Descoberta do vídeo ‘festa da cueca’ apreendido pela PF agrava situação de Moro no STF: O que diz o delator Tony Garcia

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Em uma operação determinada pelo Supremo, a Polícia Federal desenterra gravação que, segundo denúncias, foi usada por Moro para pressionar juízes do TRF-4

Uma operação da Polícia Federal (PF), autorizada pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), realizada na última quarta-feira (3), na 13ª Vara Federal de Curitiba, trouxe à luz um vídeo conhecido como “festa da cueca”. A gravação, que registra um encontro entre desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) e garotas de programa em um hotel de luxo na capital paranaense, estava armazenada nos arquivos da vara que foi comandada pelo ex-juiz federal e atual senador Sergio Moro (União-PR) durante os anos cruciais da Operação Lava Jato.

Até então tratada como rumor ou peça desaparecida em investigações, a descoberta reforça denúncias graves feitas pelo empresário e delator Tony Garcia, que atuou como colaborador da Lava Jato. Garcia, em depoimentos e entrevistas, acusa Moro de tê-lo recrutado como “agente infiltrado” para coletar informações e gravações comprometedoras, com o objetivo de coagir magistrados e influenciar decisões sensíveis no TRF-4. O vídeo da “festa da cueca”, segundo ele, seria uma das provas centrais desse suposto esquema de chantagem judicial, ocorrido em 2003, anos antes do início oficial da Lava Jato, mas em um contexto de investigações sobre doleiros e corrupção.

Em entrevista ao podcast Fórum Onze e Meia, o advogado Roberto Bertholdo, um dos alvos da Lava Jato e profundo conhecedor dos bastidores da época, confirmou a existência e a circulação das gravações entre pessoas próximas a Moro. Bertholdo, que enfrentou ações na vara de Curitiba, descreveu o material como uma ferramenta estratégica para “proteger ou ameaçar” desembargadores. Ele destacou que um dos participantes da festa “chegou a julgar o processo do presidente Lula” e mantinha proximidade com o então juiz. Sobre o uso do vídeo, o advogado levantou uma dúvida pivotal: “Não sei se Sergio Moro usou isso para protegê-lo ou para ameaçá-lo, ou se ele [desembargador] se aproximou de Sergio Moro justamente para ele o proteger”.

Bertholdo ainda alertou para o impacto duradouro dessas revelações: “Essas gravações de festas de fato existem. A gente não sabe onde está, mas expõem pessoas importantes do poder judiciário e TRF-4”. Sua declaração ecoa o temor persistente entre magistrados e procuradores de que o conteúdo, agora em poder da PF, possa vir a público, reacendendo questionamentos sobre a imparcialidade de decisões que moldaram o curso da Lava Jato.

Além do vídeo, a operação recolheu documentos físicos anteriores à Lava Jato, incluindo materiais relacionados ao próprio Tony Garcia e ao doleiro Alberto Youssef, um dos principais delatores da operação. Esses arquivos, descritos por Garcia como “mais de 400 horas de gravações” em disquetes e mídias antigas, estavam em uma caixa de arquivo amarela na vara – um detalhe que ele próprio havia mencionado em depoimentos ao STF. A busca, determinada em outubro por Toffoli após as denúncias de Garcia, também mirou processos de doleiros e uma ação de calúnia movida por Moro contra o próprio Bertholdo

Essa não é a primeira controvérsia envolvendo Moro e irregularidades na Lava Jato. Em 2024, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) apontou, em relatório oficial, que o ex-juiz atuou em conjunto com o procurador Deltan Dallagnol e a juíza Gabriela Hardt para destinar R$ 2,5 bilhões de recursos recuperados a uma entidade privada, em vez de devolvê-los aos cofres públicos. Moro classificou o documento como “ficção”, mas a decisão do CNJ reforça críticas à condução da força-tarefa.

A apreensão do vídeo enfraquece as tentativas de Moro de desqualificar as acusações de Garcia, que sempre se posicionou como peça chave em um mecanismo de “coleta e uso político de informações sensíveis”. Com o material agora nas mãos da PF, o STF ganha elementos concretos para aprofundar a investigação sobre até que ponto a força-tarefa de Curitiba utilizou gravações íntimas para pressionar magistrados – um método que, conforme as denúncias, teria influenciado decisões fundamentais, como as que condenaram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Nas redes sociais, a notícia gerou repercussão imediata. Postagens no X (antigo Twitter) somam milhares de interações, com usuários compartilhando artigos de veículos como Metrópoles, Revista Fórum e Brasil 247, e memes irônicos sobre a “República de Curitiba”. Perfis como @analise2025 e @rogeriotomazjr destacaram o episódio como “simbolismo total” da podridão nos bastidores da operação, enquanto Moro e seus apoiadores permanecem em silêncio sobre o tema em meio a postagens sobre outros escândalos.

Para contextualizar os principais fatos da operação, veja a tabela abaixo:

Essa descoberta não apenas questiona a lisura da Lava Jato, mas também expõe as fragilidades de um sistema judicial que, por anos, foi visto como baluarte contra a corrupção. O caso segue sob sigilo no STF, mas sua evolução pode redefinir o legado de Moro, de herói anticorrupção a figura sob escrutínio. Por Alan.Alex / Painel Político

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