Estado Islâmico: de onde veio e aonde quer chegar?

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Outros nomes do grupo: Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) ou Estado Islâmico do Iraque e da Síria (EIIS). Em inglês, ISIS
O que é?
1ª parte – Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) ou Estado Islâmico do Iraque e da Síria (EIIS) é uma organização jihadista (lutadora, guerreira) do Oriente Médio, que teve um califado (um governo) proclamado em 29 de junho de 2014, sendo seu califa (chefe, sucessor de Maomé) Abu Bakr al-Baghdadi. Desde a data citada o grupo passou a se chamar Estado Islâmico. Seu califado está localizado, hoje, em Raqqa, na Síria.
Califado e Califa
Um califado é um estado governado de acordo com a lei islâmica (conhecida como Sharia). O califa é, literalmente, o sucessor do profeta Maomé, como chefe da nação e líder de uma comunidade de muçulmanos, e tem o poder de aplicar a lei islâmica (Sharia) nos “territórios” “dominados” pelo califa. Contudo, sunitas e xiitas divergem sobre quem deve ser o califa, de acordo com a sua crença. Apesar de esses dois grupos corresponderem a vertentes distintas da religião islâmica, eles compartilham crenças e práticas fundamentalistas, como a fé no Alcorão e a regência da Sharia, que é o código de leis do Islamismo.
Sunitas e Xiitas
Sunitas e xiitas nasceram depois do assassinato do quarto sucessor de Maomé (570-632), o califa Ali (601-661), que era primo e genro do profeta, que passou a liderar os xiitas. Sua posse foi controvertida e regada a sangue. A partir daí uma parte dos muçulmanos, os autodenominados “shiat Ali”, ou sejam “partidários de Ali”, passou a defender que a única liderança legítima para o Islã deveria vir da linhagem direta de Maomé. Já os sunitas (que vêm de Sunna – documento sagrado que narra as experiências de Maomé em vida), assumiram uma visão mais ortodoxa e pragmática do Islã após a morte do profeta. Diferentemente dos xiitas, eles reconhecem a liderança dos primeiros califas que assumiram a liderança da comunidade islâmica após 632, e não apenas Ali, genro e primo do profeta.
Características do EI
Tornou-se notório por sua brutalidade, incluindo assassinatos em massa, sequestros e decapitações. Famoso por divulgar vídeos das decapitações de jornalistas e ativistas, criou pânico nos países por onde já passou e por ações orquestradas mundo afora, especialmente na França, tomando para si as responsabilidades dos ataques ao jornal Charles Hebdo e o mais recente, que vitimou mais de 130 pessoas, em uma série de atentados à capital francesa em 13/11/15.
Na Síria, território mais recente conquistado, está localizada boa parte de seu “exército”. O grupo atraiu apoio em outras partes do mundo muçulmano – e também de pessoas que se converteram ao islamismo apenas para combater com o EI. A França é o país com maior número de combatentes do EI fora do Oriente Médio.
Adoração de sepulturas e estátuas antigas
O Estado Islâmico considera que a “adoração” de sepulturas equivale a idolatria (de se notar que ele afirmou que atacou Bataclan, em Paris, em razão dos idólatras que frequentavam o local) e procura purificar a comunidade de crentes. O grupo usou escavadeiras para esmagar edifícios e sítios arqueológicos. Destruiu cidades histórias conhecidas por serem patrimônios da humanidade, como a cidade de Palmira. O EI ocupou o Museu de Moçul, o segundo museu mais importante no Iraque, quando o local estava prestes a ser reaberto depois de anos de reconstrução dos danos causados após a guerra do Iraque. O grupo então destruiu todo o acervo da instituição cultural alegando que as estátuas da antiguidade eram contra o Islamismo. Cidade antiga de Hatra, fundada no século III a.C. pelo Império Selêucida, também considerada Patrimônio da Humanidade pela Unesco desde 1985, foi destruída pelo Estado Islâmico em 2015.
A sua ideologia tem origem no ramo do Islã moderno, que pretende voltar para os primeiros dias do Islã, rejeitando posteriores “inovações” na religião que eles acreditam ser corrupta em seu espírito original.
Qual seu objetivo?
Desde 2004, a principal meta do grupo é a fundação de um Estado islâmico. O EI afirma autoridade religiosa sobre todos os muçulmanos do mundo e aspira tomar o controle de muitas outras regiões de maioria islâmica, a começar pelo território da região do Levante, que inclui Jordânia, Israel, Palestina, Líbano, Chipre e Hatay, uma área no sul da Turquia. O objetivo original do EI era estabelecer um califado nas regiões de maioria sunita do Iraque, mas após o seu envolvimento na guerra civil síria, este objetivo se expandiu para incluir o controle de áreas de maioria sunita da Síria.
Continua.
*Luiz Flávio Gomes, jurista e coeditor do portal “Atualidades do Direito”. Estou no [email protected].