
Os fragmentos dos seres pré-históricos foram localizados na construção de uma galeria para escoamento da água da chuva na rodovia SP-294, entre as cidades de Irapuru e Pacaembu, e mobilizaram especialistas em Paleontologia e Biologia para a operação de retirada e de registro da história.
O primeiro pedaço a ser localizado, que estava em uma profundidade de cerca de 20 metros, foi a vértebra de um “dinossauro pescoçudo”, como são popularmente chamados os seres titanossauros do grupo Saurópode.
Herbívoros, estes animais podiam chegar a 20 metros de altura e cerca de 25 metros de comprimento, além pesar até 50 toneladas.
Os restos do “gigante” até chegaram a confundir os operários da obra.
“Eles estavam abaixo de 20m escavando, e foi em um trecho que estavam abrindo uma vala para passar a drenagem, a água da chuva”, relembra Gabriel Bispo, supervisor de Meio Ambiente da concessionária Eixo SP, responsável pelo trecho onde estavam os fósseis.
“Aí um dos trabalhadores falou: ‘gente, achei um osso de uma vaca’. Não, gente. Impossível ser um osso de uma vaca na profundidade que vocês estão escavando”, conta Bispo, rindo.
Além dos ossos de um Saurópode, a vala também revelou fósseis de dinos família dos Abelissauros, um dinossauro brasileiro “primo” do famoso T-Rex.
A notícia de que as obras de um pedágio poderiam possivelmente ter revelado pedaços perdidos da pré-história chegou até pesquisadores do Museu de Paleontologia Pedro Candolo, no município de Uchoa, a 300 quilômetros do local da descoberta.
“O primeiro fóssil que eles identificaram foi a vértebra do pescoçudo. Aí eles mandaram foto: ‘dá uma olhada que a gente tá achando que é fóssil de alguma coisa’”, afirma o paleontólogo Fabiano Iori.
“E a surpresa maior foi quando a gente foi pra lá, porque eles fizeram uma vala onde achou bastante coisa, estava muito concentrado. Então a hora que a gente chegou na obra e eles mais ou menos viram como que eram os fósseis, a gente saiu catando pela obra porque tinha sido escavado bastante rocha, então muita coisa estava presa na rocha e algumas já tinham sido retiradas”, completa ele.
As obras, então, foram paralisadas por mais de 15 dias e o local foi isolado para escavação completa. O material coletado na vala também inclui ossos, escamas e dentes de crocodiliformes, escamas de peixes, e restos de cascos e esqueletos de cágados.
Os fragmentos extraídos sugerem que, no Período Cretáceo, a região era formada por rios e lagos.
O território do interior paulista, segundo o paleontólogo, é um potencial celeiro de sítios arqueológicos. “Aqui no interior paulista a gente tem uma sequência rochas que depositaram no final do período Cretáceo, em especial as rochas daquela localidade, elas datam entre 90 e 80 milhões de anos”, explica Fabiano.
Na mesma rodovia, inclusive, já foram localizados outros fósseis nos anos 60, segundo o paleontólogo.
“Quando abriu essa rodovia pela 1ª vez, quando abriram a rodovia já apareceu algumas coisas. A importância aí é que a gente voltou depois de várias décadas e tivemos a sorte de encontrar uma amostra que num ponto só a gente encontrou vários bichos que falamos: ‘olha só a fauna que tínhamos aqui’”
Os fósseis foram levados para o Museu de Paleontologia de Uchoa, onde ficarão expostos na reabertura do espaço, atualmente fechado em cumprimento às medidas restritivas de combate à pandemia.
“Foi um trabalho que envolveu trabalhadores do setor de obras regional, maquinário, além de modificar o cronograma de construção da praça. É unânime entre as áreas consultadas de que conservar este recorte do patrimônio da humanidade era uma prioridade naquele momento”, afirma Gabriel Bispo.
Um fóssil de cervo pré-histórico foi descoberto no Campo Spósito, em São Pedro, norte da província de Buenos Aires. Nos últimos anos já foram encontrados 24 fósseis de mamíferos e répteis no local.