De quem é a culpa? ( 23 de novembro/2014)

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“Animais trafegam na pista” – inocência de quem fala, prosopopeia – já que o ente é um animal – ou aberração linguística?

Uma coisa ou outra, certo é que estão brincando com a segurança do pedestre, e também com a própria segurança no trânsito, desleixando-se de responsabilidades. Há omissão do Poder Público?

Lugar de animal é no campo, quer seja de raça ou pé-duro. Animal com pedigri somente em apartamento chique, como se sabe, motivo de muitas contendas jurídicas. Nos apartamentos, não se trata de cavalo ou boi. Com relação ao tráfego – por isso, o uso do verbo trafegar –, para usar uma linguagem técnica, estamos falando de equinos, muares, asininos, bufalinos, ovinos, caprinos, e outros que ‘vivem perambulando’ nas vias, urbanas ou não. Até os suínos, estes abundantes, por sinal – chafurdando-se em lamaçais –, de que muito gostam, já que os humanos não lhes dão água limpa. Aliás, falta muita água, e como sobrar para os porcos? Peça-lhes que tomem banho de chuva, quando esta vier. Se vier… Se for no sertão, morrerá um suíno, ou será morto, e não sentirão o ‘bodum’ de sua pele que nunca tomou banho.

Este é o tema de hoje, sobre o qual se pode discorrer de forma poética, trágica, irônica ou jurídica. Por que animais vivem soltos em vias públicas? Por que o Poder Público não os ‘interna’ no campo adequado?

Falta, ao que se sabe, um Curral do Concelho – local a que são recolhidos os animais de grande porte que ficam soltos em vias públicas. O Brasil perdeu esse costume, antigo e salutar, e demandas têm surgido sobre o assunto, no momento, delicado. ‘Antigamente’, o Município, com uma visão humana de administrar, respeitando-se o direito do animal (para não ser maltratado) e o do humano (para não sofrer algum acidente), nos dias das feiras-livres, todas e quaisquer espécies eram recolhidas a um local em que ficavam até o final da tarde, quando seus donos voltavam à origem, depois de vendidos os produtos trazidos nos lombos dos pobres coitados. Cargas pesadas de farinha, melancia, abóbora, milho maduro ou ensacado, e frutas comuns – laranjas, mangas, bananas. Muitas bananas!

No Curral do Conselho, tinham atenção e carinho – um pouco de ração, ou um capim cortado ali perto (que vicejava à beira do rio pequeno) ou mesmo um feno (luxo para aqueles tempos e naqueles locais). Um cavalo de corrida, Paturi, de seu Valério, recebia esse tratamento, porque tinha que se manter bonito, sadio e forte, para ganhar a próxima corrida no Prado – local onde aconteciam os páreos nos domingos à tarde ou nos feriados… Foi-se esse tempo, mas fica a saudade. Hoje, entretanto, os animais estão soltos causando acidentes, depois de maltratados em carroças vis. Que diferença o tempo causa, hein!

A todo instante, tem-se notícia de acidentes graves envolvendo animais nas vias públicas, de cidades pequenas ou grandes, e nas rodovias. O Código Nacional de Trânsito, ao que se sabe, não tem dado cabo dessa proibição. Fala-se, fala-se, mas a covardia fica na mesmice: animais e pessoas morrem em acidentes de trânsito, nas estradas e nos centros urbanos.

Quando veremos o contrário – respeito ao animal e ao ser humano?

Não se pode dar um prognóstico, não se pode dizer uma hipótese. Não há certeza de nada. Depende das providências tomadas pelo Poder Público – municipal, estadual ou federal, conforme o local em que aconteça o desastre, o sinistro.

Uma observação rápida que pode nortear o motorista à noite em autopista: visto o animal, abaixe de imediato o farol, reduza a marcha, não buzine; e, se preciso, use o pisca-pisca alerta para o motorista que vem à sua frente ou atrás (não é demais usar a advertência). Fazendo isso, a possibilidade de acidente com animal é bastante reduzida. A não ser que o jeguinho, lento como é, esteja cochilando ou manquitolando. Ele vai demorar a sair da pista, mas você não vai morrer ou matar um inocente.

Se você não fizer nada disso, e mantiver a velocidade, que pode ser alta, a visão do animal se encandeia, e ele se perde – fica estático, e você o atropela, mas o primeiro a morrer é o motorista imprudente. Não adianta o motorista questionar isso ou aquilo. Se estava em alta velocidade e destampou na curva com o animal na pista, aí ‘não tem jeito’ – haverá uma fatalidade.

Pense um pouco – por que o motorista atropela uma anta, uma capivara, um tamanduá, em pleno Pantanal sul-mato-grossense, como acontece na entrada de Poconé, no Mato Grosso do Sul?

Por causa da imprudência. Então, a culpa não é do animal – é do motorista na autovia, e de ambos na via pública – do motorista e do Poder Público.

A sensatez humana pondera mais cuidados quanto a esses casos (os acidentes com animais), e o tema requer mais atenção das pessoas, direta e indiretamente. O que se tem visto são os maus-tratos com os animais, e os descuidados do Poder responsável para que se evite o acidente, com lesão fatal.

De quem é a culpa? Pense nesse assunto.