Banqueiro compara impeachment de Dilma com golpe militar de 64

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André Esteves, dono do BTG Pactual, diz que Bolsonaro é favorito para se reeleger desde que se cale

Fernando Frazão/Agência Brasil
O economista André Esteves, dono do banco BTG Pactual, perdeu uma boa oportunidade de ficar calado. Em compensação, proporcionou ao país a rara ocasião de conhecer o que pensa e como age o dono de uma grande fortuna.

Em conversa com um grupo de 30 investidores na última quinta-feira, dia em que o ministro Paulo Guedes, da Economia, quase caiu, ele gabou-se de ter sido procurado por Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, que queria ouvi-lo a respeito.

De fato, Lira quis saber se Esteves não topava substituir Guedes, e não topando, se não poderia indicar um nome. Esteves aparentemente não o fez. Guedes soube da trama e não gostou. Os investidores acharam graça da história.

A intenção de Esteves não foi fazer graça, mas revelar-se influente nos jogos do poder e aumentar seu prestígio. Por isso contou que certa vez Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, telefonou-lhe para se aconselhar sobre as taxas de juro.

Esteves lembrou à plateia que jogou um papel importante na decisão do Supremo Tribunal Federal favorável à independência do Banco Central. Conversou com alguns ministros para convencê-los. De algum modo, Campos Neto deve ser-lhe grato até hoje.

Se Lula se eleger presidente, observou Esteves, “vamos ter dois anos de Roberto Campos” na presidência do Banco Central, o que certamente será uma garantia de que Lula não poderá meter os pés pelas mãos. Mas, para ele, Bolsonaro é o favorito em 2022.

Se “ficar calado” e trouxer “tranquilidade institucional para o establishment empresarial”, derrotará Lula, segundo Esteves. Se Lula caminhar para o centro e limitar declarações incendiárias a temas como meio ambiente, então ele poderá vencer.

O banqueiro comparou o impeachment de Dilma ao golpe de 64: “Dia 31 de março de 64 não teve tiro, ninguém foi preso, as crianças foram pra escola, o mercado funcionou. Foi [como] o impeachment, com simbolismos e personagens da época”.

Não foi. Esteves nasceu em 1968, mas isso não justifica sua eventual ignorância sobre o que se passou. Se poucos tiros foram disparados em 31 de março, depois se torturou e matou centenas de pessoas. A liberdade foi cancelada por 21 anos.

Esteves sabe o que significa perder a liberdade. Acusado de obstruir investigações da Lava Jato, ficou preso entre novembro de 2015 e abril de 2016. Em julho de 2018, o juiz da 10ª Vara Federal do Distrito Federal absolveu-o por falta de provas. Por Ricardo Noblat/ Metrópoles