Auto-erotismo: um conceito necessário

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Por Maurício de Novais Reis*
Parte I – A psicanálise nasce da descoberta, realizada por Freud, do inconsciente. Para Freud, o inconsciente oculta um conjunto de saberes que o próprio indivíduo desconhece, ou seja, sua consciência desconhece, embora esses saberes permaneçam guardados, como que a sete chaves, no recalque do inconsciente. Todavia, simplesmente argumentar que existe uma instância do aparelho psíquico na qual memórias podem ficar recalcadas, distantes da parte consciente do aparelho psíquico do indivíduo não explica as razões pelas quais essas memórias foram recalcadas. Aliás, não somente isso. As memórias recalcadas manifestam-se, vez por outra, em atos falhos, lapsos de memória e de linguagem e em sonhos.
Desta maneira, não bastaria tirar da cartola o conceito de inconsciente que tudo estaria resolvido. Pelo contrário, o inconsciente suscita mais perguntas do que respostas. Para explicar o funcionamento do aparelho psíquico, Freud necessitou trazer à tona novos conceitos, os quais tornaram sua teoria ainda mais dinâmica e complexa. Dentre os conceitos trazidos encontram-se aqueles que integram a primeira tópica, a saber, consciente, pré-consciente e inconsciente.
A estruturação do aparelho psíquico numa tópica não resolve o problema teórico-metodológico da ruptura tripartida entre três instâncias que, não sendo propriamente anátomo-fisiológicas, disputam o poder sobre as memórias e despertam sentimentos, emoções, desejos. A disputa não explica a existência do inconsciente, tampouco a complexidade dos desejos humanos. Surge, desta forma, a insistência de Freud na sexualidade, especialmente na importância da sexualidade infantil para o desenvolvimento dos indivíduos.
A teoria da sexualidade infantil, à época em que foi formulada, chocou sobremaneira a sociedade vienense. As pessoas daquele período histórico, dentro do contexto em que viviam, consideravam impossível e até mesmo grotesco considerar a existência de sexualidade em crianças.
Para explicar o desenvolvimento psicossexual das crianças, Freud buscou o conceito de auto-erotismo, proposto anteriormente por Havelock Ellis, para designar o comportamento sexual típico no qual a criança encontra satisfação unicamente com seu próprio corpo, sem recorrer a objetos externos. Entretanto, ficou demonstrado, após investigações mais detalhadas acerca do conceito, que, embora o auto-erotismo seja uma prática típica do período da infância, muitos indivíduos na idade adulta persistem utilizando-se unicamente dos seus corpos para a obtenção do prazer. Neste sentido o investimento libidinal encontra-se ligado ao objeto narcísico que estrutura o sujeito.
Em Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade, referindo-se à sexualidade infantil, Freud enquadra o auto-erotismo como ponto de encontro que define uma relação existente entre a pulsão com o seu objeto, elucidando que a pulsão, na sexualidade infantil, não é dirigida a outras pessoas, mas satisfaz-se no próprio corpo. Continua.
*Mauricio de Novais Reis é Graduado em Pedagogia, Graduado em Filosofia, Especialista em Teoria Psicanalítica, Professor no Colégio Estadual Democrático Ruy Barbosa e Coordenador Pedagógico na Escola M. Prof. Sheneider Cordeiro Correia. Contatos: (73) 99928-0460 | (73) 98885-3463.