Qual o fim de uma passeata?
Certamente, mesmo não sendo cívica, seu objetivo é a manifestação em prol de um direito, individual – representado por uma entidade, ou coletivo – representado também por uma coletividade.
A manifestação pode caracterizar um repúdio da sociedade a uma arbitrariedade ou desrespeito ao cidadão, além de reivindicar um direito, convocando – em caráter indireto – as autoridades competentes para tomar uma providência. A posição da autoridade é que vai definir a qualidade da passeata, sua justeza e sensibilidade para a resolução do problema.
Passeatas são necessárias e constituem direitos constitucionais; muitas, porém, não são bem conduzidas ou parecem inapropriadas.
A passeata pode caracterizar um sentido nacional – reivindicar direitos trabalhistas, que são de todos; protestar contra a corrupção – como no momento aflitivo por que passa o País. Entre outros objetivos.
A passeata pode caracterizar um sentido estadual – reivindicar direitos dos professores com relação às escolas públicas estaduais, por exemplo, quando o Poder Executivo Estadual ‘convoca profissionais ou os exonera por caminhos ilegais’, alegando emergência, ou outra desculpa esfarrapada.
A passeata pode caracterizar um sentido local ou municipal – reivindicar direitos da saúde pública municipal ou dizer que o Gestor vem cometendo abusos, que são muitos, embora de difícil comprovação perante o Juízo por serem infindáveis as brechas na nossa vastíssima e enovelada legislação.
Assim, elas se dão. E seriam todas bem-vindas, mas aquelas sem pé nem cabeça não merecem guarida. Por exemplo, uma passeata que faz muito barulho e não fica bem clara, perante o público, qual foi sua finalidade.
Faltam cartazes, nomes, denominações – e outros esclarecimentos cabíveis, com uma fala de locução inteligível, não-somente a gritaria de um locutor estabanado, fanfarrão, achando-se naquele momento o homem mais correto do Planeta.
São vistas passeatas em prol da defesa da mulher, que vem sofrendo muita violência e abuso, mas a condução do conjunto deixa a desejar – o horário, o local, a forma de passar diante do público – umas lentas demais, que atrapalham tudo, com muita gritaria e pouco esclarecimento. Outras com poucos dizeres e nada atraentes.
No caso de ter havido um assassinato, é preciso que se tenham nomes certos – da vítima, do autor, dos porquês, e aquelas faixas bonitas, filosóficas, históricas, para atingir o âmago do povo, buscar o clamor público e comover a autoridade competente para o caso. Tudo de acordo com a verdade. Nada de invenção, nada de ficção. Esse caminho legal, o modus operandi, é que nem sempre tem acontecido. Passeatas assim não conduzem a uma decisão justa.
O protesto, que não é o mesmo que a passeata, tem acontecido também de forma indevida – por qualquer coisa, um grupo bloqueia uma rodovia ou uma via pública com galhos e pneus ardendo, com muita algazarra, dizendo que seu ato é justo. Falta algo.
Primeiro, teria o grupo – organizado –que ir até o órgão competente mostrar o erro do autor e o direito do grupo. Não sendo atendido, após algum tempo, buscar a união de mais pessoas, organizar uma espécie de força-tarefa e ir para as ruas, com tudo bem feito, conforme os itens citados acima. Fora disso, há estrondosa perda de tempo.
De quem é a culpa? Por que passeatas, que seriam imprescindíveis, não são feitas, e outras, incabíveis, vêm à tona de maneira inadequada? A resposta é do leitor.