Em entrevista, Hugo Motta sinaliza cassação de Eduardo Bolsonaro “é impossível exercer mandato em outro país”

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Em meio a tensões com bolsonaristas, presidente da Casa prioriza reformas e interesses públicos, enquanto veta exercício de mandato no exterior para Eduardo Bolsonaro

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), defendeu veementemente o regimento interno da Casa em uma entrevista exclusiva concedida aos repórteres Beatriz Roscoe e Murillo Camarotto, do jornal Valor Econômico, publicada nesta segunda-feira (6). Motta justificou decisões recentes contra o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), incluindo o veto à possibilidade de o parlamentar exercer uma liderança partidária enquanto reside no exterior. “É impossível exercer o mandato estando em outro país. O regimento veda isso e iremos cumpri-lo”, afirmou o presidente da Câmara, reforçando o compromisso com as normas internas da instituição.

Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tem se dedicado nos últimos meses a buscar apoio político nos Estados Unidos contra a condenação sofrida por seu pai por tentativa de golpe de Estado. Inicialmente afastado por licença parlamentar, o deputado agora acumula faltas em sessões plenárias, o que pode levar a uma cassação de mandato por ausências excessivas. Nos corredores da Câmara, circulou a especulação de que uma eventual suspensão pelo Conselho de Ética poderia adiar esse processo. Questionado sobre a “manobra”, Motta foi categórico: “não conhece essa manobra”, mas enfatizou que “cabe ao plenário a decisão final sobre o mandato do bolsonarista”.

A declaração gerou reações imediatas nas redes sociais, com o deputado federal Rogério Correia (PT-MG) destacando a posição de Motta em postagem no X (antigo Twitter), reforçando a importância do cumprimento do regimento.

Por outro lado, críticos bolsonaristas acusaram o presidente da Câmara de alinhamento excessivo com o governo federal, chamando-o de “cúmplice” na perseguição à oposição.

A entrevista de Motta também tocou em temas mais amplos da agenda legislativa, sinalizando uma guinada para pautas menos conflituosas. Ele anunciou que, a partir de agora, concentrará esforços em projetos que atendam aos interesses públicos, distanciando-se das chamadas “pautas tóxicas” – aquelas que alimentam a polarização política. “Fazer uma gestão que saia um pouco dessa polarização”, disse Motta, observando que, apesar da visibilidade das divergências, “a Câmara vai se distanciando dessa agenda”.

Essa postura foi elogiada por veículos como a Gazeta do Povo, que destacou o recado direto a Eduardo Bolsonaro sobre a impossibilidade de exercer o mandato remotamente.

Entre as prioridades citadas, Motta apontou as discussões sobre a medida provisória (MP) do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que visa ajustes fiscais, e a reforma administrativa, essencial para modernizar a máquina pública. “Mesmo nesse ambiente de instabilidade, com a antecipação do período eleitoral e com esse problema com os EUA, temos conseguido navegar e colocar na pauta projetos de interesse da população”, declarou o presidente, em referência às tensões bilaterais entre Brasil e Estados Unidos.

A GloboNews repercutiu a fala em vídeo, enfatizando o foco em Eduardo Bolsonaro durante o noticiário Estúdio i.

Sobre o polêmico projeto de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023 – agora rebatizado de “dosimetria” para atenuar críticas –, Motta informou que não há data prevista para pauta. O relator, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), ainda refina o texto, o que reflete a cautela da liderança em evitar mais divisões. Essa ausência de cronograma foi noticiada por portais como O Globo, que contextualizou o posicionamento de Motta em meio a riscos de cassação para bolsonaristas.

A gestão de Motta, empossado recentemente com apoio de uma ampla coalizão incluindo o governo Lula, tem sido marcada por tentativas de equilíbrio. Em outra declaração recente à CNN, ele reforçou: “Não posso agir para prejudicar ou privilegiar” em casos como o de Eduardo Bolsonaro e da deputada Carla Zambelli (PL-SP), ambos sob risco de sanções disciplinares.

Reações no X, como a postagem irônica do perfil @vinicios_betiol, ironizaram o timing da fala de Motta no dia de um encontro entre o presidente Lula e Donald Trump, sugerindo um “dia difícil” para o clã Bolsonaro.

Já a Jovem Pan News destacou a defesa do regimento em seu jornal televisivo, questionando o impacto na oposição. Especialistas em análise política, como os consultados pelo UOL, veem na postura de Motta uma estratégia para consolidar sua liderança, priorizando agendas econômicas em um Congresso fragmentado.

Com a proximidade das eleições gerais de 2026, o presidente da Câmara busca navegar por águas turbulentas, apostando em consensos que beneficiem a população brasileira. Por Alan.Alex / Painel Político

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