Barroso cogita antecipar saída do STF em razão da ‘crise de civilidade’

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Ministro considera aposentadoria antecipada após deixar a presidência do Supremo e desabafa sobre degradação do ambiente institucional

Luís Roberto Barroso (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
247 – Desencantado com o atual estado da política global, o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), tem sinalizado a possibilidade de deixar a Corte antes do prazo da aposentadoria compulsória, prevista apenas para 2032. A informação foi divulgada pela CNN Brasil, com reportagem assinada por Luísa Martins, Isabel Mega e Gustavo Uribe.

Segundo interlocutores próximos, Barroso cogita anunciar sua saída após o fim de seu mandato na presidência do STF, em setembro deste ano. Embora ainda não tenha tomado uma decisão definitiva, a hipótese de aposentadoria antecipada é tratada com crescente seriedade nos bastidores. O ministro, de 67 anos, poderia permanecer na Corte até os 75, mas avalia que seu ciclo como magistrado pode estar chegando ao fim.

O principal motivo seria um sentimento de desalento diante do que descreve como uma “crise de civilidade” em escala global. Barroso considera que o ambiente institucional se tornou mais hostil e menos propício ao debate racional e construtivo, o que tem desgastado seu entusiasmo pela atuação pública. A tensão nas relações com os Estados Unidos também estaria pesando em sua reflexão.

Fontes relatam que Barroso teria sido um dos ministros brasileiros que tiveram seus vistos americanos cancelados no início do segundo mandato do presidente Donald Trump, em 2025. O republicano vê Barroso como um aliado próximo de Alexandre de Moraes, seu principal antagonista no Judiciário brasileiro. Diferentemente de Moraes, que minimizou os efeitos da medida, Barroso sentiu-se atingido pessoalmente, já que mantém vínculos acadêmicos com instituições como a Harvard Kennedy School, nos EUA, e costuma passar temporadas no país durante suas férias.

Além disso, Barroso tem refletido sobre seu futuro no STF após a presidência. Ele passará a integrar a Segunda Turma da Corte, ao lado dos ministros Edson Fachin, Dias Toffoli, Gilmar Mendes, André Mendonça e Nunes Marques — grupo com o qual mantém menos afinidade. Desde sua chegada ao Supremo, em 2013, Barroso atuou na Primeira Turma, onde construiu relações de maior proximidade.

A eventual saída de Barroso abriria uma nova vaga para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicar um nome ao STF ainda em seu atual mandato. Entre os cotados estão o atual advogado-geral da União, Jorge Messias, e a presidente do Superior Tribunal Militar (STM), ministra Maria Elizabeth Rocha. Ambos têm o respaldo de setores influentes do governo.

Mesmo sem uma decisão anunciada, a possível aposentadoria de Barroso já movimenta os bastidores do Judiciário e do Executivo. Caso opte por deixar a Corte, o ministro planeja se dedicar à vida acadêmica como professor e palestrante, mas também estaria aberto a uma eventual indicação diplomática. Para ele, o momento pede distanciamento e reflexão.

“Há momentos em que o recuo é a única forma digna de resistência”, teria confidenciado o ministro a pessoas próximas — uma frase que resume o espírito da escolha que se avizinha.

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