Ex-Secretário de Ciro Nogueira é alvo de megaoperação contra fraude bilionária em combustíveis

5

Uma ação da PF revela conexões entre o setor privado e o alto escalão do governo Bolsonaro, com mandados em refinarias e buscas por documentos que podem expor um rombo nos cofres públicos

Em um desdobramento que agita o setor de combustíveis e reacende debates sobre governança no Brasil, a Polícia Federal (PF) deflagrou nesta quinta-feira, 27 de novembro de 2025, uma megaoperação contra dezenas de empresas suspeitas de envolvimento em um esquema de fraude fiscal que teria causado um rombo bilionário aos cofres públicos. Entre os alvos está Jonathas Assunção Salvador Nery de Castro, ex-secretário-executivo da Casa Civil durante a gestão do ministro Ciro Nogueira (PP-PI) no governo de Jair Bolsonaro (PL), que atuava como braço direito do titular na pasta.

Assunção, atualmente executivo da Refit Refinaria de Petróleo do Brasil S.A., uma das principais refinarias investigadas, foi alvo de um mandado de busca e apreensão de documentos. A operação, batizada de “Operação Combustível Limpo”, mira irregularidades tributárias no comércio de derivados de petróleo, incluindo sonegação de impostos e emissão de notas frias, com prejuízos estimados em bilhões de reais à Receita Federal e à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN). Agentes da PF, em conjunto com auditores fiscais, cumpriram ordens judiciais em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, estados onde as empresas atuam predominantemente.

A trajetória de Assunção no Palácio do Planalto adiciona camadas políticas à investigação. Nomeado em 2021 como o “número 2” da Casa Civil, ele substituiu o cargo de secretário-executivo e se tornou peça-chave na articulação governamental. Antes disso, serviu como chefe de gabinete do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa no mesmo governo, que atualmente cumpre pena de 26 anos de prisão em regime fechado na Vila Militar, no Rio de Janeiro, por participação na chamada trama golpista – um plano para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2023.

Braga Netto, preso preventivamente desde dezembro de 2024, foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em novembro de 2025 por crimes como abolição violenta do Estado Democrático de Direito e tentativa de golpe de Estado. Curiosamente, Assunção foi arrolado como uma das testemunhas de defesa indicadas pelo ex-presidente Bolsonaro no processo da trama golpista. Em depoimento prestado ao STF em 30 de maio de 2025, perante o ministro Alexandre de Moraes, ele negou qualquer conversa sobre golpe de Estado com o então chefe do Executivo, afirmando que “nunca houve menção a atos que violassem a ordem constitucional”.

O depoimento, parte de uma série de audiências que ouviu aliados como o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos), reforçou a estratégia da defesa de Bolsonaro, condenado a 27 anos e três meses de prisão e atualmente detido na Superintendência da PF em Brasília.

Outro episódio que ganhou destaque na mídia foi a nomeação da esposa de Assunção, Ana Carolina Argôlo, para um cargo com salário de R$ 13,6 mil no Ministério de Minas e Energia (MME), em setembro de 2021. A indicação, feita diretamente por Ciro Nogueira, gerou denúncia à Comissão de Ética Pública da Presidência da República (CEP) por possível conflito de interesses, já que Assunção era o substituto imediato do ministro na Casa Civil. A CEP analisou o caso em reunião de 29 de setembro de 2021, mas não avançou em sanções públicas.

No Congresso Nacional, Assunção ficou conhecido como o informal “gerente” do orçamento secreto, mecanismo de emendas parlamentares sem transparência que movimentou bilhões de reais entre 2020 e 2022. Ele lidava com as planilhas de alocação de recursos, sob a coordenação de Ciro Nogueira, em meio a negociações políticas que garantiram apoio ao governo Bolsonaro. Sua passagem pelo setor público também incluiu uma eleição controversa para o Conselho de Administração da Petrobras em agosto de 2022. Indicado pelo governo Bolsonaro, o nome de Assunção foi rejeitado três vezes pelo Comitê de Elegibilidade da estatal, por falta de qualificação técnica e potenciais conflitos de interesse. No entanto, em manobra do conselho, ele foi eleito mesmo assim, ao lado de Ricardo Soriano de Alencar, em uma assembleia que ignorou as recomendações do comitê – um episódio criticado por acionistas minoritários e analistas de mercado por comprometer a governança corporativa da petrolífera.

A operação desta quinta-feira não detalha, até o momento, o papel exato de Assunção nas fraudes, mas fontes da PF indicam que os documentos apreendidos na Refit podem esclarecer ligações entre o esquema tributário e figuras do ex-governo. A refinaria, especializada em processamento de petróleo e exportação de combustíveis, já enfrentou escrutínio regulatório: em outubro de 2025, foi interditada temporariamente pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), após encontro sigiloso entre um diretor da agência e Assunção, segundo relatos circulantes no Congresso. A ANP negou irregularidades no procedimento, mas o episódio alimentou especulações sobre influência política no setor.

Essa investigação reforça preocupações recorrentes com a interseção entre política e interesses econômicos no Brasil, especialmente no setor de energia, que movimenta R$ 500 bilhões anuais em tributos. Especialistas em direito tributário consultados por veículos como O Globo e Folha de S.Paulo destacam que fraudes como essa enfraquecem a arrecadação e distorcem a concorrência, afetando consumidores finais com preços instáveis nos postos. A PF informou que a operação conta com apoio do Ministério Público Federal (MPF) e pode resultar em indiciamentos nos próximos meses. Por Alan.Alex / Painel Político

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Moderação de comentário está ativada. Seu comentário pode demorar algum tempo para aparecer.