Aguardei por algum tempo que “experts” comentaristas, principalmente os de cachimbo e as “mexe-bocas” da Globo, analisassem os últimos movimentos eleitorais ante os números das urnas. Até agora, não surpreenderam: só falaram abobrinhas. Nada de novo. Nem factual, tampouco, conceitual. Sempre a repetida óbvia bobagem, baseada na obtusa orientação editorial maior. Na noite da apuração, esses ilustres milionários ficaram tão desnorteados que derivaram suas prosas para possíveis ou desejáveis (a quem?) composição ministerial. Chafurdaram o quanto puderam, buscando valores e vantagens eleitorais da oposição. Tudo para sofismar que a derrota não foi tão feia assim. E que o governo quase perde. Dá pena! Um grupo midiático tão rico em infraestrutura técnica, mas tão fraco e pouco qualificado em recursos humanos.
Tudo o que se falou pela boca dos seis muito bem pagos comentaristas, naquela sessão “segura-mijo”, da Globo News, poderia ser dito por qualquer cidadão comum. Ou, para ser menos cruel, por um foca neófito em política. Tinha momentos em que os comentários se tornavam hilários, quer pela inadequação temática, quer pela intempestividade. Descambavam para fofocas e conversas de comadre. Se não, para o gabarolismo. Falava-se de eleitos do PT insatisfeitos com o partido, prontos a pular fora. Dos que, tendo amealhado boa votação, já portavam descomunal rol de cobranças junto ao governo federal. Fritaram auxiliares diretos da Presidenta, colocando-os na linha de chute para o descarte.
E tudo mais que pudesse obumbrar o brilho da vitória governista e a alegria da eleita. Parecia um “muro das lamentações” ou o “limbo das provocações”. Impressionou-me como se pagou tão caro por “serviço tão porco”.
Pulando para outro canal ou para qualquer amontoado de ditos analistas em falação, a coisa não melhorava muito. Na Band, os borrados pelo lodo da Cantareira nada mais falavam além da Petrobrás. Não saíram do pré-sal enquanto os votantes já houvessem mostrado estar no pós-sal, a saborear carne do sertão assada. A lenga-lenga estava tão obsoleta, tão ao jeito de cloaca encardida, que ninguém, nem mesmo os mais fanáticos oposicionistas, conseguia continuar ligado.
Esses afamados incompetentes foram incapazes de tomar a oportunidade para fazer uma bela e importante análise abordando a dicotomia “política e gestão”. Durante a campanha era nisso que se concentravam os discursos. De um lado, enalteciam-se as políticas adotadas, minimizando os possíveis deslizes de gestão. Do outro, condenavam-se com veemência as derrapagens da gestão, sem deixar transparecer adversidade às políticas assistencialistas. Dava para entender que, afinal, os dois lados propunham melhoria na gestão como fundamento para se atingirem melhores resultados das políticas, em tese, acatadas por ambos os lados. Essa opção levou em conta, por parte da oposição, inclusive, o reconhecimento de que a classe média sempre teve dificuldade em enxergar suas eventuais ou potenciais perdas de vantagem às políticas governamentais assistencialistas. Ou, como queira a mídia conservadora, debitar em sua conta os gastos com o combate à pobreza.
Portanto, a discussão terminou se afastando das premissas políticas, concentrando-se em detalhes pontuais negativos no processo de gestão. A ideia, no seio oposicionista, era de que o governo ganha no argumento político, mas, perde como gestor.
Assim, os oposicionistas montaram seu palanque sustentado pela agressividade midiática para enfraquecer o apoio popular ao governo. O denuncismo de gestão era o mote. Ganharam quando ressaltaram incompetência, inexperiência, ganância, vulnerabilidade à corrupção e subserviência como fundamentos alimentadores do esquema de conservação do poder.
Funcionou até certo ponto. Amealharam substancial apoio dos insatisfeitos com a gestão governamental. Contudo, equivocaram-se ao exagerar na dose. Assustaram os mais satisfeitos com as políticas de atendimento social que interessados em mudanças radicais.
Em suma, faltou aos ditos analistas políticos quem trabalhasse melhor, no mínimo, a dualidade: “política e gestão”. Embora não faltassem citações de autoridades amigas e valiosos contatos, ninguém soube operar com matrizes mais complexas, que contemplassem variáveis, como votação, política, gestão, cidadania, bem-estar social, aspiração social comunitária e manutenção do poder.
Cingiram-se, os famigerados comentaristas midiáticos, aos humores pessoais dos candidatos e seus apoiadores, ante os resultados das urnas. E, até hoje, continuam no mesmo primarismo, a reverberar resmungos de derrotados. A engrandecer e valorizar lideranças de papel crepom, desprovidas de apoio e substância social. E mais, sem o que fazer – e por incapacidade criativa – ficam por aí a alimentar um bando de tolos que ainda acredita em impeachment e retorno da ditadura militar para coçar suas cafubiras. *Roberio Sulz é professor universitário; biólogo, biomédico (B.Sc.) pela UnB; M.Sc. pela Universidade de Wisconsin, EEUU. [email protected].