Do quadrilhão do PP à operação Carbono Oculto: Os casos que envolvem o senador Ciro Nogueira

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Do quadrilhão do PP à operação Carbono Oculto: Os casos que envolvem o senador Ciro Nogueira

KEBEC NOGUEIRA/ METRÓPOLES @kebecfotografo.

O senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente nacional do Partido Progressistas (PP) e figura central do chamado Centrão, tem sido alvo de múltiplas investigações conduzidas pela Polícia Federal (PF) e pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao longo dos últimos anos. Como líder partidário e ex-ministro da Casa Civil no governo Jair Bolsonaro (2018-2022), Nogueira acumulou denúncias relacionadas a corrupção passiva, lavagem de dinheiro e obstrução de justiça, muitas delas originadas na Operação Lava Jato. No entanto, ao menos cinco denúncias contra ele foram rejeitadas pelo STF, geralmente por falta de provas além de delações premiadas, conforme relatórios da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Essas acusações, frequentemente baseadas em depoimentos de executivos de empreiteiras e frigoríficos, envolvem repasses financeiros ao PP em troca de apoio político em eleições e contratos públicos. A defesa de Nogueira tem argumentado repetidamente que as apurações se sustentam apenas em delações não corroboradas por evidências externas. Apesar das rejeições judiciais, novas operações em 2025, como as que miram aliados próximos, reacenderam debates sobre possíveis ligações com esquemas de sonegação e lavagem de dinheiro.

A seguir, uma linha do tempo textual dos principais escândalos e investigações envolvendo o senador, compilada a partir de relatórios da PF, decisões do STF e coberturas de veículos como CNN Brasil, UOL, G1 e O Globo. Todas as datas e fatos aqui apresentados são baseados em fontes públicas verificáveis até novembro de 2025; alegações sem corroboração judicial são indicadas como tais.

Linha do tempo dos escândalos e investigações

  • 2014: Acusação de Propina da J&F para Apoio Eleitoral a Dilma Rousseff
    A delação de Joesley Batista e Ricardo Saud, executivos do grupo J&F (dona da JBS), apontou que Nogueira recebeu cerca de R$ 8 milhões em propinas para adiar o “desembarque” do PP da base aliada do governo Dilma (PT), garantindo apoio à reeleição. Parte do valor (R$ 500 mil) teria sido entregue em uma mala diretamente ao senador, e R$ 5 milhões repassados via supermercado de seu irmão, Gustavo Lima. A PF concluiu em 2022 que houve crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, mas o STF rejeitou a denúncia em 2025 por ausência de provas além das delações.

