De quem é a culpa? (09 de abril/2014)

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Estupro, agressão contra a mulher, abuso sexual… esses crimes abusivos estão acontecendo de Norte a Sul do País, em todos os horários, em todos os níveis sociais… Por quê?

O brasileiro ainda continua machista? Ou melhor – brasileiros são machistas? Um percentual parece que sim. De onde vem essa cultura?

É necessária a análise profunda, científica, para se chegar a uma resposta plausível, nem tanto satisfatória. Há uma corrente atávica – que vem das entranhas da descendência de um povo (talvez da genética) – que preconiza a teoria: se o pai foi aquele homem ‘pegador’, achando-se másculo, tipo garanhão, valente, machista, é possível que seu filho herde essas características e as queira praticar contra as mulheres. A diferença, de forma nua ou empírica, é que aquele homem fazia tudo isso com sua própria esposa, e ela admitia que era próprio da espécie, ou do homem com quem ela vivia. De forma inusitada, todos os seus desabafos seriam praticados com sua amante (secreta), ou aceitos, sem reclamação da ‘matriz’.

Não havia o caso da Teúda e da Manteúda? Essa pobre coitada recebia todas as descargas elétricas de seu amante, companheiro, concubino, ou como que fosse chamado, mas seria o ‘marido’ dela. Para segurança da sobrevivência, aceitava tudo, até prova em contrário.

Outro caso patente na civilização brasileira, do qual Sérgio Buarque de Holanda muito falou em seu livro Raízes do Brasil, assim como Gilberto Freire em Casa Grande & Senzala, foi o papel da mucama. Não seria parecido com a função de Chica da Silva em Minas Gerais? Aqui, os argumentos não são de total confiabilidade, mas não podem ser desprezados.

O debate, hoje, não é o abuso sexual entre paredes, cometido pelo padrasto, de modo geral, contra enteado e enteada.

Uma reportagem, vista por muitos, disse que brasileiros acham que mulheres que usam roupas decotadas e sensuais ‘merecem’ ser estupradas? Que absurdo? Estupro é justificável por causa da roupa da mulher? E senhoras idosas com roupas até os pés que são estupradas entram nessa estatística? E criancinhas também?

A resposta é cínica, mentirosa, deslavada, proveniente de uma cabeça suja, que vive de atitudes vis e torpes, e agora quer se desculpar… Sabe qual é o grande causador do estupro? A impunidade, a morosidade da lei, a discrepância de artigos de códigos que deviam punir, a prolixidade da lei criada por legisladores ‘fazendeiros, comerciantes, esportistas’, e outros. Essas são pessoas de bem ocupando cargos, mas não têm, na opinião de alguns, como deste, a capacidade para discernir o que pode e o que não pode numa lei, e tantas são elas, que conteúdo de artigos entram em choque com outros. Fácil entender: um artigo ‘manda, ordena isso’; outro ‘desmanda, ordena de forma contrária’. E o advogado fica procurando as brechas da lei, e as encontra. Temos leis ‘que se estupram’ – uma libera, outra condena de forma branda.

Os maníacos estão espalhados por todo o País – sabedores que a lei não vai puni-los rapidamente. Metrôs, ônibus e outros meios são pontos preferidos pelos meliantes.

Veja esta manchete – “Maníaco do Transcol é preso por dois estupros”. Dois apenas? São vários, mas somente alguns podem ser comprovados. E ele vai levando a vida – não trabalha nem estuda, mas assalta, rouba, furta, estupra, e tem vidinha de rei, com o dinheiro alheio. Porque o País permite; porque a lei, indiretamente, lhe dá guarida.

Um aspecto tem que ser considerado – o estupro só se consumava com a penetração do órgão, o falo. Hoje, como explica uma delegada, é diferente – e isso serve para os meliantes falarem que nada cometem: “Ele ainda se apega ao fato de que, antes, só era entendido como estupro o ato consumado. Porém, a legislação mudou. Hoje, qualquer ato de abuso contra a vontade da vítima, é considerado crime de estupro”, explicou a delegada Arminda Rodrigues, do ES, sobre determinado estuprador na Grande Vitória.

Dizem que 26% de engraçadinhos veem na roupa da vítima, e não 56, como quis a reportagem no início, o motivo do estupro. Isso não é motivo. Há descaramento. A roupa sensual da mulher é motivo de beleza, e quem pode ou quer, sem causar vexame ou atos estapafúrdios, em locais impróprios, ou na presença de crianças, que a use. Nada mais.

De quem é a culpa? Da lei, das nossas raízes, como há ainda conceitos tribais na Índia que ‘permitem’ o estupro, até o coletivo, como algo da cultura local, por ser a mulher objeto sexual. Até há casos em que os criminosos dizem que receberam ‘ordens’ dos deuses. Durma com essa! Notícia há de que um adolescente recebeu ordens do Céu para dormir com uma adolescente de 14 ou 15 anos, porque o seu deus lhe disse que deveria amá-la dessa forma. E ficou por isso. Os pais da vítima acharam por bem procurar alternativa para curar o mal, mesmo que se diga que a vítima teve culpa – a lei diz que essa idade é de pura vulnerabilidade – por que a possibilidade de punir o meliante seria mínima. Deixa pra lá!

A coisa está feia. E não se venha dizer que antes já acontecia isso, mas não era sabido. Meu Deus!