Baleada, queimada e descartada: a morte macabra da secretária da Apae

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A secretária-executiva da Apae Cláudia Regina da Rocha Lobo foi morta com tiro e teve o corpo queimado até se reduzir a fragmentos de ossos

Cinzas em terreno e destaque de rosto de mulher - Metrópoles

Cinzas em terreno e destaque de rosto de mulher – Metrópoles. Reprodução / Civil
São Paulo — A Polícia Civil esclareceu e divulgou, nessa segunda-feira (26/8), que Cláudia Regina da Rocha Lobo, secretária-executiva da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Bauru, interior paulista, foi assassinada.

O crime, primeiramente registrado como desaparecimento, contou com detalhes macabros e o envolvimento do presidente da entidade, Roberto Franceschetti Filho, que segue preso.
Tudo começou em 6 de agosto, quando Cláudia foi vista pela última vez com vida, saindo da Apae de Bauru, sem documentos, celular e levando um envelope.

Dia 6 de agosto
A família da secretária procura o plantão da Polícia Civil, onde informa o desaparecimento da parente. Ela havia sido vista guiando um carro GM Spin branco e, desde então, ninguém conseguiu mais falar com ela.

No dia seguinte, por volta das 11h, o carro que ela dirigia foi encontrado na Alameda Três Lagoas, no bairro Vila Dutra.

Dentro do veículo, policiais localizaram um estojo deflagrado de pistola, calibre 380, além de manchas de sangue humano no banco traseiro e no carpete, como confirmaram posteriormente laudos periciais.

Dia 8 de agosto
Roberto Fransceschetti Filho afirmou, em seu primeiro depoimento, que Cláudia havia solicitado “adiantamentos de ordem financeira”, com o argumento de que precisava ajudar um familiar preso e com dívidas.

Ele acrescentou que, uma semana antes de “desaparecer”, a secretária teria pedido R$ 40 mil, não entregues a ela, e que esta seria “a quarta ou quinta vez” em que a mulher pedia valores emprestados.

Em diligência, policiais da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Bauru encontraram R$ 10 mil em espécie na casa da filha da vítima.

Como mostrado pelo Metrópoles, o presidente e a secretária são investigados pelo suposto desvio de verbas da Apae, principal linha de investigação para a motivação do crime.

Dia 9 de agosto
Roberto se dispôs a dar detalhes à polícia sobre a rotina de Cláudia, encaminhando dados com o intuito de direcionar a investigação para um parente da vítima, preso por tráfico de drogas.

As informações, segundo relatório policial obtido pela reportagem, eram recebidas “com reservas”.

Na ocasião, Roberto afirmou não se lembrar “com precisão” sobre a quantidade de dinheiro e as datas em que os valores foram repassados para Cláudia.

Dia 13 de agosto
A coordenadoria financeira da Apae Bauru afirmou à polícia que os adiantamentos de valores eram responsabilidade de Roberto.

No notebook de Cláudia foram encontradas planilhas de contabilidade pessoal, incompatíveis com a renda da secretária, e com valores em aberto em relação a Roberto.

“Passamos a trabalhar com os fortes indicativos de rombo no caixa da entidade assistencial, má gestão e conflitos de interesse entre presidente e secretária executiva”, diz trecho de relatório policial.

Secretária assassinada e presidente teriam desviado dinheiro da Apae.

Dia 14 de agosto
Imagens de uma câmera de monitoramento são descobertas pela Polícia Civil. O vídeo desmente relatos anteriores de Roberto.

Nos registros, Cláudia desembarca do GM Spin e senta-se no banco traseiro do veículo, cujo volante é assumido pelo presidente da Apae.

O carro fica parado por cerca de três minutos, período durante o qual, de acordo com a polícia, a vítima foi assassinada, com o uso de uma pistola calibre 380.

Roberto leva o carro até o bairro Pousada da Esperança, região usada por um “homem de confiança” dele para queimar “papeladas” da entidade.

“No fim daquele dia já tínhamos todos elementos que indicavam a autoria do crime por parte do presidente da Apae”, diz documento oficial.

A prisão temporária de Roberto, de 30 dias, é decretada pela Justiça.

Dia 15 de agosto
Quando foi à Deic, acreditando que iria retirar do local o celular e notebook de Cláudia, Roberto foi preso.

Um mandado de busca e apreensão também foi cumprido no mesmo dia, na casa dele, onde uma pistola calibre 380 foi encontrada em um cofre.

