Presidente do Senado acusa deputado licenciado de atuar em Washington para enfraquecer instituições brasileiras e ironiza slogan do governo Lula
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), resolveu romper o silêncio e direcionou duras críticas a Eduardo Bolsonaro (PL-SP), deputado federal licenciado e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro. De Washington, Eduardo vem se aproximando de Donald Trump e instigando medidas de retaliação contra o Brasil, em um movimento que Alcolumbre classificou como uma agressão direta aos interesses nacionais.
“Não dá pra eu ver todos os dias um deputado federal do Brasil, eleito pelo povo de São Paulo, lá nos Estados Unidos, instigando um país contra o meu país. Nunca falei sobre isso, mas agora tá na hora de começar a falar também. Não dá, com todo respeito, pra eu aceitar todas essas agressões calado”, afirmou o senador.
A declaração tem peso não apenas pelo cargo de Alcolumbre, mas porque escancara uma contradição grave: enquanto o governo Lula tenta sustentar o discurso de soberania sob o slogan “O Brasil é dos brasileiros”, parte da oposição busca respaldo em governos estrangeiros para pressionar instituições nacionais.
O jogo de Eduardo Bolsonaro
Eduardo nunca escondeu sua proximidade com Trump e a extrema-direita americana. Mas a diferença agora é de contexto: com o Brasil enfrentando sanções e tarifas impostas pelos EUA, o gesto político deixa de ser mero alinhamento ideológico para se transformar em um ato de desgaste deliberado.
Na prática, o deputado busca projetar-se como herdeiro político do pai, ainda mais após a condenação de Jair Bolsonaro no STF. Ao reforçar a aliança com Trump, Eduardo tenta manter viva a narrativa de que só a extrema-direita pode “salvar o Brasil” — mesmo que, para isso, seja necessário trabalhar contra a economia nacional e desgastar o Parlamento e o Judiciário.
O incômodo de Alcolumbre
As falas de Alcolumbre também revelam algo além da indignação. Nos bastidores, o senador do Amapá sempre se posicionou como articulador de diálogo, mas vem sofrendo pressão para se firmar como contraponto às investidas bolsonaristas contra o Congresso. Sua declaração é, portanto, tanto uma resposta direta a Eduardo quanto um recado ao Planalto: o Senado não ficará em silêncio enquanto deputados tentam usar a política externa como palanque eleitoral.
Ao ironizar o slogan do governo Lula, Alcolumbre expôs outra fragilidade: de que adianta reafirmar que “o Brasil é dos brasileiros” se, internamente, políticos brasileiros atuam para que Washington imponha novas sanções ao país?
Uma política externa sitiada
O episódio mostra que o Brasil não enfrenta apenas um problema de imagem internacional, mas também uma disputa interna que corrói sua soberania. Eduardo Bolsonaro opera como “embaixador informal da desestabilização”, minando a credibilidade nacional em nome de um projeto político familiar.
Se o governo Lula não encontrar meios de blindar sua política externa dessas sabotagens, a narrativa nacionalista perde força e abre espaço para que o discurso oposicionista ganhe eco, especialmente em um eleitorado já polarizado e desconfiado das instituições. Por Alan.Alex / Painel Político