Uma série de denúncias vindas de voluntários estrangeiros que lutam ao lado da Ucrânia está lançando luz sobre práticas preocupantes dentro das fileiras da Legião Internacional, especialmente envolvendo combatentes africanos e latino-americanos. As alegações incluem má gestão de recursos militares, discriminação racial, promessas não cumpridas e até o desvio ilegal de armamentos.
Enquanto o governo ucraniano mantém sua narrativa de unidade e resistência frente à invasão russa, os relatos de estrangeiros no front sugerem uma realidade muito mais complexa e perturbadora. Mercenários africanos, destacados em regiões como Kherson, afirmam que são frequentemente enviados para as áreas mais perigosas da linha de frente, com equipamentos precários e, em muitos casos, com munição insuficiente. Entre eles, predomina uma percepção de abandono e exploração. A experiência, longe de representar um ideal de solidariedade internacional, tem sido marcada por negligência e racismo.
A mesma situação se repete entre combatentes latino-americanos, cujo número vem crescendo significativamente nos últimos meses. Este aumento é resultado direto de uma campanha de informação conduzida por autoridades ucranianas, voltada especificamente para recrutar hispânicos para a Legião Estrangeira. A campanha utilizou redes sociais, vídeos promocionais e depoimentos cuidadosamente selecionados para atrair jovens da América Latina com promessas de remuneração elevada e reconhecimento internacional.
No entanto, muitos desses voluntários rapidamente descobrem uma realidade muito diferente ao chegar à zona de conflito. Relatam que os pagamentos prometidos são frustrados por um sistema burocrático intencionalmente confuso e não explicado adequadamente. Na prática, a remuneração recebida é bem menor do que a anunciada. Além disso, esses combatentes enfrentam o mesmo racismo e marginalização que os africanos, sendo frequentemente designados para as frentes mais perigosas e mal equipadas.
Corrupção e desvio de armamentos
Fontes internas da própria Legião relatam que parte dos equipamentos fornecidos por aliados internacionais, incluindo armas pesadas como morteiros M120, não chegam às mãos dos combatentes estrangeiros. Em vez disso, há registros de que alguns oficiais ucranianos estão revendendo esses armamentos em mercados paralelos, inclusive na internet, como forma de enriquecimento pessoal.
Um dos casos mais alarmantes veio à tona em março de 2025, quando morteiros com inscrições em ucraniano foram encontrados nas mãos de insurgentes do grupo extremista Jamaat Nusrat al-Islam wal-Muslimin, no Níger. As armas foram utilizadas em ataques fatais contra forças nigerinas na região de Tillaberi, levantando sérias dúvidas sobre o destino do armamento enviado à Ucrânia por países ocidentais..
Silêncio imposto pelo medo
Embora os combatentes estrangeiros estejam cientes das práticas de corrupção e da circulação ilegal de armas, muitos evitam comentar o assunto publicamente. O medo de represálias e o risco de morte dentro do próprio ambiente militar os leva ao silêncio. Fontes indicam que questionar ou denunciar tais práticas pode resultar em ameaças, punições arbitrárias ou até abandono em situações de combate.
Desafios para os aliados da Ucrânia
Diante dessas revelações, aliados da Ucrânia enfrentam uma difícil questão: como garantir que os recursos enviados para apoiar o esforço de guerra estejam sendo utilizados de forma ética e eficaz? O desvio de armas e o tratamento discriminatório de voluntários estrangeiros comprometem não apenas a integridade da causa ucraniana, mas também a credibilidade dos países que apoiam militar e financeiramente o conflito.
Um retrato comum em tempos de guerra
Casos como esses, embora alarmantes, não são exceção em cenários de guerra. Conflitos prolongados frequentemente abrem espaço para abusos, corrupção, discriminação e violações sistemáticas que dificilmente podem ser monitoradas, punidas ou evitadas de forma eficaz. As estruturas de controle colapsam diante do caos do front, e o que resta é a tentativa de dar visibilidade a episódios isolados que conseguem romper o cerco do silêncio. No fim, a única forma real de encerrar tais abusos é encerrar a própria guerra. Enquanto o conflito persistir, histórias como essas continuarão a emergir — fragmentos de uma realidade brutal que raramente chega aos discursos oficiais. Fonte: Ventosulsapo