Laudos de confronto balístico confirmaram que o estojo localizado no carro onde Cláudia foi vista pela última vez foi disparado pela arma de Roberto.

Em um primeiro depoimento, logo após sua prisão, Roberto chegou a indicar à polícia o local onde teria jogado o corpo de Cláudia, após admitir que havia incinerado o cadáver junto a “papéis e materiais inservíveis” em uma área rural no bairro Pousada da Esperança. Na ocasião, nada foi encontrado.

De acordo com a investigação da Deic, a geolocalização e a movimentação do celular de Roberto são compatíveis com o endereço da chácara onde foi encontrado o que sobrou do corpo da vítima: apenas fragmentos de ossos.

Dia 16 de agosto
Um funcionário do Setor de Frota e Compras da Apae, posteriormente indiciado por ocultação de cadáver, prestou um primeiro depoimento, no qual “apresentou várias contradições”.

Dia 19 de agosto
No quarto dia de prisão, já orientado por sua defesa, o presidente da Apae negou a autoria do crime. Ainda assim, a partir da primeira confissão, a polícia já tinha direcionado suas investigações sobre Roberto.

A prisão temporária do funcionário do setor de frotas da Apae, feita pela polícia, é negada pela Justiça.

Em novo interrogatório, o homem confessou ter incinerado o corpo de Cláudia, após Roberto supostamente ameaçá-lo e a sua família.

O Metrópoles apurou que o corpo da vítima foi queimado durante quatro dias. Após isso, o funcionário voltou ao local, rastelou o terreno e separou o que encontrou do corpo, reduzido a fragmentos de ossos — descartados em seguida em uma área de mata, a cerca de 20 metros de distância do buraco de onde foram retirados.

Polícia desvenda assassinato de secretária-executiva da Apae de Bauru

Dia 20 de agosto
Laudo pericial de confronto balístico confirma que arma de Roberto disparou munição deflagrada, cujo estojo foi encontrado no carro ocupado por ele e Cláudia.

Na tarde deste dia, peritos retornaram ao local onde o corpo de Cláudia foi queimado e encontraram os óculos dela e mais fragmentos de ossos.

Dia 22 de agosto
Policiais retornam à sede da Apae de Bauru, onde apreendem objetos e documentos “para o prosseguimento da investigação financeira”.

O caso atualmente também é investigado, com compartilhamento de provas, pelo Setor Especializado de Combate aos Crimes de Corrupção, Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro, da 1ª Delegacia de Investigações Gerais de Bauru. Por Alfredo Henrique / Metrópoles

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Secretária assassinada e presidente teriam desviado dinheiro da Apae

Secretária-executiva da Apae foi morta com um tiro e seu corpo foi queimado; principal suspeito pelo crime é o presidente da entidade

Reprodução/Redes sociais
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São Paulo  O desvio de dinheiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Bauru, interior paulista, é considerado, até o momento, a principal motivação para o assassinato da secretária-executiva da entidade, cujo corpo foi queimado até ser reduzido a fragmentos de ossos.

Cláudia Regina da Rocha Lobo, de 55 anos, foi morta em 6 de agosto, mesmo dia em que se encontrou com o presidente da entidade Roberto Franceschetti Filho, como mostram registros de uma câmera de monitoramento. Ele está preso, em cumprimento a um mandado de prisão temporária, e é considerado o principal suspeito pelo crime.

Ele e a vítima, de acordo com investigação da Polícia Civil, estariam envolvidos em um suposto esquema de desvio de recursos da Apae.

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Roberto Franceschetti Filho e Claudia Regina da Rocha Lobo

Roberto Franceschetti Filho, de 36 anos, e Claudia Regina da Rocha Lobo, de 55 anos
Veículo em que ela foi vista pela última vez foi encontrado
Polícia encontrou imagens em que Roberto é visto com Claudia no carro
Sangue humano e estojo de arma foram encontrados no carro

“A Cláudia estava envolvida. Objetivamente, em seu depoimento, o presidente afirmou que fazia a antecipação do pagamento de fornecedores, tirava o dinheiro a pedido dela, repassando [os valores] para a Cláudia, sob a alegação de que precisava cuidar [a secretária-executiva] de assuntos pessoais”, afirmou ao Metrópoles, na tarde desta segunda-feira (26/8), o delegado Cledson Nascimento, da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Bauru.

Em planilhas encontradas no notebook da secretária, apreendido durante as investigações, a Deic encontrou fortes indícios de que Cláudia recebia os valores desviados por Roberto.

