“Nós juntos com eles”, “Nós distantes deles”, “Nós explorando eles” e “Nós sem eles”.
Final – Na hora de solucionar um conflito, sua ideia é fixa. São mais fieis às agremiações a que pertencem. No momento das eleições, são mais fieis aos seus partidos. E veem partidos novos com desconfiança. Melhor é a tradição. Quando seu partido faz uma má gestão, o castigo é mais suave. É mais tolerante com seus companheiros (sobretudo com a corrupção dos seus companheiros).
Outra descoberta neurocientífica importante foi a seguinte: um experimento da University College de Londres (Reino Unido) sugere que os cérebros dos que pensam “nós separados deles” têm amigdalas (cerebelosas) maiores dos que pensam o contrário (nós juntos com eles). Isso tem a ver com a aversão a perdas assim como com algumas condutas de medo (P. Bermejo, Quiero su voto, p. 56). O desconhecido inibe e imobiliza (daí a refutação do homossexualismo, da imigração, das mudanças da sociedade, das novas energias, do aborto etc.). Não gostam de desafios em relação ao novo e ao diferente. São mais fieis a suas religiões.
Colocados diante de imagens de perigo, apresentam maior sudoração (porque sentem mais medo e ansiedade) e mais movimentos oculares (eye tracking) (P. Bermejo, citado, p. 57). Tudo se confirmou por ressonância magnética. Os cérebros exclusivistas focam nos problemas, não na busca de soluções.
“Nós explorando eles”. Essa terceira visão de mundo corresponde à ideologia da kleptocracia (com “k”, é neologismo). O lema da kleptocracia foi lançado por Hernán Cortês (quando invadiu o México, em 1519): “Viemos aqui para servir a Deus e também para enriquecer”.
Até onde as leis (“compradas”) permitirem, a escravidão é a melhor forma de aproveitamento dos desiguais. “Os humanos que têm os mesmos vícios se sustentam mutuamente” (Juvenal). Os poucos que comandam ou que governam os destinos da nação (as elites) são mais preparados e mais “esforçados” (diz a bandeira saudosamente aristocrata). Seria natural, então, ficar com eles a maior parte da riqueza produzida. As melhores políticas públicas são as que privilegiam aqueles que proporcionam condições de sobrevivência para os desiguais.
Não são proclives a mudanças. Não lhes interessa a evolução dos desiguais. São contrários às mobilidades sociais. Não querem dividir equitativamente o bolo (da riqueza da nação). São opositores das ideias de oportunidades iguais a todos (o que se conseguiria pela educação de qualidade universal). Seu espírito é o do Robin Hood invertido: rouba de todos ou se aproveita de todos para enriquecer (mais ainda) as elites. Isso é feito até o momento em que as instituições de controle (jurídicas) começam a funcionar. Nesse caso, muitos deles vão para a cadeia. Também até o instante em que a sociedade aceita ser servil. Quando ela se aborrece de sua servidão, ela se revolta. A política, para esse tipo de cérebro, “é a arte de servir-se dos humanos fazendo-lhes crer que o político existe para servi-los” (Louis Dumur).
“Nós sem eles”. Reina aqui a lógica do conflito total. Da Guerra. Os desiguais e os diferentes são “inimigos”. São intoleráveis. Na medida em que se tornam inúteis ou perturbadores, devem ser eliminados. Tolerância zero em relação a eles. Os que não puderem ser expulsos ou encarcerados, devem ser exterminados. A imigração de pessoas (favorecida pela globalização dos mercados e das finanças) é sempre uma ameaça. Imigrantes e refugiados pobres com diferentes tradições culturais geram riscos para a identidade nacional. O “nós sem eles” aprofunda as divisões do mundo e partem sempre para o conflito (às vezes para a guerra). Antes de tudo, retoricamente. Depois, efetivamente. Quando os “eles” se organizam, nesse caso, a guerra se instala (na forma tradicional ou na forma terrorista).
O cérebro de cada grupo está cego para os erros (e a corrupção, desde logo) do seu próprio grupo. Só vê os erros dos outros. É um jogo de forças. Logo depois da 2ª Guerra Mundial, na Europa, a 1ª foi amplamente vitoriosa. Dos anos 80 para frente preponderam as demais forças. As elites brasileiras kleptocratas sempre se identificaram mais com a terceira. E assim as elites comandaram a construção de um país extremamente desigual e sistemicamente corrupto. É contra essas elites e sua mentalidade que temos que lutar para alcançar um Brasil novo (refundado).
*Luiz Flávio Gomes, jurista e coeditor do portal “Atualidades do Direito”. Estou no [email protected].