Devemos colocar vírgula antes de ‘etc.’?

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Dicas de Português do Professor Pasquale Umberto Queiroz
Professor Pasquale explica: Primeiro, ele lembra que “etc.” sempre se escreve com ponto, mesmo que apareça no meio do texto. A forma correta é: “Comprei laranja, banana, etc. e depois fui ao cinema”.
Essas três letrinhas – “etc.” – são a redução de uma expressão do latim, “et coetera”, que significa “e outras coisas”.
De acordo com Pasquale, há duas maneiras de se proceder.
“Há quem leve ao pé da letra a etimologia, ou seja, a origem. Se ‘etc.’ significa ‘et coetera’, ‘e outras coisas’, quem age assim não colocaria vírgula antes de ‘etc.’ na frase ‘Comprei laranja, banana, abacate etc.’, assim como não colocaria vírgula na frase ‘Comprei laranja, banana, abacate e outras coisas’.”
“Assim procede, por exemplo, o dicionário Houaiss”, explica o professor.
Então a pergunta está respondida? Ainda não.
O professor diz que, como muitas pessoas perderam a noção histórica do sentido da palavra, elas consideram que o “etc.” virou uma palavra, mais um elemento da enumeração.
“Assim procede, por exemplo, o texto do formulário ortográfico oficial”, diz. “O que não quer dizer que seja essa a única forma possível. As duas formas são possíveis.”
Ele acrescenta que alguns órgãos da imprensa colocam vírgula antes de “etc.” e outros não. “E ambos acertam. Então tanto faz.”
Existe, porém, um caso em que a vírgula é obrigatória: “Se você repetir ‘etc., etc., etc.’, aí você passa a ter uma enumeração, como outra qualquer”.
“Você age como age quando diz ‘laranja, banana, abacate etc.’. Vai virgular, vai separar um elemento do outro da enumeração.”
Devo usar ‘esse’ ou ‘este’?
Os leitores Pedro Renan, Thayná, Glauco, Murilo e Israel perguntaram sobre o uso correto dos pronomes demonstrativos (este, esta, isto, esse, essa, isso, aquele, aquela, aquilo…).
Pasquale explica que há mais de um emprego para eles – são usados para indicar lugar e posição, para se referir a tempo e desempenham papel essencial na coesão do texto.
Lugar
De acordo com o professor, o uso mais básico e tradicional é aquele que indica a posição do próprio falante ou a posição de algo em relação a ele.
Se o falante quiser se referir aos próprios óculos, que estão consigo, deve dizer: “estes óculos”.
Se quiser indicar os óculos que estão com a pessoa com a qual está falando, deve dizer: “esses óculos”.
Mas se a intenção for se referir a óculos que não estão nem perto dele e nem perto da pessoa com quem está falando, deve dizer “aqueles óculos”.
Outro exemplo é o caso de falante estar na cidade de São Paulo, mas conversando pelo telefone com um amigo que mora em Curitiba sobre alguém que mora em Olinda.
Ele dirá “esta cidade” para se referir a São Paulo, onde ele próprio está, “essa cidade” para se referir a Curitiba, local da pessoa com quem está conversando, e “aquela cidade” para se referir a Olinda.
Tempo
O professor explica: “Nesta semana” é a semana que está em curso. “Nesse mês” é o mês que já foi citado. “Neste domingo” pode ser o domingo que está em curso ou o domingo que está para chegar, domingo da semana em que se está.
“E que não pode ser assim um mês muito distante. Não me pergunte qual é o tamanho dessa distância, a coisa é meio subjetiva. Se eu for falar de uma passagem bíblica, por exemplo, eu vou falar ‘naquele tempo’, ‘naquele’, lá longe”, diz Pasquale.
“Eu até poderia dizer ‘nesse tempo’, mas, quando se trata de um tempo muito distante, eu vou dizer ‘naquele tempo’, ‘naquele ano’, ‘naquele período’”, acrescenta.