O ser humano é uma criatura fantástica, dotado de inigualáveis características que o torna o ser por excelência, uma máquina anatômica fantástica; distinguindo-se dos outros animais pela complexa capacidade de pensar, de raciocinar, de articular suas vontades e desejos. Daí resulta algo muito especial que dá ânimo ao ser e que passamos a chamar de alma.
A dicotomia corpo e alma, esta estreita relação entre o concreto, o corpo, e o abstrato, a alma, sempre fez parte das reflexões humanas. Desde os filósofos da antiguidade, entre eles Platão e os seus calorosos discursos até o presente momento nas mais diversas teorias religiosas, busca-se entender esta relação corpo e alma.
Independente das questões filosóficas e religiosas uma coisa é fato: nosso corpo é o templo da nossa vida. Nosso corpo suga, atrai, armazena tudo aquilo que vivenciamos. Estas experiências podem ser positivas ou negativas, mas inegavelmente estarão registradas, marcadas no templo da nossa vida, o nosso corpo.
Um dia participando de uma palestra ouvi a seguinte afirmação: “tudo na vida perdoa, menos a própria vida”. Uma constatação simples, mas real, a vida não para, e percebemos isto pelo próprio ciclo natural do nosso corpo. Ele, ao mesmo tempo que nos permite realizar inúmeras tarefas também nos sinaliza quanto às limitações. É a natureza e seus enigmas.
Outro ponto que merece nossa atenção diz respeito ao cenário atual de desvalorização do corpo; a vida parece estar banalizada, o corpo parece estar banalizado. Mata-se por muito pouco, desconfigura-se o corpo por banalidades ou até mesmo futilidades, estupros coletivos estão se tornando cada vez mais frequentes, crianças abandonadas, jogadas no lixo, e até mesmo a essência das “modas”, que basicamente se manifestam quando conseguem criar uma situação de descontentamento com o próprio corpo. O segredo do negócio parece ser: olhe-se no espelho, veja o seu corpo, entristeça e encontre nos apelos das modinhas uma solução feliz.
Infelizmente, e acredito que erroneamente, aprendemos que o corpo é a fonte dos nossos males. Penso que seria infinitamente mais produtivo se tivéssemos aprendido que o corpo é o templo da nossa vida. Por isso cuidaríamos dele, daríamos a ele a atenção que merece, pois ele gasta-se sem parar e na mesma proporção do seu gasto a vida se vai. No baile da vida é o corpo que nos mantém conectados com as escolhas que fazemos; e das nossas escolhas as marcas que deixamos na vida: boas ou ruins.
Termino este texto com uma frase de Eduardo Galeano, acredito que ela sintetiza tudo: “A Igreja diz: o corpo é uma culpa. A Ciência diz: o corpo é uma máquina. A publicidade diz: o corpo é um negócio. E o corpo diz: eu sou uma festa”.
Walber Gonçalves de Souza é professor e membro das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni.