E as aulas voltaram

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Todo início de ano é tormentoso, torturante, humilhante para os pais dos alunos. O mais interessante que é a incumbência é outorgada exclusivamente às mães. Não que os pais sejam omissos.  Provavelmente, por obrigações de trabalho, o encargo seja delegado para elas. Esta semana, ao passar em frente à Escola Joaquim Muniz, depois das 8:00 horas, deparei com uma fila enorme de muitas mulheres, algumas sentadas em cadeiras, outras com filhos pequenos em seus braços. Curioso, perguntei a um elas qual a causa de tão cedo, já à porta da escola. Uma delas respondeu que ali se encontrava desde a noite anterior, tendo dormido juntamente com as outras. Tudo isso para assegurar a matricula do filho. O governo esbanja dinheiro pela torneira destinado ao ensino. Entretanto o ensino é de péssima qualidade. Principalmente porque é proibido reprovar o aluno. Em todos os países civilizados, ainda é obrigatório o ensino do latim. Mesmo em países onde a língua não se originou dele, como as saxônicas. Na Inglaterra, na Alemanha, na Italia, bem como em todos os países nórdicos, é ele ensinado. Nos Estados Unidos também. Até mesmo na China e no Japão. Mas aqui ele é considerado língua morta, somente oficial no Vaticano. Todos sabemos da influencia essencial do latim na língua portuguesa de onde se originou, juntamente com o Frances, Italiano, Espanhol e Romeno. Por isso, com a supressão do latim no curso básico, ninguém se aprimora em praticar a língua mater com simplicidade, correção e bom gosto. Mesmo assim, ainda se encontram pessoas denodadas, abnegadas, dispostas a dormirem ao relento, no anseio de encontrar uma vaga para o seu filho, evitando assim que o mesmo cresça cego nas letras. Pensando bem a causa não seria outra? O governo paga uma pequena importância para que se mantenham os filhos na escola. Somente receberão as “esmolas” aqueles que comprovarem que seus filhos se encontram matriculados e cursando, com presença comprovada. Não deixa de ser uma espécie coercitiva para obrigar que se estude. Em países de ótica civilizada, tal não ocorre. Aqui os professores são mal remunerados, quando deveria ser totalmente o inverso. Deveriam ser os que vencimentos melhores recebessem, porquanto são eles que entregam as varas e os anzóis para que todos aprendam as pescar as primeiras letras. Na Bahia, “pescar”, tem outro significado, direcionado ao aluno relapso, que sem saber o assunto, copia furtiva e sub-repticiamente do livro, de um colega, ou de outro similar. Não é o caso do professor que ensina o aluno a soletrar as primeiras letras e formar as primeiras palavras e frases. No Brasil não se conserva o  hábito da leitura. Ainda se lê pouco por estas bandas. Ruy Barbosa dizia que o homem que lê vale mais. O valer mais não é mensurado como valor pecuniário, mas sim com o saber, o conhecimento, o raciocínio filosófico ou até mesmo escolástico. O que é uma pena! Pobre nação onde as mães ainda se obrigam a pernoitarem em frente ao portão da escola, no aguardo da sua abertura para providenciarem a matricula de seus rebentos. Que futuro aguarda uma nação que assim procede com tratamento aos jovens que amanhã serão os seus guardiões? Ainda temos uma gama de analfabeto, sem contar os analfabetos funcionais, que não sabem ler, não entendem o que leu, não sabem decifrar uma frase. Conheço muitos letrados, universitários, advogados, inclusive, que não sabem o que é um tempo de um verbo, e muito menos os seus tempos primitivos.  Que esperar de tal nação? Certa feita Winston Churchill disse que um homem verdadeiramente digno pena é aquele que não sabe ler. Seguramente ele não conhecia o Brasil e seus habitantes! É lamentável! Teixeira de Freitas, 15 de fevereiro de 2012. *Ary Moreira Lisboa é advogado e escritor.