Comunicação / educação

349

O homem começou a se comunicar em tempos bem longínquos, juntamente com os animais. Os índios mandavam suas mensagens através da fumaça de suas fogueiras. Os primitivos africanos pelos sons dos tambores. Como as distâncias eram muito grandes se fazia necessário os diálogos, sobretudo quando em guerra. No século XVIII Samuel Morse descobriu um sistema que universalizou, graça ao inventor americano Thomas Alva Edison. No princípio os sinais somente eram transmitidos em via única, ou seja, quando se emitia um sinal, ou uma mensagem, somente depois de completada poderia ser respondida, obedecendo o aguardo de sua complementação. Com o tempo, como tudo evoluiu, outros meios de comunicação foram descobertos e alcançados pelo ser humano. Assim, é que hoje encontramos rádio, fax, teletipo, telefone, televisão, e mais recentemente a INTERNET. O telefone celular é uma via exemplar de comunicação, muito popular, tão popular que se vulgarizou. O Brasil já ultrapassou, em muito, o número de aparelhos ao de sua população. Prova da aceitação do pequeno instrumento de comunicação. Além dos benefícios que oferece, há o inconveniente de quem o usa. Há locais em que o mesmo não é permitido, tanto em virtude do ambiente, como também pelo assunto abordado.  Deve levar em consideração a maneira como se faz uso de tais peças. As pessoas, sem lembrar  do fato inicial do sistema inventado por Samuel Morse, bem antes de Edison aperfeiçoá-lo, permitido que se escrevesse ao mesmo tempo em que recebia um mensagem, falam ao mesmo tempo em que está ouvindo a outra também falar. O que não permite que se entenda a mensagem. É um hábito corriqueiro no dia a dia. Frequentemente somos interrompidos em nossos diálogos, com o interlocutor ingressando na conversa com um assunto bastante diverso, desviando o pensamento. Delfim Netto, não se deixava levar por tais interrupções, continuava a falar como se não tivesse sito abruptamente interrompido. Carlos Lacerda era outro exímio em tais assuntos, mesmo quando era abordado por muitos interlocutores, voltava ao assunto, sempre, com mesmo tempo do verbo em continuação ao que estava narrando. É muito irritante, quando se começa a narrar um fato, contar uma historia, e o ouvinte interrompe. Meu Professor de Medicina Legal, José Lima, aqui mencionado por diversas vezes, ao menor barulho na sala, se calava e somente voltava a falar depois que o silêncio era totalmente restabelecido. Aprendi a assim proceder, fato que mais tarde, foi lapidado pelo exercício da profissão. Pois em uma audiência, cada parte fala separadamente, com a supervisão do juiz. Quando um está com a palavra, o outro ouve e quando da sua vez de falar o fará. Esta hábito que conservo, com muito rigor, muitas vezes já me levou a constrangimento e irritação. Certa feita, muito recentemente, fui posto para fora da casa de uma pessoa, que não teve a delicadeza de me convidar para retirar-me, tudo em virtude de eu haver me calado enquanto sua filha menor interrompeu a minha fala. Calei-me para que ela pudesse dizer à sua mãe qualquer coisa. Foi o suficiente da revolta do pai, que disse que eu estava desrespeitando sua filha. Exasperou-se, levantou-se, com a voz alterada, transtornado, numa atitude até então para mim desconhecida e expulsou-me de sua residência. Deixo aqui o desafio para todos, para aqueles que em algum momento nunca foi interrompido em uma conversa, por mais simples que seja. Até mesmo em assuntos esportivos. Provavelmente, não é prova de má educação. Certamente é uma questão de cultura, de ansiedade, até mesmo de desejar clarear a narrativa com alguma palavra ou fato que passa despercebida ao locutor. Mas que é desagradável e irritante, isto é. Perdoa-se, pois nem todos tiveram a felicidade de encontrar um ZÉ Lima como professor, servir ao Exército, ou ombrear-se com um magistrado numa audiência. Educação, infelizmente, não é para todos, decididamente. Teixeira de Freitas, 13 de abril de 2012. *Ary Moreira Lisboa é advogado e escritor.