Enelita Freitas publica “Cirandas e rodopios” e é indicada ao Prêmio Servidor Cidadão 2024

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Enelita Freitas publica “Cirandas e rodopios” e é indicada ao Prêmio Servidor Cidadão 2024
Almir Zarfeg, a mestríssima Enelita Freitas e a obra “Cirandas e rodopios”

“Cirandas e rodopios: revisitando a cultura popular na terceira idade” (Casa Flutuante, 2024), obra mais recente da mestríssima Enelita Freitas, finalmente, caiu em minhas mãos. Seguem minhas impressões.

A obra é dividida em três partes. Na primeira parte, através do capítulo “Os guardiões da memória”, a autora aborda a questão mnemônica ressaltando o papel fundamental das pessoas idosas como uma espécie de guardiães do passado. Aqui, os verbos lembrar, tecer e vice-versa desempenham uma função importante: unir e relacionar os fios dos eventos humanos, numa operação que guarda semelhança com o trabalho do artesão. Fazer para permanecer.

Para embasar sua argumentação, ela recorre a autores como Ecléa Bosi, Fanny Abramovich e Jacques Le Goff. Ainda lança mão de textos literários – de autores como Casimiro de Abreu e Gonçalves Dias –, para defender que, ainda que idealizada e/ou romantizada, a literatura contribui para a fixação da cultura, da história e da mentalidade de um povo numa determinada época. A narrativa ajudaria a fixar os valores e hábitos das pessoas, agindo como memória das coisas e acontecimentos.

Na segunda parte, Enelita discorre sobre o conceito de cultura popular, que, como é sabido, se apresenta escorregadio, porque multifacetado e influenciado pelos gostos e interpretações. Por isso mesmo, ela expõe as várias acepções de cultura – como a formal adquirida via escola e a informal obtida na “escola da vida” –, para concluir que a cultura popular, enquanto tal, diz respeito às representações que as pessoas e os grupos sociais dedicam às experiências, vivências e hábitos que realizam entre si enquanto seres históricos e humanos.Enelita Freitas publica “Cirandas e rodopios” e é indicada ao Prêmio Servidor Cidadão 2024

Acadêmicos Almir Zarfeg, Raimundo Magalhães, Enelita Freitas, Erivan Santana e Arolda Figuerêdo

A memória, mais uma vez, assume uma relevância enorme, pois assegura a manutenção da cultura popular na forma de costumes, saberes, rituais, imagens e trocas sociais. Passada de geração para geração, dos mais velhos aos mais jovens, por meio da oralidade.

A autora chama a atenção para a diferença existente entre cultura popular e cultura de massa: aquela se dá de maneira espontânea e horizontal, enquanto esta é imposta de cima para baixo, verticalmente, motivada pelos interesses do mercado.

Ainda elucida as expressões “produtores de cultura” e “reprodutores culturais”. Aqueles, “a partir de suas histórias de vida, exercem práticas culturais que podem ser consideradas como elementos de integração e, também, como uma afirmação da identidade cultural do grupo, vinculados com a vida desses grupos sociais”. Enquanto estes, “apenas cuidam de ‘copiar’ certas manifestações culturais, para apresentar a um público que os aplaude com entusiasmo, embora sem o devido conhecimento do significado dessas atividades”. Em resumo, tanto os produtores quanto os reprodutores têm importância crucial na produção e valorização da cultura popular.

Na terceira parte – mais extensa e inspiradora da obra –, a autora apresenta o Programa Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI/CEVIT), desenvolvido no Campus X da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e coordenado no início pelas professoras Maria Adelaide e Marinêz. Atualmente, a coordenação está a cargo do professor doutor Gean Paulo Santana.

Nesse contexto, como atividade de extensão universitária, surge a oficina “Rodopiando na Cultura Popular” (mesmo título do capítulo) em 2008 e, já em 2009, se inicia a primeira turma com 25 participantes com mais de 60 anos de idade.

A partir de 2011, como professora aposentada da UNEB e com a consolidação da oficina, Enelita Freitas se manteve à frente das atividades, agora em caráter definitivo e voluntário.

A pergunta que não quer calar: quais e como se realizam as atividades da oficina? Abrindo as comportas da memória durante as aulas. Simples assim. Através das cantigas de roda, brincadeiras, musicomédias, adivinhações, cantigas de pilão, trava-línguas, parlendas, simpatias e superstições, remédios caseiros, ditos populares, reisado das ciganas, etc.

A obra se encaminha para o fim convidando os leitores a refletirem sobre a Terceira Idade, com seus desafios e prazeres, alegrias e tristezas. Mas com a certeza de que viver vale muito a pena, sobretudo viver com leveza, mantendo a memória ativa e a imaginação acesa, independente da idade cronológica. Por fim, os leitores são brindados com um registro fotográfico em cores das alunas em suas apresentações culturais de encher os olhos do respeitável público.

Nada mais justo que esses quinze anos dedicados ao Programa UATI/CEVIT valessem à mestríssima a indicação de seu nome ao Prêmio Servidor Cidadão 2024, que é organizado pela Secretaria de Administração do Estado da Bahia (SAEB) e que reconhece os servidores públicos estaduais, ativos ou aposentados, que desenvolvem ações e projetos de caráter voluntário em benefício da coletividade.Enelita Freitas publica “Cirandas e rodopios” e é indicada ao Prêmio Servidor Cidadão 2024

A premiação acontece a cada dois anos, culminando com o Dia do Servidor Público (28 de outubro). Na oportunidade, distribui-se uma bela quantia em dinheiro aos dez servidores e respectivos projetos aprovados.

Os três primeiros classificados (1º, 2º e 3º lugares) recebem, respectivamente, R$ 10 mil, R$ 7 mil e 5 mil. Os colocados em 4º e 5º lugares têm direito a R$ 3 mil e R$ 2 mil, nessa ordem. Os demais classificados (do 6º ao 10º lugar) garantem R$ 1 mil cada a título de menção honrosa.

Uma Comissão Especial de Seleção e Julgamento chegou aos dez finalistas – oriundos da capital e interior – após analisar um contingente de 80 projetos inscritos. Os finalistas já podem se considerar vitoriosos. Enelita Freitas conta, desde já, com a torcida e o reconhecimento da comunidade teixeirense e regional.

A solenidade de premiação vai acontecer no próximo dia 24 de outubro de 2024, às 14h30, Auditório Zezéu Ribeiro, no Centro Administrativo da Bahia. O secretário de Administração, Edelvino Góes, confirmou a presença. Os fãs e admiradores da mestríssima sintam-se convidados.

Almir Zarfeg, poeta e jornalista, é presidente de honra da Academia Teixeirense de Letras (ATL). Fonte: Por Almir Zarfeg

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