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  • Novembro de 2016: Denúncia da UTC Engenharia na Lava Jato
    A PGR denunciou Nogueira por corrupção passiva, alegando que ele recebeu R$ 2 milhões da UTC Engenharia em troca de favorecimento em obras do Ministério das Cidades no Piauí. A acusação, baseada na delação de Ricardo Pessoa (ex-dono da UTC), foi rejeitada pelo STF em agosto de 2018, com os ministros entendendo que não havia elementos probatórios além da palavra do delator.
  • 2017: O “Quadrilhão do PP” e Organização Criminosa
    Nogueira foi incluído na denúncia do “quadrilhão do PP”, acusado de liderar um esquema de corrupção na Petrobras junto a outros parlamentares, como Arthur Lira (PP-AL). O MPF apontou desvios bilionários via contratos superfaturados. A denúncia por organização criminosa foi considerada “inepta” pelo STF em março de 2021, por se basear em acusações já arquivadas em inquéritos anteriores.
  • Inquérito 4.407 (2017-2021): Propinas da Odebrecht
    O senador foi acusado de receber R$ 7,3 milhões da Odebrecht por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, em troca de influência em contratos públicos. A delação de executivos da empreiteira sustentou a denúncia, mas o caso aguardava análise no STF até 2021, quando provas foram anuladas pelo ministro Dias Toffoli devido a irregularidades no acordo de leniência da Odebrecht. A rejeição ocorreu em 2025.
  • Inquérito 4.720 (2018): Obstrução de Justiça
    Nogueira e outros deputados do PP foram denunciados por tentar subornar e ameaçar de morte o ex-assessor Expedito Netto para silenciar depoimentos na Lava Jato. A PGR apontou obstrução de investigações sobre uma suposta organização criminosa no partido. O STF rejeitou a denúncia em 2022, citando falta de corroboração probatória.
  • Fevereiro de 2019: Operação Compensação da PF
    A PF deflagrou a operação contra Nogueira, investigando o recebimento de R$ 43 milhões pelo PP via doações oficiais e em espécie, intermediadas pelo senador, em troca de apoio à campanha de 2014. Buscas foram realizadas em sua casa e gabinete no Senado. O inquérito, desdobramento da Lava Jato, foi arquivado em parte pelo STF em 2025 por insuficiência de provas.
  • Abril de 2022: Conclusão da PF sobre Propina da J&F
    Relatório final da PF ao STF confirmou indícios de corrupção e lavagem envolvendo Nogueira e seu irmão Gustavo Lima, com áudios de Joesley Batista detalhando entregas. No entanto, a PGR recomendou o arquivamento em 2022, e o STF acatou em 2025, argumentando que as diligências não produziram “lastro probatório apto” para ação penal.
  • Agosto de 2024: Alegada Propina do PCC (Não Verificada Judicialmente)
    Uma testemunha, em depoimento à PF, alegou que Nogueira recebeu uma “sacola de papelão com dinheiro vivo” de líderes de um esquema ligado à facção Primeiro Comando da Capital (PCC), entregue em seu gabinete no Senado. A informação, reportada pelo ICL Notícias, não resultou em denúncia formal até novembro de 2025 e permanece sob investigação preliminar.
  • Novembro de 2025: Operação Carbono Oculto no Piauí
    A PF e a Polícia Civil do Piauí deflagraram a operação contra lavagem de dinheiro do PCC no setor de combustíveis. O ex-assessor e compadre de Nogueira, Victor Linhares de Paiva, foi alvo de buscas após receber R$ 230 mil de um empresário investigado. Linhares nega irregularidades, e não há indícios diretos contra o senador, mas o caso destaca elos com aliados. Nogueira processou veículos de imprensa por ligações indevidas.
  • 27 de Novembro de 2025: Megaoperação Contra o Grupo Refit
    A Receita Federal e Ministérios Públicos de cinco estados cumpriram 126 mandados de busca contra sonegação bilionária no setor de combustíveis, envolvendo a refinaria de Manguinhos (Refit). O ex-secretário-executivo da Casa Civil sob Nogueira, Jonathas Assunção, foi alvo, assim como o ex-secretário de Turismo do Rio, Cristiano Beraldo. Nogueira e aliados como Hugo Motta (Republicanos-PB) participaram de eventos bancados pela Refit em Nova York, mas não são alvos diretos. A investigação permanece em sigilo.
  • 18 de Novembro de 2025: Escândalo do Banco Master
    A PF prendeu o banqueiro Fernando Luiz Costa por fraudes no Banco Master, que recebeu R$ 12,2 bilhões do governo do DF e R$ 2,6 bilhões da Rioprevidência (RJ). Nogueira defendeu a venda do banco ao Banco de Brasília (BRB) e indicou Costa para cargos, mas não é investigado diretamente. A Febraban alertou o Banco Central sobre riscos, ignorados na época.

Esses episódios ilustram um padrão de investigações centradas em delações, com o STF priorizando a necessidade de provas concretas. Em 2025, o senador soma ao menos sete inquéritos abertos ou arquivados no STF, sem condenações até o momento. Especialistas em direito penal, como consultados pela Carta Capital, destacam que a rejeição de denúncias não equivale a absolvição, mas reflete o rigor probatório da corte.

