Ex-ajudante de ordens detalha transações em espécie e afirma que repasses eram fracionados e feitos por meio de intermediários

247 – O tenente-coronel Mauro Cid revelou, em delação premiada à Polícia Federal (PF), que repassou US$ 86 mil em espécie a Jair Bolsonaro (PL), valor obtido com a venda ilegal de joias e relógios de luxo que haviam sido entregues ao então chefe de Estado como presentes oficiais. A informação foi divulgada inicialmente pelo jornal O Globo e reforça a tese de que Bolsonaro se apropriou indevidamente de bens públicos, o que levou seu indiciamento pelo crime de peculato.
Segundo o depoimento de Cid, os recursos vieram da negociação de relógios das marcas Rolex e Patek Philippe, vendidos à loja Precision Watches, na Filadélfia (EUA), por US$ 68 mil, além da comercialização de um kit de joias da marca Chopard, vendido em Miami por US$ 18 mil.
De acordo com a delação, os valores foram inicialmente depositados na conta do pai de Cid, o general Mauro Cesar de Lourena Cid, que morava nos Estados Unidos. Posteriormente, a quantia foi entregue a Bolsonaro de maneira fracionada e sempre em espécie, com o objetivo de evitar o rastreamento bancário.
“QUE o pagamento foi realizado em espécie sem emissão de nota: QUE não há registro da venda dos referidos bens: QUE em seguida retornou ao Brasil com os valores em espécie; QUE ao retomar ao Brasil entregou os U$ 18 mil ao ex-Presidente JAIR BOLSONARO; QUE apenas retirou os custos que teve com passagem aérea e aluguel do veículo; QUE o COLABORADOR ajustou com seu pai, General MAURO CESAR LOURENA CID, que o saque dos U$ 68 mil ocorreria de forma fracionada e entregue à medida que alguém conhecido viajasse dos Estados Unidos ao Brasil”, declarou Cid.
Os repasses foram realizados em diversas ocasiões, incluindo um pagamento de US$ 18 mil a Bolsonaro em Miami, onde o ex-presidente esteve em visita, e um segundo valor de US$ 30 mil, entregue durante sua participação na Assembleia Geral da ONU, em Nova York.
“QUE na cidade de Nova York, LOURENA CID entregou cerca de U$ 30 mil (trinta mil dólares) em espécie, a JAIR BOLSONARO, por meio do COLABORADOR; QUE no final do ano de 2022, LOURENA CID, veio ao Brasil para um evento da APEX, na cidade de Brasília; QUE nesse momento ele trouxe cerca de U$ 10 mil (dez mil dólares), em espécie, e entregou a JAIR BOLSONARO”, afirmou o delator.
Os repasses finais ocorreram entre fevereiro e março de 2023. Em fevereiro, Bolsonaro teria recebido US$ 20 mil do general Lourena Cid, enquanto o restante da quantia foi entregue no mês seguinte, com intermediação de Osmar Crivelati, ex-assessor direto do ex-presidente. Segundo Cid, “os valores foram repassados em sua totalidade ao ex-Presidente”.