Voluntariado? Como praticá-lo sem a intenção de mudar o currículo, mas de servir ao bem-estar de quem precisa de ajuda extraordinária?
A resposta não é fácil, mas é necessário comparar. O voluntariado é um ato filantrópico praticado por gente que quer ver a melhoria das coisas que o mundo enfrenta, e hoje, muito mais que ontem.
Estar no front da guerra como voluntário é um ato de herói, que muitos poucos fazem. Imagine agora você estar em Alepo (nome antigo), ou Allepo (moderno?), cidade na Síria, no fogo cruzado, entre a vontade dos rebeldes e a tirania do Governo, que não cede? É algo além de nossa imaginação, pois o risco é a vida, mas alguns estão lá, talvez pessoas da própria comunidade, que, como Tiradentes aqui no Brasil, dar-se-ão ao ato de sacrifício.
O outro voluntariado é aquele simples, do dia a dia, que ajuda a pessoas humildes, talvez pobres no sentido legal, em enchentes, intempéries que nãos nos esperam, ou na extrema delicadeza de doenças em família.
Não se venha agora comparar o voluntariado de formandos em faculdades pelo Brasil no Projeto Rondon; isso não; ali é coisa “chique”, com orientação maciça de professores, para que as atividades e o resultado positivo repercutam em nome da Faculdade empreendedora, que beneficie programas oficiais do Governo de hoje, e todos tirem “vantagens”, semelhantes a ONGs fajutas, que nada fazem, e se dizem “órgãos filantrópicos”, para que diretores recebam até um milhão de reais “em nomes de serviços prestados”. O serviço houve, mas falho; os valores recebidos são exorbitantes e indevidos.
Trabalho voluntário é voluntário, nada mais; e como a semântica do nome diz, nada se recebe; é voluntário, voluntarioso, espontâneo, gratuito; aquele comandado pela espiritualidade.
Até que o ponto o jovem no Brasil teria tendência de ser voluntário, de pertencer a um grupo de voluntariados? Parece que de pouca tendência, pois famílias há que já incutem nos jovens, desde cedo, a discriminação – “cuidado com o velho do sacão; ser pobre é ser infame; pobre tem mais que morrer; preto quando não c… na entrada, c… na saída”, e por aí vai, com uma série interminável de ofensas.
De quem é a culpa?
Melhor não se ajudar, que ajudar com interesse, ou falando mal, ofendendo a classe ajudada. Temos, mesmo, discriminação oculta, simulada, de que pobre merece mais a morte que a ajuda. Não seria aquele programa do PT de dar “esmola” ao povo. Seria o princípio da dignidade, apregoado talvez por D. Bosco – não dê o peixe; ensine a pessoa a pescar.
Um artigo diz o seguinte: “Fazer trabalho voluntário e falar outro idioma conta pontos”, isso é bom. Mas a intenção é fazer ponto no currículo, e isso não caracteriza o trabalho voluntário. (?)
Tomara que este depoimento seja fundamental num trabalho voluntário sem a intenção, de fato, de que seja apenas para ajudar no currículo do formando: “… Fiz muitos trabalhos voluntários, pois sabia que aquele conhecimento ia ser mais formativo que qualquer outro remunerado naquele momento”, disse uma voluntária, formanda em Vitória, ES. No entanto, adiante, outro depoimento pode desfazer, em parte, o que antes foi dito: “A experiência adquirida (…) durante o período acadêmico é um dos principais pontapés para que um novo profissional conquiste o primeiro emprego”. Basta trocar “primeiro emprego” por experiência, e que se esteja ajudando ao necessitado.
A não ser que o jovem “empreendedor” esteja confundindo “estágio”, remunerado ou profissional, com trabalho voluntário, e este ele o pratica para somar pontos em seu currículo. É preciso ter outra visão.
Parabéns a quem pratica o trabalho voluntário sem segundas pretensões.