envolvo em política. Fiz várias lives nesse período, ele [Bolsonaro] pode ter tirado os dados de lá. Nise Yamaguchi já esteve nos nossos hospitais por causa de pacientes dela, mas ela não trabalha para nós”, afirmou. Por Rebeca Borges / Metrópoles