Operação da Polícia Civil revela planejamento frio e meticuloso; vítima foi morta um dia antes de assinar testamento que excluiria herdeiros
Quase dois anos após o brutal assassinato do fazendeiro e empresário Jefferson Cury, de 83 anos, em Quirinópolis, no sudoeste de Goiás, a Polícia Civil desmantelou uma rede de envolvidos no crime, motivado pela cobiça de uma herança avaliada em cerca de R$ 1 bilhão. Nesta quarta-feira (29 de outubro de 2025), dois filhos da vítima – Fernando Alves Cury e Eduardo Alves Cury – foram presos, junto com um corretor de imóveis e três funcionários, em uma operação batizada de Testamento. As prisões ocorreram em São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás, cumprindo 14 mandados de busca e apreensão. O inquérito policial deve ser concluído em até 30 dias, mas as investigações já apontam para um planejamento “intelectualizado”, comparável ao caso Suzane von Richthofen, segundo o delegado responsável.
O crime aconteceu na noite de 28 de novembro de 2023, por volta das 22h20, em uma propriedade rural às margens da GO-206, em Quirinópolis. Jefferson Cury e seu advogado foram abordados por atiradores. O fazendeiro foi morto com um tiro no rosto, enquanto o advogado sobreviveu após ser baleado na cabeça e fugir para uma área de mata, onde foi resgatado no dia seguinte. De acordo com as investigações, um dos suspeitos teria dito logo após os disparos: “Agora a dívida está paga”, em referência a um débito de R$ 1,7 milhão que o filho de um caseiro mantinha com o empresário, relacionado a uma disputa por venda de gado sem pagamento.
O delegado Adelson Candeo, da Polícia Civil de Goiás, detalhou o motivo central: a disputa pela herança bilionária. Jefferson planejava transferir todo o seu patrimônio – composto por vastas fazendas em Goiás e São Paulo – para uma holding, uma estrutura societária da qual os filhos não seriam sócios. A assinatura do novo testamento estava agendada para o dia 29 de novembro de 2023, apenas 24 horas após o assassinato. “Os filhos nunca tiveram relação afetiva com o pai, mas estavam ansiosos pelo dinheiro. É uma ânsia absurda por um patrimônio que ele construiu com muito trabalho”, afirmou Candeo em entrevista ao G1. Ele acrescentou: “Os filhos queriam dinheiro. Eles chegam a ajuizar uma ação de interdição 60 dias antes do crime e, como não conseguem a liminar que esperavam, a situação se agrava. O senhor Jefferson pretendia assinar um testamento repassando todo o patrimônio para uma holding, da qual os filhos não eram sócios. Ele é morto um dia antes de formalizar esse documento”.
Fernando Alves Cury, um dos filhos, foi preso em Barretos (SP), onde a polícia encontrou três armas de fogo irregulares do mesmo calibre usado no crime. Eduardo Alves Cury, de 55 anos, o outro filho, foi detido em Coxim (MS), no Rancho do Colin, enquanto pescava, em uma ação conjunta das polícias de Goiás e Mato Grosso do Sul.
Ambos receberam cerca de R$ 169 milhões cada na herança da mãe, em 2016, mas pressionavam o pai por mais recursos, com ameaças e hostilidade constantes. Os irmãos nem compareceram ao velório do pai e, segundo Candeo, um deles já assinava documentos de inventário enquanto a Polícia Militar ainda registrava a ocorrência do homicídio. “Eles sequer foram ao velório do pai. Enquanto a Polícia Militar ainda registrava a ocorrência, um dos filhos já assinava documentos do inventário. Isso mostra a ânsia absurda pelo patrimônio que Jefferson construiu ao longo da vida”, destacou o delegado.
Além dos filhos, foram presos um corretor de imóveis – que lucraria pelo menos R$ 50 milhões com a venda de fazendas após a morte de Jefferson e já havia embolsado R$ 12 milhões em uma única transação de revenda de terras herdadas pelos filhos – e três funcionários: um casal de caseiros e o filho deles. Esses últimos auxiliaram na logística do crime, repassando informações sobre os horários e rotinas da vítima. Os nomes do corretor e dos funcionários estão sob sigilo, assim como o de um afilhado da vítima, também envolvido no planejamento. O executor dos disparos permanece foragido e não identificado até o momento.
Candeo comparou o caso ao de Suzane von Richthofen, mas enfatizou o caráter “mais intelectualizado” do planejamento, impulsionado pela motivação financeira. “É um caso comparável a Suzane von Richthofen, mas de forma mais intelectualizada, pelo grau de planejamento e pela motivação financeira dos envolvidos”, disse o delegado. As investigações revelam que, após a falha na ação de interdição – ajuizada 60 dias antes do crime para declarar Jefferson incapaz –, ele revogou um inventário anterior que destinava 22 alqueires de terra a funcionários e prosseguiu com os planos de transferência patrimonial.
O caso expõe as tensões familiares em torno de fortunas construídas no agronegócio goiano, onde disputas por terra e herança frequentemente escalam para conflitos graves. A Polícia Civil de Goiás reforça que o patrimônio de Jefferson Cury, acumulado ao longo de décadas de trabalho árduo, agora está sob proteção judicial para evitar dissipação indevida.
Palavras-chave: herança bilionária, assassinato Jefferson Cury, filhos presos, Quirinópolis, Polícia Civil Goiás, disputa patrimonial, operação Testamento, fazendeiro morto. Por Alan.Alex / Painel Político