“Adiantamentos”

O principal suspeito de matar a funcionária da Apae afirmou, em depoimento, que Cláudia pedia “adiantamentos de ordem financeira”, sob a alegação de que precisava ajudar um familiar preso e com dívidas. Ela já havia pedido “altos valores” emprestados, ainda de acordo com Roberto, ao menos quatro vezes.

Em diligências, com o intuito de coletar material genético, quando Cláudia ainda era considerada desaparecida, policiais apreenderam R$ 10 mil em dinheiro, deixados na casa da filha da secretária.

Além do valor, a polícia apreendeu o notebook no qual as planilhas foram localizadas, com a anotação do recebimento de valores “não condizentes com o salário dela”, disse ainda ao Metrópoles o delegado Cledson Nascimento. Isso, acrescentou, corrobora a versão dada por Roberto.

No relatório sobre o esclarecimento das circunstâncias do homicídio de Cláudia, a Deic destaca trabalhar com “fortes indicativos de rombo no caixa, má gestão e conflitos de interesse entre presidente e secretária-executiva”, como a principal motivação para o crime.

Um novo Inquérito Policial foi instaurado para investigar exclusivamente a dinâmica do desvio de recursos e como isso poderia ter resultado na morte de Cláudia.

Para isso, a polícia aguarda os resultados da quebra dos sigilos bancários e do conteúdo dos celulares de Cláudia e Roberto.

Em um primeiro momento, o presidente da Apae admitiu o crime, mas voltou atrás e atualmente nega.

Ocultação de cadáver

Para queimar o corpo de Cláudia, que teria sido morta com ao menos um tiro quando ficou sozinha com Roberto em um carro, o presidente da entidade foi ajudado por Dilomar Batista, que admitiu, em depoimento, ter queimado o corpo da vítima.

Dilomar foi indiciado pelo crime de ocultação de cadáver e responde ao caso em liberdade, após o pedido de sua prisão temporária, feito pela Deic, ser negado pela Justiça.

O assassinato

Cláudia Regina da Rocha Lobo foi assassinada a tiros e teve o corpo queimado em uma chácara, de acordo com investigações da Polícia Civil.

O delegado Cledson Nascimento já tratava informalmente o caso como homicídio, desde o desaparecimento da vítima, em 6 de agosto. As investigações confirmaram as suspeitas.

Numa reviravolta que chocou a cidade do noroeste paulista, o presidente da entidade, Roberto Franceschetti Filho, foi preso temporariamente, após um vídeo desmentir a primeira versão que ele deu à polícia, de que não teria estado com a vítima no dia em que ela foi vista pela última vez. A prisão dele ocorreu nove dias após o desaparecimento da funcionária.

Em um primeiro depoimento, logo após sua prisão, Roberto chegou a indicar o local onde teria jogado o corpo de Cláudia e onde ele foi queimado com “papéis e materiais inservíveis”, em um área rural no bairro Pousada da Esperança.

No quarto dia de sua prisão, orientado por sua defesa, o presidente da Apae negou a autoria do crime.

Fragmento de ossos

A geolocalização e movimentação do celular de Roberto, ainda conforme a investigação da Deic, condizem com a localização da chácara onde foi encontrado o que sobrou do corpo da vítima: somente fragmentos de ossos.

Como mostrado pelo Metrópoles, a munição deflagrada de uma pistola calibre 380, encontrada no carro conduzido pelo presidente da Apae de Bauru, foi disparada pela arma dele, conforme laudo pericial divulgado no último dia 20.

Em 6 de agosto, imagens de câmera de segurança flagraram a secretária-executiva deixando o prédio onde fica o escritório administrativo da entidade, com um envelope na mão, em direção a um carro Spin branco (veja abaixo) pertencente à Apae. Ela sai dirigindo o veículo. Esse foi o dia em que Cláudia foi vista pela última vez.

A funcionária deixou a Apae sozinha, sem os documentos e o aparelho celular, e teria dito a uma colega que sairia para resolver questões relacionadas ao trabalho. De acordo com o delegado Cledson Nascimento, provavelmente o telefone ficou lá para que Claudia não fosse rastreada.

“Nós conseguimos imagens em que verifica-se que ele [Roberto Franceschetti] também está no veículo com ela, em outro local. Provavelmente ela o pegou numa outra região da cidade”, afirmou.

A investigação indica que Cláudia teria sido morta a tiros quando foi para o banco traseiro do carro, conduzido por Roberto. Por Alfredo Henrique / Metrópoles

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