Aracaju – Sergipe II

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ARACAJU lembra os frascos de perfumes: quanto menores mais valiosos. Assim é a pequena capital. Quanto menor mais brilhante e valorosa. Talvez se tornasse matéria para estudo ou mesmo um ensaio de algum antropólogo enxerido. O historiador nordestino Bráulio Tavares, estudioso e divulgador dos cantadores e improvisadores desta região, ao enaltecer o poder criativo e de improvisação dos considerados os maiores cantadores, os situa em algumas cidades do interior da Paraíba, entre outras, Monteiro, São José do Egito, Triunfo, teorizando científica e hiberbolicamente, que provavelmente um espaço nave surgiu no local conduzindo extraterrestres que só se comunicavam de improviso e rimado. Depois de algum tempo começaram a se acasalar com os locais, surgindo daí a capacidade de improvisação dos cantadores. Parodiando o professor, ouso dizer que, ao que parece, o escritor Arthur de Gobineau, defensor do “racismo científico”, tinha razão em defender a introdução de “altas doses de sangue europeu para fortalecer a população lamentavelmente escura do Brasil”. Parece que Aracaju foi visitada por uma nave especial repleta de pessoas nórdicas, oriundas da Finlândia, Suécia e demais locais do Báldico, ou adjacências, tendo se acasalado com as nativas, depois de espargirem líquido alvo, branco, clareando, assim, as “populações escuras” de Aracaju, pois a cidade é eminentemente composta de população “branca”. “A população escura”, de Gobineau, aguardará ainda algum tempo para clarear em Aracaju. Mas não é de suma importância tal singularidade. Não. Tem mais. Samuel Wainer, jornalista, logo após o final da Guerra, foi com sua esposa Bluma Wainer, passar alguns dias em Berna, na Suíça. De onde mandou dizer que “em Berna é diariamente domingo”, simbolizando o marasmo, a quietude, a falta de atração, de movimento da cidade fria, gelada. Aracaju é o oposto. Ali domingo não se conta tudo é movimento, tudo é alegria, trabalho, com padrão de vida bem alto. Muita diversão. As praias são bem tratadas, cuidadas, com alta exposição de suas belezas, com uma quantidade exuberante de restaurantes, barracas de praias, com acesso facilitado, estacionamentos confortáveis. Os locais são ponto de atração turística com estátuas de seus filhos mais famosos, como Silvio Romero e Tobias Barreto, além de outros nacionalmente conhecidos, Getúlio Vargas, Tiradentes, Princesa Izabel, José Bonifácio. Ao pousar para uma foto em um desses vultos, inadvertidamente, deixei cair a bolsinha com documentos e cartões. Ao levantar-me, depois de alguns passos, fui surpreendido com o chamado de alguém que exibindo a carteirinha a devolvia. Fiquei surpreso. Não era de se esperar um acontecimento de tal jaez. Impressiona a limpeza da cidade, suas largas avenidas com pistas duplas, asfalto de primeira. As pessoas são por demais hospitaleiras, cordatas, servidoras, sem serem serviçais. Quem vive mais ao sul, como os baianos, sabem da capacidade de trabalho da qual é o sergipano possuidor, apesar da falta da “população escura”, tão presente em nosso cotidiano. Ali as mulheres com “sangue europeu” impregnado de algumas gotas de judeus, ajudam a cidade a desenvolver-se, com empreendimentos grandiosos. No pouco espaço de tempo de conivência constatei, sem surpresa, como elas se comportam. Deve-se destacar a presença marcante de D. Rebeca Schuster, cujo nome foi da Bíblia tomado emprestado, com duplo significado, pois seu pai também se chamava Izaak, como o marido da Rebeca original. Ela não parou de trabalhar, nem mesmo depois de um traumatológico acidente que lhe atingiu o joelho esquerdo, foi suficiente para tirar-lhe a disposição de percorrer as suas inúmeras construções. É um exemplo do comportamento de um povo que milenarmente vem sofrendo preconceito, perseguição as mais vis e inverossímeis. Aracaju é hoje habitada por pessoas de poder aquisitivo muito alto como se nota pelas belas casas, pelos carros, pelos edifícios que procurando imitar a Torre de Babel se voltam para o alto tentando atingir o céu. Esta é a cidade que encontrei bastante mudada, diversificada, de tempos passados. Grande pequena Aracaju. Aracaju, 01 de abril de 2012. *Ary Moreira Lisboa é advogado e escritor.

1 COMENTÁRIO

  1. Parabéns Dr. Ary. O seu artigo retrata com fidelidade a aprazível Cidade de Aracajú. Sou filho de sergipano, com muitos parentes por lá, inclusive a minha mãe, soteropolitana, e que viveu muito tempo em Salvador, adotou Aracajú mcomo sua morada. Seria muito bom se os nossos pré-candidatos a Prefeito de Teixeira de Freitas visitassem Aracajú para colher muitas experiências de sucesso por lá, a exemplo das ciclovias, calçadões, iluminação, praças, limpeza pública, etc, etc. Felicitações.

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