Por Maurício de Novais Reis*
Variações sobre o Poder
Parte II – Nesta perspectiva, a experiência política das relações internacionais tem demonstrado, lamentavelmente, a relevância desse pensamento expresso pelo comandante revolucionário chinês Mao Tse-Tung, bastanto observarmos a posição ocupada pelos Estados Unidos. Por outro lado, as relações espúrias entre a administração pública e as empresas privadas (vide exemplo as empresas envolvidas nas irregularidades apontadas pela Operação Lavajato) tornaram a discussão acerca do poder ainda mais necessária.
Todavia, nos demais campos em que as relações de poder são analisadas, percebe-se, para além da relação de poder em si, as versões construídas com o fito de reagir a essas relações. Por isso em O Mal-Estar na Civilização, Freud argumenta que a passagem do homem de Ser da natureza para Ser da cultura (ou civilização) provocou imenso desconforto (mal-estar), isto é, o antagoismo intransponível entre o desejo de satisfação pulsional e as normas de convivência na civilização. Desta forma, para Freud, o indivíduo empreende, inconscientemente, tentativas de destruir a civilização a fim de retornar ao seu estado de natureza, no qual suas pulsões serão satisfeitas incondicionalmente, sem o remorso resultante da infração da norma que rege a vida em sociedade e, mais importante, sem o medo de ser aniquilado, enquanto indivíduo, pela coletividade.
Nesta perspectiva, o poder estatal apresenta-se como uma relação bipartida configurando-se enquanto interdito da satisfação pulsional e comoinibição da realização dos desejos que não se ajustam às normas de vida em sociedade. Continua.
*Maurício de Novais Reis é Psicanalista, Especialista em Teoria Psicanalítica e Professor no Colégio Estadual Democrático Ruy Barbosa.