EUA perdem status de “Triplo A” e acendem alerta global sobre dívidas

22

Pacote fiscal de Trump e aumento de juros amplificam crise de endividamento, com impacto em cascata em outras economias

Photo by Osman Rana on Unsplash

Os Estados Unidos já não integram o seleto grupo de países classificados como “triplo A” pelas principais agências de análise de risco, uma nota reservada às nações mais confiáveis no pagamento de suas dívidas. A Moody’s foi a última a rebaixar a classificação americana, decisão que se soma às avaliações da Fitch (2023) e da Standard & Poor’s (2011).

Esse movimento reflete um problema que se agrava há mais de uma década: o endividamento do governo dos EUA em relação ao PIB saltou de 67% em 2011 para 98% em 2024, com projeções da Moody’s indicando que pode atingir 134% até 2035.

Na última semana, o tema ganhou destaque com a aprovação de um pacote fiscal que intensifica a deterioração das contas públicas americanas. A proposta, que ainda depende do aval do Senado, prorroga cortes de impostos do primeiro governo de Donald Trump (2017), isenta tributos sobre gorjetas e horas extras e eleva gastos com defesa. Em contrapartida, prevê cortes em programas de segurança alimentar e saúde, como o Medicaid, além de revogar subsídios para energia limpa. Segundo o Escritório do Orçamento do Congresso (CBO), essas medidas devem aumentar a dívida americana em US$ 3,1 trilhões até 2035, agravando um cenário já preocupante.

Juros em alta e bola de neve fiscal

O impacto imediato da deterioração fiscal foi sentido no mercado financeiro. Os juros dos títulos de dívida dos EUA com vencimento em 30 anos ultrapassaram 5%, nível mais alto desde 2007, antes da crise financeira global. Esse aumento reflete a desconfiança dos investidores, que passaram a exigir retornos maiores para financiar o governo americano diante do risco crescente. O fenômeno cria uma dinâmica perigosa: juros mais altos elevam o custo do endividamento, que, por sua vez, pressiona ainda mais a dívida, formando uma bola de neve.

A resistência à proposta no Senado, mesmo com maioria republicana, evidencia a gravidade do problema. Parte do partido de Trump questiona a sustentabilidade fiscal do pacote, temendo consequências de longo prazo. O cenário preocupa não apenas os EUA, mas também outras economias. Países como Japão, Alemanha e Reino Unido também enfrentam aumento nos custos de endividamento, com juros em níveis recordes nas últimas décadas. No Japão, que já possui uma das maiores dívidas do mundo, o fim dos juros negativos pressiona ainda mais as contas públicas. Na Europa, Alemanha e Reino Unido aprovaram medidas que pioram a relação entre receitas e despesas, enquanto o continente sinaliza aumento de gastos com defesa.

Reação em cadeia global

O endividamento americano, por ser a maior economia global, gera um efeito cascata. Quando os EUA enfrentam dificuldades fiscais, investidores ajustam suas expectativas para outras nações, elevando o custo de financiamento globalmente. Além disso, questões locais em cada país amplificam o problema. Na Europa, a disposição para aumentar gastos com defesa, somada a desafios econômicos, pressiona os orçamentos. No Japão, a transição para juros positivos, após décadas de políticas ultrajexpansionistas, cria novas tensões.

As consequências para indicadores como moedas, bolsas de valores e juros ainda são incertas, mas o protagonismo dos EUA na piora fiscal global alimenta o pessimismo. A incapacidade de conter o crescimento da dívida pode desencadear instabilidade nos mercados financeiros e pressionar economias menores, que dependem da estabilidade americana.

Reaproximação Reino Unido-UE: um passo tímido

Paralelamente, o Reino Unido e a União Europeia anunciaram a primeira iniciativa de reaproximação desde o Brexit. O acordo inclui um pacto de defesa e segurança, permitindo a participação britânica no fundo europeu para rearmamento, além de facilitar exportações agrícolas e estender o acesso europeu à pesca em águas britânicas até 2038. Apesar do avanço, o impacto econômico é modesto, com projeções indicando um benefício de apenas £9 bilhões até 2040, equivalente a 0,2% do PIB britânico.

A reaproximação não inclui a volta da livre circulação de pessoas, e avanços mais amplos ainda enfrentam obstáculos. Ainda assim, o diálogo anual agora estabelecido entre as partes marca um novo capítulo nas relações pós-Brexit, com potencial para desdobramentos futuros.

Um futuro incerto

O rebaixamento do rating dos EUA, somado ao aumento do endividamento global, acende um alerta para investidores e governos. A combinação de políticas fiscais expansionistas, juros em alta e incertezas geopolíticas cria um cenário desafiador. Para o Brasil e outras economias emergentes, o aumento dos custos de financiamento pode limitar o acesso a recursos, enquanto a instabilidade nos mercados globais exige cautela. A bola de neve da dívida americana, com seu potencial de impacto global, é um lembrete de que a estabilidade econômica mundial está mais frágil do que nunca. Por Alan.Alex / Painel Político

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui