Betinho – Um sonho de Natal

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Final- Propositalmente, deixei Betinho por último e já no final da reunião perguntei ao mesmo qual era seu sonho de Natal.
O pequeno ouvinte, que permanecera em silêncio até ali, por mim provocado, começou narrando timidamente que fora menino de rua e sempre que chegava o Natal buscava se acercar de padarias e armazéns, na esperança de conseguir um pedaço de bolo ou um pão dormido, ou quem sabe uma bola de assopro.
Mas, era sempre enxotado pelos adultos, porque diziam que ele era um pivete, menino de rua, trombadinha, e que para ele Natal não existia, sendo que invariavelmente as pessoas que se sentiam incomodadas com sua presença chamavam a Polícia e o obrigavam a correr, sob ameaça de apanhar.
Fugindo sempre, seu Natal era percorrer as ruas em busca de abrigo e vasculhar as latas de lixo à cata do que comer.
Esclareceu que a fome era sua principal companhia diária e a noite as estrelas eram as únicas luzes que piscavam para ele sem o ameaçar. Rematou sua história ao dizer que um dia, ao atravessar uma rua movimentada, fora colhido por um ônibus, caindo em pesado sono após o impacto e de nada mais se lembrava, a não ser que acordara naquele educandário.
Em torno de todos nós caiu pesado silêncio e o pranto sereno era a manifestação mais eloquente entre os demais ouvintes. Finalizando seu comovente depoimento, disse Betinho:
– Tia Marta, não posso acreditar nesse Natal feito pelos homens. Jesus nele não está e como eu também dele não participa, já que Ele é o grande menino de rua, a recolher em cada esquina os pobres e desvalidos, os miseráveis e os esquecidos, os reconfortando ante a certeza de que haverá um grande Natal após a peregrinação pela Terra, já que em algum lugar do Céu deve haver um Natal sem exclusão de espécie alguma.
Após findar sua história, Betinho tinha lágrimas a descerem copiosas pelo rosto triste…Todos tínhamos.
Era véspera de Natal. (Marta – Página psicografada pelo médium Marcel Mariano em 04.11.2005, em Belo Horizonte/MG.).
Muita Paz!!!