De quem é a culpa? (12 de julho/2015)

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O uso da bicicleta é comum e livre? Seria tolo este artigo? Por quê?

 

É que, a todo o momento, dentro da modernidade, quando se quer dar ênfase à saúde, ao lazer, ao bem-estar, ao esporte, são vistas várias mensagens incentivando o uso da bicicleta. Até a quase gíria ‘bike’, de bicycle (bicicleta), aparece com destaque.

 

Mas como entender essa forma diferente de ver a vida, respeitando-se o meio-ambiente, se logo depois invade nossa tela de tevê, e nossos ouvidos na rua, uma propaganda para aquisição de veículos ‘possantes e atuais’? E logo depois, também, aparece outro enfoque dizendo que os veículos causam poluição urbana?

 

Esse hábito, confuso até, não é uma fortíssima contradição nos costumes do homem moderno?

 

Como dizer que o uso da bicicleta é saudável, se não há espaço para ela e se ela ainda não é tão popular para certa classe social? Já viu um empresário famoso montado em uma magrela? Você já viu o mesmo cidadão fazendo apologia ao uso da bicicleta, mas ele mesmo só se locomove na rua dentro de um veículo moderno e importado! Vai até a esquina mais próxima comprar pão ‘conduzido’ por um veículo de luxo? Esse cidadão respeita o ciclista que passa à sua frente?

 

Como dizer que o uso da bicicleta é saudável – de novo! –, se o número de veículos só cresce, e o setor responsável nem sempre encontra a solução viável para o trânsito pesado?

 

Por que se fala tanto no uso de bicicletas, se o ato de possuir um automóvel é destaque social e a verdadeira evolução de poder?

 

A propaganda diz que a aquisição de automóveis, em geral, os de passeio, implica taxa zero, e tome-lhe carro na rua. Depois, tome-lhe mandado de busca e apreensão para reaver veículos financiados não-pagos. Os bancos não perdoam!

 

Há milhares de veículos em risco, e milhares de cidadãos pagam aluguel, mas compram carro financiado. Não seria de bom alvitre ter seu imóvel para depois pensar em um carro?

 

Segundo uma reportagem, milhões de veículos em SP serão apreendidos por falta de pagamento de IPVA. Imagine a situação. Nem o imposto básico para dar direito ao uso do automóvel foi pago! E as outras contas?

 

Por que, então, esse cidadão não anda de bicicleta? Por que não há ciclovia? Por que esse pedalar não dá destaque ao membro de uma sociedade dirigindo-se ao trabalho? A bicicleta só serve como veículo de lazer? Por que só se pensa em bens de consumo que dão destaque social?

 

Fica-se a pensar – de fato, temos uma contradição – sobre o uso da bicicleta em nosso País, que tanto se tenta fomentar, mas jamais chegará ao patamar de uma Holanda, de uma Coreia do Sul ou do Norte, ou de uma capital europeia. Aqui, não se pensa em trânsito livre, como quer a propaganda – ela nos engana, pensa-se muito mais em destaque social, e a bicicleta não dá esse frissom tão chique. Só o automóvel de luxo o faz!

 

Para viagem fora da cidade, o automóvel tem seu lugar, é justo. Mas aqui a bicicleta deveria ter realmente importância, e não tem, embora se fale muito nisso!

 

De quem é a culpa? De nossa visão social – a bicicleta não é indício de poder aquisitivo, por isso, seu uso é restrito. Nada mais.

 

Há outras comparações lógicas e acertadas que ficam por conta do leitor e de autoridades, mas algo precisa ser mudado. Pode. Deve ser mudado, talvez, não a curto prazo. Esperemos.