Trajetória política de um dos principais líderes do Centrão

Ciro Nogueira Lima Filho (Teresina, 21 de outubro de 1968) é senador pelo Piauí desde 2011 e, desde 2013, presidente nacional do Partido Progressistas (PP), uma das legendas mais influentes do chamado Centrão. Sua carreira política é marcada por longevidade, capacidade de articulação e por ter se tornado um dos políticos mais poderosos do Brasil nas últimas duas décadas. Início da carreira (anos 1990–2000)

  • 1994 – Aos 26 anos, elege-se deputado federal pelo Piauí (na época pelo PFL, hoje União Brasil), sendo o mais jovem da legislatura.
  • 1998 – Reeleito deputado federal.
  • 2000 – Candidata-se a prefeito de Teresina, mas perde no 2º turno para Wellington Dias (PT).
  • 2002 – Reeleito deputado federal pela terceira vez, agora pelo PP (antigo PPB).
  • 2006 – Reeleito pela quarta vez consecutiva como deputado federal, sempre com votações expressivas no interior do Piauí.

Ascensão estadual e nacional (2007–2010)

  • 2010 – Eleito senador pelo Piauí com 774 mil votos (61,7% dos válidos), a maior votação proporcional do país naquele ano.
  • Durante o primeiro mandato no Senado, começa a consolidar o PP como uma das maiores bancadas da Câmara (passando de 41 para 47 deputados em 2014) e a se aproximar dos governos petistas de Lula e Dilma.

Auge no governo Dilma e impeachment (2011–2016)

  • 2011–2015: Líder do PP no Senado e um dos principais articuladores do partido na base aliada de Dilma Rousseff.
  • 2015: Assume a presidência nacional do PP após a renúncia de Ciro Gomes (não confundir).
  • Março de 2016: Em meio à crise do impeachment, Ciro Nogueira comanda o “desembarque” do PP da base de Dilma, decisão que enfraqueceu o governo e ajudou a aprovar o afastamento da presidente.

Governo Temer e Bolsonaro (2016–2022)

  • 2016–2018 – Sob Michel Temer, o PP volta ao governo e indica Ciro Nogueira para liderar a articulação política. O partido ocupa ministérios como Saúde e Cidades.
  • 2018 – Reeleito senador com 736 mil votos (68,7% dos válidos).
  • 2021 – Em um dos movimentos mais surpreendentes da política recente, Ciro Nogueira aceita o convite de Jair Bolsonaro e assume a Casa Civil (28 de julho de 2021 a 31 de dezembro de 2022), tornando-se o principal articulador do governo no Congresso e responsável pela aproximação definitiva do Centrão com o Palácio do Planalto.
  • Durante o período na Casa Civil, coordenou a liberação de emendas parlamentares (orçamento secreto), a aprovação da PEC Kamikaze e a costura de apoio para a reeleição de Bolsonaro.

Pós-Bolsonaro e governo Lula 3 (2023–atual)

  • 2023 – Com a derrota de Bolsonaro, Ciro Nogueira volta ao Senado e reassume a liderança do PP.
  • O partido mantém postura de “independência” em relação ao governo Lula, apoiando pautas econômicas (como o arcabouço fiscal) e rejeitando outras (reforma tributária em alguns pontos).
  • 2024–2025: Continua como presidente nacional do PP e é cotado como possível candidato ao governo do Piauí em 2026 ou ao Senado novamente em 2030. Seu grupo político domina o interior do estado e mantém forte influência em prefeituras.

Principais cargos ocupados na carreira

  • Deputado federal (1995–2011) – 4 mandatos
  • Senador da República (2011–atual) – 2 mandatos
  • Presidente nacional do PP (2015–atual, reeleito em 2018, 2021 e 2024)
  • Ministro-chefe da Casa Civil (julho/2021–dezembro/2022)
  • Líder do PP no Senado (várias vezes)
  • Líder do governo Bolsonaro no Senado (2021–2022)

Influência atual (2025)

  • Controla um dos maiores partidos do Centrão (47 deputados federais e 7 senadores).
  • É considerado um dos parlamentares mais ricos do Congresso (patrimônio declarado em 2022: R$ 38 milhões).
  • Seu grupo político elegeu cerca de 600 prefeitos em 2024 (2º maior número entre os partidos).
  • Continua sendo peça-chave em qualquer negociação de emendas, cargos e apoio a governos no Congresso. Por Alan.Alex / Painel Político

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