De quem é a culpa? (03 de abril/2013)

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Antes, foi chamado de “xangô”, apelido afetivo, aquele que não tinha capacidade para discernir de que lado sexual estaria – se era homem, se era mulher. Houve quem confundisse uma bissexual com uma hermafrodita. Havia, certamente, um desencontro de informações, mas não se agia de forma pejorativa como hoje, até o ponto de haver lei que tente coibir a homofobia. Por outro lado, os casais homoafetivos se proliferam, sob a égide da lei ou sob a vontade da modernização associada a uma gama de tendências, da genética ao modismo. Respeitemos o direito da escolha sexual de cada um. É o que temos que fazer pela evolução cultural e legislativa. O mundo passa por gritantes e céleres transformações. Ai de quem for contra!

Nesse sentido, é preciso se dar um voto múltiplo ao pastor-deputado Marco Feliciano, eleito com cerca de 210 mil votos, em seu Estado de domicílio eleitoral. Não importa qual seja. Importa sua atuação. Seria merecedor de louvores pela quantidade de votos. Não seria louvado pela sua momentânea atuação – momentânea, porque se espera que venha a mudar suas atitudes, que venha a refletir sobre sua “resistência” ou “pirraça” de se manter à frente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal. Espera-se que refute seu próprio comportamento, por estar diante de um órgão no qual não seria conveniente atuar por pressão, por imposição, por rejeição de sua própria visão como cidadão, não como sua visão de homem público, digamos.

Num momento, o pastor, o deputado, o homem público, ou o cidadão comum, disse que não seria contra o homossexual, mas contra o que ele faz. O homossexual faz o quê? Colhe frutas ao pomar? O homossexual dá aulas? Sim, pode fazer tudo isso, mas o que se tem em mira é que o homossexual tem vida íntima especial. E os outros não a têm? E o douto deputado não a tem? Por que um pode ter, e o outro, não?

Fica claro, pelo menos indiretamente, na sua assertiva, que ele repudia ou abomina quem defende o homossexual. Foi escolhido por um partido, mas não foi escolhido “por grupos de eleitores”, por uma representatividade popular ou associação… Por isso, o bom-senso, que ele o tenha, manda que renuncie ao cargo. Ficar por ficar, somente para dizer que foi o escolhido, não seria uma boa escolha. Há alternativa mais lógica! Qual? Deixe o cargo, que a vacância vai requerer uma via decente. Sua permanência, com tanto repúdio, com tantos atos a seu desfavor, não é mérito para um deputado que obteve mais de duzentos mil votos. Ele acha que na próxima eleição legislativa sua aceitabilidade não vai cair? Claro que vai, se assim permanecer. Sua atitude de se impor sem ser aceito não seria semelhante ao fato de querer obrigar “alguém” a gostar dele?

O deputado disse recentemente: “Fui eleito por um colegiado. E acordo partidário não se quebra. Só se eu morrer”. Não foi escolha eleitoral; foi “acordo partidário”, e aí é que está o liame complicado da “anuência” entre seus pares. Chegaram a um consenso… “Vamos colocar lá o nobre deputado Marco Feliciano; ele merece um cargo…”, algo similar foi pensado ou dito para que o Partido o escolhesse presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara.

Há também uma imagem dele na TV, com a seguinte manchete: “Na TV, pastor Feliciano divide palco com lésbica”. “Ele aparecerá ajudando os participantes do game show a ganharem até R$ 1 milhão e dividiu o palco com Angelis Borges”. Ajudando como? Já não teria sido convidado para participar de programa para camuflar sua homofobia, para parecer bonzinho, e amenizar sua rejeição na função que ora ocupa?

Há clara indicação de que Marco Feliciano deve renunciar para manter sua imagem de bom cidadão, de bom de voto, de bom pastor – “Alves faz pressão para pastor sair: situação “insustentável”.

Alves, a que o artigo se refere, é o deputado federal Henrique Alves, do qual o jornal ainda afirma: “… não tem poder para tirar Marco Feliciano do cargo, que insiste em se manter na presidência”.

Henrique Eduardo Alves é o presidente da Câmara, que pode até substituir a Presidente Dilma, mas “não tem poder para tirar Marco Feliciano”, deputado federal por SP, filiado ao PSC. Alves critica o clima de radicalização na Comissão de Direitos Humanos, e põe a mão no queixo para pensar. Mas garantiu: “a Casa vai encontrar uma decisão a curtíssimo prazo”.

O deputado persona non grata precisa ser sensato. Saia, deputado, que é melhor para Vossa Excelência, em especial para sua imagem – de pastor, cargo que seria duradouro, e de deputado, cargo temporário. Pense assim!

Jean Wyllys, baiano, ex-BBB, deputado fluminense pelo PSOL, pediu reforço em sua segurança. Imagine deputado pedindo reforço! Ele é contra a permanência de Marco Feliciano na função, por ele mesmo, por ser homossexual, e por seus pares, e pelo restrito cumprimento da lei – respeito ao homossexualismo. Nada mais.