Auto-erotismo: um conceito necessário

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Por Maurício de Novais Reis*
Parte Final – A parte anterior deste artigo sustentou a teoria freudiana sobre a sexualidade infantil na qual Freud demonstra, mediante o conceito de auto-erotismo, a descoberta da sexualidade empreendida pelas crianças. Segundo Freud, as zonas erógenas são descobertas pelas crianças, que, passam a derivar prazer do toque nessas regiões corporais.
A primeira tópica freudiana não explica pormenorizadamente os processos que envolvem a sexualidade infantil, tampouco podem sustentar a importância da sexualidade no edifício teórico psicanalítico. Na primeira tópica, aspectos referentes ao auto-erotismo tornam-se simplesmente insolúveis, uma vez que as fundamentações acerca dos conteúdos conscientes, pré-conscientes e inconscientes não se relacionam detalhadamente com o desenvolvimento psicossexual das crianças. O tecido teórico-metodológico, no âmbito da primeira tópica, não esclarece porque o desenvolvimento psicossexual é tão importante, como Freud acreditava. Todavia, isso torna-se assimilável à medida que outros conceitos são trazidos à baila para explicar o auto-erotismo.
Para suprir a insuficiência das hipóteses sustentadas na primeira tópica, principalmente no tocante ao inconsciente, outros conceitos surgiram possibilitando repensar o auto-erotismo numa base mais epistemológica. Surge, portanto, a segunda tópica – Id, Ego e Superego – numa tentativa de explicar os fenômenos referentes à sexualidade infantil.
A segunda tópica aprofunda a discussão à medida que busca novos elementos para a reflexão psicanalítica. Desta forma, o id seria a fonte das pulsões, ou seja, a parte inconsciente da psique de onde brotam as pulsões do indivíduo. O id relaciona-se primordialmente com o princípio do prazer. O ego seria a parte do indivíduo que constitui o eu consciente e que se relaciona com o princípio da realidade. Essa parte do aparelho psíquico, não suportando a angústia gerada pelas representações mentais, recalcava-as no inconsciente. Por outro lado, o superego constitui-se enquanto “voz que vem de fora”, isto é, o superego funciona como instância de julgamento das ações do indivíduo.
Podemos exemplificar o funcionamento do superego da seguinte forma: uma criança está tocando a genitália. O pai, figura responsável pela interdição do indivíduo no que se refere a seu desejo (complexo de Édipo), dá-lhe uma reprimenda, dizendo: “pare com isso. Que coisa feia!” Assim, o superego transformará a voz paterna numa lei, a saber: “não devo tocar na minha genitália. Isso desagrada o papai”. Doravante, as sensações e pensamentos que lembrarem à criança daquela reprimenda, sempre que surgirem, serão recalcadas pelo ego para o inconsciente.
Embora a atividade auto-erótica muitas vezes necessita do contato com a parte erógena ou outra parte do corpo (masturbação, sucção do dedo etc), refere-se primariamente ao prazer de órgão, isto é, à excitação sexual que nasce e se apazigua na própria zona erógena isolada.
Para aprofundar acerca da sexualidade infantil, tornar-se-ia necessário investigarmos as fases do desenvolvimento psicossexual. Mas isso fica para outra oportunidade.
*Mauricio de Novais Reis é Graduado em Pedagogia, Graduado em Filosofia, Especialista em Teoria Psicanalítica, Professor no Colégio Estadual Democrático Ruy Barbosa e Coordenador Pedagógico na Escola M. Prof. Sheneider Cordeiro Correia. Contatos: (73) 99928-0460 | (73) 98885-3463.