Filho única de um pastor, Rafa Vilella se viu sem rumo ao perceber que era diferente de outros garotos. Como acontece com outros transexuais, ele não se encaixava no gênero masculino. Relutou, achou que fosse homossexual, morou fora e na volta decidiu que faria a transição. Obviamente, ela teve um embate religioso em casa. Saiu da asa dos pais e foi morar com uma amiga. O mundo da prostituição foi a opção para ela até que se casou com um cliente milionário. A relação durou dois anos e fim. Separada, Rafa chegou a ter uma overdose. De volta à casa dos pais, reencontrou a música, que aprendeu a cantar e ouvir ainda menininho chamado pelo nome de Rafael.
“Eu tenho um super orgulho de ser uma mulher trans. A partir do momento que me aceitei e soube quem eu era, nada mais foi obstáculo. Nem a dor que eu senti. Eu tenho uma fé imensa, mas não preciso de uma igreja. Minha religião é Jesus”, diz a cantora, que deseja gravar gospel: “Não quero polemizar nada. A música não tem gênero, e seria uma forma de falar para tantas pessoas LGBT que são cristãs como eu sou”.
Se lançando na carreira solo (ela foi backing vocal de Pabllo Vittar e se apresenta com Luisa Sonza), Rafa vai mostrar primeiro o que sabe fazer no pop. Em janeiro gravou o clipe da música “Meus sentidos”, que será lançado mês que vem, e já se prepara para fazer outro, em plena quarentena com uma equipe reduzida dentro de casa, já todos estavam isolados. No primeiro, teve a participação de Cleo Pires como atriz. As duas, inclusive, não se desgrudam.
“Me apaixonei por ela. A Cleo nunca me olhou com pena, como coitadinha. Ela acreditou no meu talento, na minha voz e me pegou pela mão. Tivemos uma conexão de irmãs mesmo”, elogia a cantora.
A identificação foi tão grande que Rafa já é quase uma Pires no clã. Passou Natal com Gloria, a prole e Orlando, o carnaval também e parte da quarentena. “Eu estava com meus pais, a Cleo sozinha na casa dela, e o Orlando, pai dela, estava em Brasília com o resto da família e achou melhor irmos para lá. Acho que fui adotada”, brinca ela.
Foi num dos saraus promovidos por Orlando Moraes em sua casa que Rafa apareceu cantando ao lado de Ana, irmã de Cleo, ao piano, a música “Hallelujah”, de Leonard Cohen. “Foi muito emocionante para todos que estavam lá. E foi de improviso, algo entre a gente. Como dizia Aretha Franklin, ‘se minha música não puder tocar alguém, estou falhando na minha missão’”, analisa. Aretha também era filha de um pastor. Carol Marques / Extra / Yahoo Notícias