Em artigo sobre sexo no qual havia histórias de homo e bissexuais, uma declarante, que se diz pessoa ativa, declarou ao seu médico: “Sou mãe participativa, sempre me achei moderna (…) e tenho curso superior”. Etc.
Quem disse que o fato de se ter curso superior faz a pessoa ser moderna e participativa? Pode ser polêmico, ou que se pise em chão movediço, mas parece que esse requisito não dá a uma pessoa essa modernidade toda nem toda essa participação.
O curso superior daria certa elasticidade aos argumentos defendidos por uma pessoa? Sim, mas não em sua totalidade. Quem não tem curso superior, jamais teria essas qualidades? Sim, mas com certa redução de recursos. Como fica, então, essa prerrogativa de se ter ou não o curso superior?
Fica variável de pessoa para pessoa. Temos indivíduos, sem curso superior, capacitados e desenvolvidos, com boa índole, com boa dose de argumentos, com defesa própria, de tal modo que colocaria na roda outro de escolaridade maior. Que os de formação maior não sejam exibidos; que os de formação mais simples não sejam tão acanhados… Isso é o que se espera da pessoa inteligente e sensata, que comunga um patamar adequado a cada caso – se recua, sabe-se defender; se avança ou acusa, sabe-se limitar até o ponto de estar correta. Pode você, mesmo com razão, ‘atirar numa criança que lhe jogou uma pedra’? Veja o limite de cada caso.
Claro que ser uma pessoa participativa sem curso superior é mais difícil ou raro, mas o inverso não está longe de acontecer. Pode-se arrematar ou deduzir nesse sentido.
O analfabeto também tem boa condição de defesa? Também teria boa participação numa empreitada ou mutirão, ficando à frente do empreendimento?
Varia de pessoa para pessoa.
A pretensão, agora, é a de analisar que a pessoa dona da declaração acima seria, de fato, uma pessoa expansiva, comunicativa, observadora (ela descobriu que seu filho, – a coisa mais linda do mundo!, – seria homossexual). Fazia dele a ideia de um jovem másculo, ‘pegador’, cheio de vida para dar a mulheres, e não a parceiros do mesmo sexo de estirpe talvez menos qualificada que a sua, portadores de beleza bem longe da sua. Ela é moderna e participativa, exatamente, por ser dona de um diploma de curso superior?
A que ponto quer chegar o analista deste artigo? Ao de que, a partir desse diapasão, pode-se fazer uma distinção entre o extrovertido (a senhora), com curso superior, e o introvertido (qualquer um), simples, tímido, acanhado, que não tenha o hábito de participar de certos eventos ou de se dar conta de certas mudanças de comportamento em pessoas da sociedade ou em membros de sua família com os quais vive muito próximo.
Até que ponto o extrovertido se dá bem na vida? Até que ponto o introvertido se dá mal na vida, no trabalho, em suas ações cotidianas? O tímido costuma ser mal visto pelos seus opositores, até – coitado! – como ‘metido’. Metido só por que é calado? Não se deve entender assim o seu comportamento.
Guimarães Rosa, o grande escritor mineiro, cuja primeira obra foi Sagarana (um livro de contos), era um homem tímido, apesar de ser médico, escritor, embaixador, fazendeiro, vivido nas andanças com os homens simples dos sertões das Minas Gerais. O professor carioca, intelectual e escritor Arnaldo Niskier nos dá essa informação.
Então, por que pessoa de tanto talento seria tão tímida? Porque seria de sua índole. Nada mais. Temos apenas que respeitar isso, conhecer a pessoa e não fazermos ‘maus conceitos’ de seu comportamento. Será que a timidez prejudica? Em parte. Mas não seria melhor assim, que ser ‘avançado’ forçosamente, que ser extrovertido exageradamente, apenas para parecer moderno?
O introvertido, que significa ‘voltado para dentro’, é a pessoa que apresenta introversão, isto é, tendência se voltar para si mesmo. Fica enfunado? Seria o tímido? O introvertido é o acanhado, inibido, inseguro. No extremo das análises, o introvertido é o que não tem coragem, medroso, tacanho; figurativamente, fraco, débil. Mas nada além desses termos teóricos – apenas as palavras podem defini-lo; seus atos, no cotidiano, podem ser diferentes, melhores, nem tanto ‘tão tímidos’. Não seria isso?
Seria bom se observar que o tímido é desconfiado. Precisa adquirir confiança de quem está próximo dele para que possa se aproximar mais. Se, em certa vez, percebe qualquer ‘ataque’ de alguém, escapa. Isso não seria bom? Um portador de certa deficiência mental, que não é doença, é assim – confiou, é o maior amigão; desconfiou, não quer saber dessa pessoa.
O extrovertido poderia ‘se achar’, pensando que está abafando, que é o dono do momento. Isso é perigoso. Essa ‘garra’ pode parecer assanhamento, e em alguns é. Extrapola, e extrapolar pode ser um mal, porque se invade o terreno alheio, o terreno da intimidade, limítrofe entre as pessoas.
O extrovertido, ‘voltado para fora’, é expansivo, mas deve ter limites. É falador, comunicativo, mas deve haver, em certa feita, a modéstia, para que somente ele não seja o dono das ideias. Não seria nesse momento que se notaria o exibido?
Cabe a afirmação de que Machado de Assis, considerado escritor clássico, um dos maiores deste País, fundador-mor da Academia Brasileira de Letras, e seu primeiro presidente, era gago, e tímido, mas vencedor.
Qual a distinção entre o introvertido e o extrovertido? No papel, é claro, fica fácil, mas na prática, não. Nem sempre aquele é inferior a este, e este nem sempre é o moderno; e aquele, o atrasado.
De quem é a culpa do nosso mau conceito ou preconceito em caso desse naipe? Até Getúlio Vargas e Adolf Hitler seriam dois tímidos. E, então, o que você pensa agora?