Pequim lança o Programa Internacional de Plasma em Ignição e apresenta o projeto BEST, reforçando parceria em busca da energia definitiva da humanidade
Equipamento do projeto BEST na China (Foto: Global Times)
247 – A China deu um passo decisivo na disputa global pela energia do futuro ao lançar, na segunda-feira (15/11), o Programa Internacional de Plasma em Ignição (“Burning Plasma”) e apresentar ao mundo o plano de pesquisa do Burning Plasma Experimental Superconducting Tokamak (BEST). A iniciativa foi anunciada pela Academia Chinesa de Ciências (CAS), por meio do Instituto de Ciência Física de Hefei, em declaração enviada ao Global Times, fonte original da notícia.
O anúncio marca mais um capítulo da rápida evolução chinesa na área de fusão nuclear, tecnologia considerada a “energia última da humanidade”, por simular o mesmo processo de geração de energia do Sol.
Declaração de Hefei reúne cientistas de mais de 10 países
Segundo o instituto, especialistas de mais de dez países — entre eles França, Reino Unido, Alemanha, Itália, Suíça, Espanha, Áustria e Bélgica — assinaram conjuntamente a chamada Declaração de Fusão de Hefei. O documento reforça a necessidade de cooperação científica internacional diante dos avanços já obtidos e dos desafios ainda existentes para transformar a fusão em uma fonte de energia comercial.
Os cientistas defendem “compartilhamento aberto” e cooperação global, convidando pesquisadores da área a trabalharem em Hefei. O objetivo é acelerar o caminho para uma fonte de energia limpa e virtualmente inesgotável.
Song Yuntao: “Estamos prestes a entrar em um novo estágio”
De acordo com a agência Xinhua, Song Yuntao, vice-presidente do Instituto de Ciência Física de Hefei e diretor-geral do Instituto de Física de Plasma, destacou a importância do momento:
“Estamos prestes a entrar em um novo estágio em plasma em ignição”, afirmou.
Ele explicou que essa fase representa um passo essencial para a engenharia da fusão, pois a reação passa a se sustentar como um “fogo”, usando o próprio calor gerado para continuar funcionando.
Song também lembrou que o avanço implica enfrentar novos desafios: “Esta é uma exploração de ‘território não mapeado’ e enfrentará muitos desafios de engenharia e de física”, disse.
Como exemplo, citou a necessidade de aprofundar estudos sobre o comportamento de partículas alfa, fundamentais para manter as temperaturas extremas necessárias no reator.
O pesquisador ressaltou ainda o papel da liderança chinesa: “Ao liderar o programa científico internacional, podemos aproveitar as vantagens institucionais do grande time científico da China e unir a força dos cientistas globais para enfrentar os desafios de fronteira da física da fusão em ignição.”
BEST: a nova “artificial sun” da China
O dispositivo BEST será a próxima geração do chamado “sol artificial” chinês, sucedendo o EAST — equipamento que em janeiro de 2025 estabeleceu um recorde mundial ao manter plasma em estado estável por 1.066 segundos.
Segundo o plano divulgado, o BEST deverá ser concluído até o fim de 2027. A partir daí, serão iniciados experimentos com plasma de deutério-trítio, testando sua capacidade de operação estável em longos pulsos.
A meta do projeto é obter entre 20 MW e 200 MW de potência de fusão, com geração líquida de energia — marco considerado essencial para demonstrar a viabilidade da fusão como fonte energética.
China abre seus laboratórios ao mundo
O Instituto de Física de Plasma informou que abrirá suas principais plataformas científicas — incluindo o próprio BEST — para a comunidade internacional. A medida acompanha o avanço de iniciativas como o ITER, megaprojeto global de fusão em construção na França.
Após meio século de pesquisas, a “ilha da ciência” de Hefei tornou-se um dos principais polos mundiais de estudos em fusão nuclear, apoiada em grandes instalações nacionais como o tokamak totalmente supercondutor EAST, seus sistemas de aquecimento auxiliar e o Centro Integrado de Tecnologias para Reatores de Fusão.


