Terá sido por mero acaso que Fidel Castro nasceu numa sexta-feira, dia 13 de agosto? A história, por vezes, é dada a ironias. Pois foi num outro dia 13 de agosto, agora em 2015, ao completar 89 anos, que o líder cubano resolveu fazer algo que não lhe é comum: uma piada.
A piada foi apresentada em forma de artigo (ele periodicamente publica suas opiniões no jornal do Partido Comunista Cubano, o Granma). Nesse texto, ao ensejo da chegada ao País do vice-presidente norte-americano, John Kerry, o velho verdugo, ditador aposentado, resolveu apresentar uma conta aos Estados Unidos.
Fidel sabe que seu comunismo (“Somos y seremos, siempre, marxistas-leninistas!”) não pode subsistir sem o dinheiro alheio. Foi por isso que, já nos dois primeiros anos da revolução, ele desapropriou todos os bens de norte-americanos na Ilha. Aquilo que no mundo civilizado se faz mediante indenização ou aquisição, nas ditaduras comunistas se faz na mão grande. E todo patrimônio dos ianques caiu, de graça, no colo do governo de Cuba. Foi aí que os Estados Unidos decretaram o tal embargo, do qual os comunistas tanto reclamam. Esperavam o quê?
Como a economia começou a desandar, por total incompetência produtiva do sistema coletivista de produção, foi necessário, então, combinar com os russos. E a URSS sustentou a Ilha, com subsídios, durante três décadas. Quando, em 1991, eles foram embora, o que já era ruim, piorou muito mais. A fome pegou para valer. A salvação apareceu no outro lado do Mar do Caribe, onde, há muito, corria célere a preparação de uma revolução socialista pela via eleitoral. Com a eleição de Chávez, o governo cubano ganhou um novo patrocinador. A nova aliança recebeu a adesão do Brasil e nós passamos a contribuir para o custeio da ditadura cubana. Tudo ia bem para o governo e mal para o povo até que o preço do petróleo desabou, a Venezuela quebrou, a economia brasileira despencou. Foi só na hora das nossas próprias dificuldades que a nação começou a tomar conhecimento das cortesias que os governos petistas vinham fazendo com o nosso chapéu pagador de impostos.
Sem outras alternativas, em marcha acelerada para outro “período especial” (nome dado na Ilha aos anos que se seguiram à retirada dos soviéticos), Cuba recebe socorro de Obama, e têm início as negociações que estamos acompanhando. Pois é nesse momento que Fidel resolve fazer piada e cobra indenização pelo embargo. A economia comunista não vive sem dinheiro alheio porque não consegue produzir quase nada que possa chamar de seu.
*Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no País, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia, e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.