De quem é a culpa? (07 de agosto/2013)

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Caso Snowden – o agente da CIA, agora, é traidor, delator ou trânsfuga? Ele foi certo ao ‘atender’ a seus princípios morais? Foi errado ao descumprir as normas estabelecidas pelo seu Governo? Quem está com a razão?

A espionagem norte-americana equivale à invasão do lar e à violação da correspondência pessoal, direito de sigilo de qualquer cidadão, em qualquer parte do mundo.

Quem gostaria de ter seu lar invadido? De ter sua correspondência violada? Não só violada, como também divulgado seu conteúdo? E divulgado, mais ainda, se for negativo, a quem interessar possa.

Este assunto é polêmico – a espionagem sempre existiu, mas hoje está invadindo todos os cantos do Planeta, muito mais que na fase negra da Guerra Fria. Parecia, que fosse assim, que a espionagem existiria apenas entre as duas potências bélicas da época – EUA e URSS. Sabe-se que a última sigla não existe mais. Os próprios estados russos se tornaram dissidentes e hoje são ‘repúblicas’, como a Ucrânia, ex-Estado soviético.

O Brasil tem espionagem? Deve ter, ou melhor, tem. Tem espionagem interna, como a que tem de si para outras nações. A questão é que não se divulga esse conteúdo, nem poderia ser feito. A espionagem tem aspecto benéfico, isto é, ‘profilático’, preventivo? Tem, como o recente caso em que se soube que várias embaixadas de países ricos, França? Reino Unido? Estados Unidos?, seriam tomadas, e antes que os terroristas chegassem, elas foram – temporariamente – esvaziadas e fechadas. Foi um ato necessário. Quando vão ser reabertas, se é que ainda não o foram, não se sabe.

Nesse campo, a espionagem seria bem-vinda. E quanto ao funcionário norte-americano Edward Snowden, seria justo aprisioná-lo de um lado – pelo Governo ianque – para dar-lhe prisão perpétua ou forca por injeção letal; por outro, não lhe conceder asilo político – por outros países, que sejam ou não ‘amigos’ dos americanos? E ele ser deportado? Na opinião de uns, quanto mais esse ‘delator’ ser sufocado melhor; na opinião de outros, cabem a esse ‘traidor’ várias benesses – pois ele alertou nações do mundo inteiro de que os americanos estão invadindo os lares dessas nações, cruzando dados das telecomunicações para saber da vida alheia. Isso nenhum país quer, mas todos querem saber qual país é seu amigo e qual é seu inimigo. Seria uma contradição: nenhum país aceita a espionagem alheia, mas de sua parte quer saber quem está tentando descobrir seus segredos de estado para prejudicá-lo. É estranho!

Edward Snowden é delator na opinião de seus conterrâneos, conforme divulgação em jornais; na ‘ideologia’ do governo de Washington, é um traidor (da Pátria), que merece as mais cruéis penações, e que sejam brabas, talvez a morte, não imediata, porque querem saber, primeiro, seu pensamento, e depois matá-lo. Na opinião, ou no conceito dos direitos humanos, morais, filosóficos, ele é um trânsfuga – pessoa que, em tempo de guerra, abandona a sua bandeira, passando às fileiras inimigas; desertor. Napoleão Bonaparte sofreu com a deserção de soldados que passavam fome; por isso, ele ‘tratou’ seu comandados da melhor maneira possível, pagando-lhes soldos generosos ou vultosos, para que não fossem desertores. Mesmo assim, não conseguiu evitar sua derrota, consumada e crucificada em Waterloo. Trânsfuga é ainda a pessoa que abandona seus deveres, chamado “trânsfuga da honra, da virtude”. Seria essa a melhor qualificação para Edward Snowden, ou ele seria um herói ‘derrotado’? Sabe-se que está em asilo político na Rússia, que depois não se sabe – nem ele mesmo – para onde vai. O Governo americano quer a sua extradição, ou sua captura, mesmo que seja na marra. Ninguém duvide de nada. Ninguém seja bobo para dizer que tudo vai ficar em branco.

Que ele teve extrema coragem, teve. Deve ter pensado – ‘Como vou ficar aqui bisbilhotando a vida de todo mundo só para agradar ao meu chefe’? Por isso, resolveu fugir e depois dizer o porquê – que não estava se sentindo bem em fazer o que determinava sua Nação, para ele, certamente, uma nação-espiã, covarde, invasora de lares de todo o mundo.

Até Evo Morales, presidente da Bolívia, teve seu direito usurpado – ficou por cerca de 12 horas com seu avião retido no aeroporto de Viena (a pedido de quem?) por supostamente estar levando armas para grupos dissidentes. Vasculhado seu ‘domicílio’, nada foi encontrado; só assim foi liberado. Que foi uma humilhação, ninguém nega. E se fosse o avião norte-americano, o que teria acontecido? Uma nova invasão ‘a algum Iraque’ da vida? Uma guerra devastadora?

Vários noticiários ocuparam jornais de todo o Planeta – “Snowden pode deixar aeroporto até amanhã”, manchete do dia 23 de julho quando ele estava ainda no aeroporto de Moscou, depois de alguns dias em embaixada. Nesse artigo, esse dissidente foi classificado apenas assim: “Edward Snowden, o ex-prestador de serviço de uma agência de espionagem dos EUA…” Não parece tão eficaz essa ‘definição’: prestador indica pessoa que presta serviço a uma empresa, e esta serve a um órgão ou poder, de qualquer nível (legislativo, executivo, judiciário). Ele recebia proventos do Governo Americano por ser funcionário governamental atuando na NASA, que fazia a espionagem a seu bel-prazer. Fazia e continua fazendo. Outros que estão lá não querem fazer o mesmo, por terem medo, por não terem interesse em fazer qualquer denúncia, por acharem normal seu País, grandioso como é, invadir a liberdade alheia? Ninguém duvida que o povo norte-americano se ache o mais poderoso do mundo.

Jornalista vai lançar livro sobre caso Snowden – o jornalista Glenn Grenwald, do periódico britânico “The Guardian”, – disse em entrevista que vai lançar livro sobre o caso, demonstrando abuso contra os direitos humanos. A entrevista veiculou a imprensa mundial.

“Garantia à Rússia – EUA não pedirão pena de morte para Snowden”, garante outra manchete; usa ainda o subtítulo: “Rússia não mudou de ideia e continua negando extradição”.

Já havia manchetes mais chamativas – “Novas Revelações: EUA podem vigiar quase tudo na Internet”, abuso que vêm cometendo. A isso chamam de espionagem eletrônica. Seria justo? Seria dizer que ‘todo mundo espia todo mundo’? O programa norte-americano de espionagem, em que Snowsen atuou, é ou foi chamado de “XKeyscore”. Poderia ser traduzido como “escore de chaves secretas”? O que a imprensa de todo o mundo sabe, como os governantes mundiais, é que esse sistema é de amplo alcance. São cerca de 700 servidores norte-americanos que atuam (trabalham) nele. É uma varredura total. Seria descobrir até o momento em que um tuaregue urina nas areias ardentes do Saara?

De quem é a culpa? A história é longa e não vai terminar tão cedo. Só uma conclusão seria lógica: feito esse processo por um ‘paisinho qualquer’ contra os norte-americanos, ele estaria ferrado; feito por eles, poderosos, contra os mais fracos, não se sabe o resultado que vai vir.