Cadê o PT de Teixeira de Freitas?

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Cadê o PT, que coloria de vermelho as ruas e praças de Teixeira de Freitas? Que se unia numa compacta massa de partes indistintas e fazia ecoar nos quatro cantos da cidade seu grito de esperança? O PT que desentocava excluídos da periferia para com eles dançar e cantar alegremente a certeza do melhor porvir? Cadê aquela gente de pisada forte e segura que fazia estremecer os alicerces da burguesia encastelada? O Davi de camisa rota e desbotada, ainda que vermelha? Os pés descalços imunes aos cacos e buracos? Os que botavam para correr os Golias tocaiados nos becos e nas esquinas? Cadê o PT-POVO, o partido do povo? O PT dos milhares de cabeças mostradas a desafiar adversários? O democrático e transparente partido das frequentes e quase infindáveis reuniões que lhe renderiam a gloriosa pecha de assembleísta?

Cadê o PT de Teixeira de Freitas?

Ao que se sabe, está hoje transformado num “petit comitê” formado por cinco ou seis filiados. Certamente enxertado de adesistas, exóticos “consultores” e gente que nunca foi vista nem na cidade quanto mais no diretório municipal. Todos alegremente empavonados em cargos na Prefeitura Municipal. Ganham bem mais que dez mil reais por mês, em salários, mais agrados. Tão bem, que já tem secretário construindo casas para aluguel.

Alguém daquelas centenas de devotados partidários militantes sabe quem são e o que fazem essas pessoas premiadas para se recostarem no espaldar das poltronas públicas?  Alguém do pretensamente transparente diretório partidário municipal foi convidado a conhecer o que se passa e como se justifica a adequação dos nomes aos cargos? A resposta é NÃO.

O quadro obscuro do toma-lá-dá-cá, que se deu na penumbra dos segredos, não agrada à massa petista de ideologia sincera. Nem os chamados “partidecos de aluguel”, os que têm dono, reúnem-se atrás dos muros ou paredes de portas fechadas a seus filiados para cochichar em canto de boca. Muito menos para negociar cargos com adversários adesistas.  Seria apenas esse pequeno grupo a nata dos filiados competentes e confiáveis? Finalmente, quem é o PT de Teixeira de Freitas hoje?  Seria o pequeno grupo emprenhado de poder decisório a fazer e acontecer? Ou a massa de partidários excluídos de braços cruzados, boquiabertos olhando para um lado e para o outro procurando pelo João companheiro? Impossível achá-lo, tamanha a barreira de bajuladores. 

Incrível, mas, parece que o poder faz mal ao PT. Que PT e poder não se combinam. Os governantes petistas têm o mau costume de desprezar os militantes e ideólogos partidários. Sentem-se muito incomodados com a base partidária. Para piorar, surpreendem a todos com esdrúxulas armações políticas desde a genuflexão a deputados de duvidoso prestígio até o conluio com gente de péssima reputação.

Com que cara vamos pedir votos nas eleições futuras? Muitos petistas, cobertos de vergonha e decepção, já nem usam mais a camisa vermelha. É de pasmar que os responsáveis por essa mixórdia nem se tocam para o desastre político local em curso. Pisoteiam irresponsavelmente a base partidária, promovendo cor, sabor e borbulhas no champanhe adversário, principalmente o das classes ainda dominantes. É, sem dúvida, uma postura lesa partido de graves consequências para com o futuro da agremiação no município, não distante do suicídio.

Em suma, o que se tem hoje é um governo municipal com prefeito eleito pela base petista, mas, cercado de pessoas desqualificadas, provenientes – alguns expulsos – de malsucedidos empregos, chegados ao partido com o propósito de “arrumar a vida” no governo. Que absurdo! O PT não é instância para arrumar a vida de ninguém. É e tem que ser a histórica e eterna trincheira de luta, de questionamento, de indignação com o malfeito e de repúdio aos espúrios arranjos secretos. Premiar jamais a sabujice, nem qualquer postura lambe-lambe que leve ao sectarismo, à exclusão de valorosos companheiros de luta.

Aparentemente o PT ainda subsiste à sombra do Governo Federal com seus programas de resgate social. Fora isso, é lamentável a inépcia que permeia a maioria dos governos municipais e estaduais petistas. A briosa história do PT deveria inflar o peito dos fiéis partidários, energizar-lhe com entusiasmo e ser sua maior motivação para participar na política e na convivência social. Sem isso, a famosa camisa vermelha se desbota, a estrela se apaga e os pés dos caminhantes trabalhadores se esfolam nas armadilhas.

É, pois, com tristeza que se percebe, hoje em Teixeira de Freitas, profundo desencanto nos que sonharam ver a prefeitura como um castelo popular de competência e eficácia, edificado à sombra dos perfis moral e social do Dr. João Bosco. Em seu lugar, porém, constrói-se uma casa de aspecto mal assombrado e de acesso controlado por mordomos tomados por seus interesses pessoais. 

*Roberio Sulz é professor universitário; biólogo, biomédico (B.Sc.) pela UnB; M.Sc. pela Universidade de Wisconsin, EEUU. [email protected].