As núpcias

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Hoje irei relembrar as notas sociais ao estilo de Jacinto de Thormes e Ibrahim Sued. Ontem, 22 de setembro, fomos ao pomposo Casamento de João Paulo e Aline, médicos e filhos de famílias ilustres de Itanhem, que mais uma vez volta a brilhar no cenário do extremo sul da Bahia, mantendo o nome de Princesinha do Extremo Sul, obra do saudoso Dr. Alberto Costa Dumas, Promotor de Justiça, como sempre a saudava da Tribuna dos inúmeros Júris que fizemos, depois de sua emancipação jurídica em 1967. No Cenarium Eventos, toda a patuléia de Itanhem, não só prestigiou o evento, como superlotou todo o espaço, com muitos em pé, por falta de lugares. A cerimônia começou com a abertura de um toque de trombeta, muito bem executado, lembrando as festas reais da Europa, com todos muito bem engalanados. Ao fundo um trio musical composto de um Contra Baixo, um Violoncelo e um Violino, executando músicas de apurado e fino bom gosto. Depois um grupo musical popular. O salão estava decorado excelentemente e com bufê de primeira qualidade. A cerimônia teve início com dois sermões, muito parecidos com os do Padre Vieira, longos, porém sem o conteúdo do mesmo. Longe do ensinamento de Horácio: (esto brevis et placebis – seja breve e  agradarás). Falar dos noivos seria cometer redundância, pleonasmo. Pois ambos os dois (alô Prof. João Carlos, Ruy Barbosa já os usava), estavam atraentes, belos, dignos da festa real  que patrocinaram. Itanhem sempre esteve na dianteira das demais cidades da região, excluindo a vetusta Caravelas, que teve a honra de receber o exurpador Américo Vespúcio, em 1503. Apesar de jovem tem história registrada. Certa feita, numa audiência na Policia Federal, em Porto Seguro, acompanhando Temóteo Brito, enquanto aguardava, perguntei ao chefe do setor de expedição de passaportes como estava o seu andamento. Respondeu que Itanhem somente perdia em quantidade de expedição do documento para Governador Valadares. Itanhem, quando meu pai, Sady Teixeira, foi seu primeiro prefeito em 1958, tinha 41.000 habitantes, hoje reduzidos para 21.000.  Todos os demais se encontram dispersados pelos mais de duzentos países. Na mesa em que nos encontrávamos, ao lado de Dilermando e sua bonita D. Maria Luiza, Joaquim Tavares, Enéas, outro casal simpático, além de Neinha, fui abordado por D. Maria Luiza, que o estridente som quase não permitiu ouvir com clareza, a sua estranheza de em Itanhem sair tantos médicos e dentistas. É que ela, Itanhem, optou pelas primícias da educação, das letras, ao contrário do Brasil. Escola sempre prevaleceu em primeiro lugar. Não só de médicos e dentistas é o número grande. Advogados, então, não se conta, iniciados por mim, o primeiro universitário a colar grau. Somente em meus parentes, são mais de onze, sendo que em minha casa, duas filhas, uma das quais é Promotora de Justiça, um filho, um neto e minha esposa chegando lá, uma filha abandonou o curso, além de outra arquiteta e poliglota. Assim, D. Maria Luiza, não se admire de Itanhem ter sua inspiração em Anísio Teixeira para criar a Escola Parque, onde a mãe do noivo, Maudemara, estudou em Salvador, precursora dos CIEPS de Darcy Ribeiro. Depois de Caravelas, que a pátina do tempo não foi suficiente para ofuscar a primasia de Itanhem ser a primeira cidade, por aqui, a ter uma biblioteca pública, com funcionários especiais para orientar e emprestar livros. A cidade ainda tinha a do Colégio São Bernardo, cujo nome D. Eugênia Viana Rodrigues sugeriu para meu pai. Nela se encontravam obras valorosas, de diversos autores brasileiros e estrangeiros, inclusive todos os Sermões do Padre Vieira, em mais de 50 volumes. Não se espante D. Maria Luzia, os filhos de Itanhem, além de aplicados, são bem dotados e orientados para o saber. Seus filhos, como acima mencionado, encontram-se em todos os lugares, os mais destacados, juízes, promotores, médicos, doutores, sim, DOUTORES, com doutorado concluído. Não importa a origem humilde de seus pais, os filhos procuraram o saber, como recomendou Castro Alves. Antigamente se dizia que Itanhem gostava de ver estrago, numa alusão à sua disposição para enfrentar adversidades como aquela quando tentaram assaltar a Prefeitura, em 1964, como fizeram com Medeiros Neto, expulsando o titular Maron, e a população revoltada pegou em armas e enfrentou o Cel. Hildegardes, em defesa do Prefeito João Farias Pires, com homens destemidos iguais a Daniel Teixeira Neto, José Vital, Ponciano Souto, Benedito Guedes, e tantos outros, até o pequenino e grande Mosquito, – Joaquim Basílio dos Reis – irmanados pelas mulheres: resistiram. O estrago de Itanhem sempre foi outro: o amor pelo estudo, pela cultura, pelo respeito ao direito alheio, à democracia. Por isso Itanhem é grande e tem seus filhos espalhados, mandando rendimentos para os seus parentes, como registrou Oseas, meu irmão, quando prefeito. Viva Itanhem. Peço licença para um registro sentimental. Porém seis décadas, com mais um ano, são passados, daquele fatídico 23 de setembro de 1961, um domingo igual ao de hoje, quando Maria Moreira Lisboa, minha mãe, nos deixou eternamente. Saudades ficam registradas. Faria 100 anos. Teixeira de Freitas, 23 de setembro de 2012. *Ary Moreira Lisboa é advogado e escritor.