O Brasil vive, no momento, ‘o fogaréu’ da corrupção. Apesar disso – o ato corruptivo contumaz já foi veiculado aqui –, vamos falar de aventura. Parece poesia, mas pode ser tragédia.
O que é uma aventura? Aventura, e todos nós temos a concepção exata do que seja aventurar, é o empreendimento ou ato que envolve riscos e ações temerárias, e não oferece garantias do resultado, de sucesso. Quase sempre, sobra algo sinistro.
A aventura numa corrida ao ouro pode ser trágica. A aventura do voto nos dá os resultados que estamos vivenciando. A aventura da vida perigosa pode não dar camisa de linho nem de seda, mas um farrapo que envergonha o autor da façanha.
Vamos fazer uma aventura pela Hileia Amazônica? Vamos fazer uma aventura amorosa? Alguns fazem a aventura comercial, e se dão mal. Só os amigos iriam comprar em suas lojas, mas como esses não aparecem, ou se vão lá é para comprar fiado, a loja entra na bancarrota. A aventura comercial é aquele empreendimento sem o apoio de um técnico, de um órgão orientador, em que o sujeito, o dono do empreendimento, é afoito e faz tudo sem planejamento. Isso acontece com muitos. O resultado é uma loja aqui, outra ali, e no outro trimestre uma rua com aspecto histórico – aqui houve isso, ali houve aquilo, acolá (não se sabe o quê).
Esse tipo de empreendimento seria mais vantajoso para plantar palma na caatinga baiana e esperar o resultado mixuruca dois anos depois.
Mas vamos acreditar – a aventura nem sempre é tão ruim. Exige coragem, sensatez, tenacidade, e, apesar de tudo, certo planejamento ou conhecimento do tema e do local.
Um tuaregue não tem medo de aventurar a própria sorte ou a vida no deserto do Saara. Um caçador não teme a força do leão. Um bombeiro não teme a força das intempéries, embora seu ato seja ‘a aventura’ de salvar vidas, se assim se poderia dizer metaforicamente. Um valente não tem medo do urso polar. Um homem sensato não teme se aventurar a desafiar os poderosos. O homem do campo, também, como destemido, não teme a tempestade tampouco se aventura nela. Ao vê-la se aproximar, guarda a enxada no canto certo e se recolhe ao aposento simples. Com sofreguidão, vai tomar um café e espera passar o temporal imprevisto. Tudo é entregue a Deus. Limpo o céu, ele sai para apreciar o arco-íris ou a beleza do ar puro. A chuva é divina!
Como é grandioso ter a vitória após uma aventura!
Finalmente, qual é sua visão sobre a aventura? Sua noção implica os esportes radicais? Você é aventureiro? Em quê? Zorro foi um aventureiro? Robin Hood foi aventureiro? Sua grandeza era tomar dos ricos e dar aos pobres? Isso é filantropia, justiça social ou aventura?
Os jovens são aventureiros? Alguns, certamente. Existe a aventura ‘desplanejada’, que coloca a vida em risco? A opinião de agora é que jovens fazem tantas aventuras, que acabam perdendo a vida. A aventura é digna de um lutador, mas a vida deve ser colocada em primeiro lugar. A adrenalina aflora, mas o risco de morte deve ser descartado. Nesse caso, não haveria aventura? Muitos se aventuram na droga, no proibido, naquilo que a lei coíbe, sem tomar pé dos obstáculos. Muitas vezes vemos o que vemos – mortes, até por overdose. Isso é ruim. É o oposto da aventura sensata, se assim se pode dizer.
O gosto radical, perigoso, o sabor da coisa, é a aventura. Isso é certo, mas há um limite. Fique agora com a sua aventura. E vamos buscar alguns aventureiros famosos, para terminar o artigo. A aventura tem uma lâmina de duas faces – se uma face leva ao auge; a outra traz o sangue a jorrar, e o aventureiro morre de anemia aguda. A hemorragia não foi estancada por que a aventura foi uma inglória.
Pedro Álvares Cabral fez uma aventura ao descobrir o Brasil? Além de tê-la feito, deixou-nos uma herança maldita. Já veio de lá corrompido, e deixou aqui a sua aula de mestre diplomado com ‘honoris causa’. O Brasil nunca saiu do buraco negro.
Vasco da Gama fez uma aventura ao descobrir o Caminho das Índias? Além de tê-la feito, deixou-nos o espírito aventureiro de que agir como ele seria um sucesso, um empreendimento de luxo, amparado pelo seu rei de então. Sobraram-lhe alguns dividendos? Certamente, o rei de Portugal o convidou para um jantar de gala, foi-lhe oferecida uma mulher de requinte como nova companheira, ganhou aposentos de luxo para o padrão da época, e alguns trocados para gastar com roupa nova e tomar vinho em uma taverna secular. Foi um herói. Todo jovem de então queria imitá-lo, mas sem o apoio dos poderosos a aventura seria uma bobagem a ser guardada em silêncio. E muitos fracassaram, deixando indelével a marca do insucesso.
Vasco Fernandes Coutinho também foi um aventureiro? Sim, mesmo sendo um fidalgo – o que significa ser nobre sem ser da família real, mas amparada por esta. Foi um conquistador nas expedições portuguesas, como nos ensinam os compêndios históricos. Lutou nas Índias, no Oriente Médio e no Norte da África. De quantos nativos ele decepou a cabeça? Não vamos contar por que não sabemos, mas que seu ato aventureiro fez estragos locais, fez.
Você sabia disso? Por isso, foi agraciado com uma Capitania Hereditária no Brasil – outra herança horripilante, e veio a desembarcar aqui, especificamente no Espírito Santo, em maio de 1543. Fundou a Vila do Espírito Santo, que hoje é Vila Velha, no mesmo Estado. (Porque existe Vila Velha no Paraná.) “Após batalhas contra índios e corsários, rebeliões, dívidas (tomava dinheiro emprestado?, já havia agiota nesse período?), vícios (que tipos?), e tragédias pessoais (foi infeliz no amor?), foi acusado de relaxamento moral e morreu relegado ao ostracismo”, como nos narra o artigo, por Manoel Goes Neto, sobre o livro O Donatário, de Jovany Sales Rey, escritor, poeta e roteirista mineiro, radicado no Espírito Santo. In Pensar, A Gazeta, pág. 9, 7 de fevereiro de 2015.
O que é a aventura, pois? Narre a sua para seus amigos. Aguarde outro tema nesta coluna, e que não seja o Petrolão, que atola o Brasil em areia movediça.
De quem é a culpa?