De quem é a culpa? (19 de Fevereiro/2014)

9

 “ – Ah! Se essa moda pega!”

Este artigo não vai falar de letra de música, aliás, algumas escabrosas, nem de roupas, acessórios e comportamentos femininos e masculinos que caem na mídia e viram coqueluche nacional. Não se reporta aos produtos dos estilistas.

Este artigo quer chamar a atenção dos desmandos que estão acontecendo no País, naquilo que tange à visão de pessoas ‘justiceiras’ ou assim são chamadas.

A Ética jornalística tem tido precaução com certas veiculações, como notícias de suicídios, que podem influenciar outros a terem o mesmo procedimento. Dizem que a notícia de fato assim estimula ato similar.

E outros, horrendos como são, não teriam o mesmo efeito se noticiados com intensidade?

Toda ‘moda pega’, nem que saiba de forma efêmera, mas tem sua fase de ouro e vira mania. Não estamos vivendo a mania de colocar fogo em ônibus? Mania de se interditar rodovia com fogo para dizer que se faz um protesto? Por que o protesto não é pacífico? Bandeiras, dizeres, fôlderes, mensagens, palestras – nunca se viu uma passeata de protesto com alguém carregando um megafone a divulgar sua mensagem com termos de protesto… Por quê? Seria falta de base, de conhecimento para atuar dessa forma?

Nunca se viu uma passeata e no final do percurso um palanque em que houvesse um discurso, como se fosse o local da boca-maldita, para se dizer o necessário sobre um crime, um erro, o abuso de autoridades etc.!

Falta, realmente, princípio nesse sentido. Falta conhecimento. Falta experiência.

São muitos os casos, são muitos os motivos que levam incautos a fazerem passeatas descabidas; o protesto por razões justas, de maneira pacífica – forma comum de se expressar, não têm acontecido. Surge o vandalismo. Dizem, agora, depois do fato no RJ em que foi atingido o cinegrafista, que até existe jovem recebendo valores para a prática do que não presta para nada. Por que rojão? Por que não trouxe a bandeira de seu time com um dizer filosófico? Por que não pediu a seu professor que redigisse uma frase de efeito?

O fato é que muita coisa está virando moda, daí o questionamento introdutório deste artigo…

Virou moda amarrar jovem infrator com corda a poste? Com corrente, corda, ou outro material, não é a atitude correta; ou o Estado toma conta de sua segurança, protegendo seu cidadão, ou iremos à guerra civil, à bancarrota, à insegurança pura e simples. Nós somos o poder somente quando sabemos reivindicar democraticamente, quando sabemos votar, quando sabemos aceitar ou não aceitar certos casos – por isso que o deputado-prisioneiro teve seu mandato cassado, porque o povo soube exigir da Câmara Federal o voto aberto, uma arma maior que um decreto, que uma lei criminal etc.

Então, imita-se o uso de drogas, que é chique, já que bacanas também o praticam, e se segue um efeito-dominó desastroso – seria bom se ver o efeito-dominó da leitura, do livro barato, do cinema em praça pública, da escola formadora (com poucas aulas e muito entretenimento), do voto não-obrigatório, da aplicabilidade da lei de responsabilidade fiscal, do prefeito sério etc.

Diz a notícia do jornal – “Funcionários de uma padaria (…) reagiram a uma tentativa de assalto agredindo e imobilizando um adolescente acusado de praticar o crime” (sic).

Não cita este comentário a cidade em que aconteceu o fato, por critério do comentarista no momento, e por ser banal, em todo o País, até prova em contrário, o crime de assalto. Correta, portanto, a atitude de funcionário imobilizar o meliante menor, mas não agredi-lo (“agredindo”), até a chegada da Força Policial.

Chegaremos ao ponto de ser praticado o crime de linchamento? Foi isso o que fizeram com Felipe dos Santos em Ouro Preto, MG, no tempo ido da Inconfidência Mineira?

“Santa Catarina: rapaz foi agredido e amarrado em poste”.  “Lacunas nas leis provocam a sensação de impunidade”, dizem as reportagens.

Estamos caminhando para a brutalidade? Por que adolescentes são reincidentes? Por que o ECA não está cumprindo satisfatoriamente seu papel?

São perguntas, há outras, mas as respostas não vêm.

Os que sofrem assalto reclamam que não adianta registrar BO e que os criminosos continuam soltos, mas também pudera – há crime de corrupção ativa e passiva, há crime de assalto a bancos, há crime de roubo de carga (gente forte que o faz, gente mais forte que recepta o produto), como vamos, então, combater os pequenos delitos, que, somados, viram um inferno?

Mas não se pode praticar ‘justiça’ com as próprias mãos, nos dizeres de artigos, incluídas as partes de sentenças emitidas por magistrados.

De quem é a culpa?

Aguardemos outros fatos, que a Ordem e o Progresso tomem conta do País, que a Política melhore, que o povo não morra de fome, que não falte água, e que o justiceiro deixe de ser o criminoso que é.